Tópicos da Educação Voltados à Questão Ambiental
(Pinheiro; L. A. F. V.)
As correntes distintas de atuação dentro da “ecologia” são resultados de processos históricos e influências de diversos movimentos sociais. Cada corrente está, portanto, inserida num contexto histórico, social, econômico distinto. Sem o conhecimento destes contextos a análise dos conceitos e objetivos das correntes fica limitada, pricipalmente quando esta se da de maneira comparativa (Mccormick, 1992).
O que os autores classificam de ecologia natural, podertia ser denominado simplismente de ecologia, cujo problema de pesquisa é a compreensão das dinâmicas e processos que ocorrem na biosfera. Esta não apresenta vínculos com a problemática social, como os outras três citadas no texto. Logo a comparação desta com as demais se torna extremamente arbitrária. A ecologia não é uma corrente que se dedica a resolução ou problematização das questòes ambientais e sim um campo das ciências biológicas que não se presta ao deliniamento de objetivos educacionais. Sua contribuição educacional reside na melhoria na compreensão dos processos e dinâmicas ambientais/naturais, o que aproxima o homam do ambiente que o cerca.
O conservacionismo, ou conservacionismo dos recursos naturais criado por Gifford Pinchot (Eng. Florestal alemão) pregava o uso racional dos recursos naturais e se colocava contra os desenvolvimentistas. Esta corrente foi amplamente aceita e se tornou uma das precursoras do desenvolvimento sustentável. Seu enfoque esta na idéia de se beneficiar a maioria (incluindo as gerações futuras) através da redução de dejetos e da produção máxima sustentável. Neste enfoque reside o conceito de conservação da natureza (entenda-se recursos naturais) citado no texto. A preservação da natureza citada adiante não faz parte dos conceitos apregoados pelos concervacionistas, mas sim pelo movimento que pode ser considerado a sua antítese, o Preservacionismo. O Preservacionismo é uma corrente de reverência à natureza e proteção contra o desenvolvimento moderno. Um dos seus expoentes é John Muir cujos conflitos com Gifford Pinchot são exemplos clássicos das diferenças entre a conservação dos recursos naturais e a preservação da natureza (Diegues, 1994). Os conceitos introduzidos pelos conservacionistas se encontra hoje amplamente difundido e assimilado nas novas correntes que atuam na questão ambiental e escolas atuais de pensamento ecológico na qual se insere a ecologia social. O conservacionismo e o preservacionismo podem ser considerados movimentos teórico-práticos com idéias diametralmente opostas no que se refere a conservação da natureza. No entanto, dada a defasagem brasileira em relação à discussão ambiental, observa-se uma convivência destas correntes nas organizações governamentais e instituições de ensino em geral (Sikris, 1992 e Diegues, 1994). Os conceitos e princípios do conservacionismo se mostram extremamente valiosos no deliniamento dos objetivos educacionais ligados a questão ambiental, conceitos estes que embasaram muitas das novas escolas de pensamento ecológico, bem como o novo ecologismo em si.
A ecologia social criada em 1964 por Murray Bookchin relaciona os problemas ambientais com o modelo de acumulação de renda capitalista. Para os ecologistas sociais os seres humanos não são uma espécie diferenciada, mas constituida por grupos diferentes (ricos e pobres, brancos e negros etc.) resultado das hierarquias da sociedade moderna, a quais criticam. A incorporação nos discursos ambientalistas das populações tradicionais (denominadas comunidades primitivas) como sociedades cuja estrutura de sobrevivência são muito mais harmoniozas com a natureza e a conservação dos recursos naturais. Boockchin transcende a questão ambiental analisa estas comunidades primitivas como modelos para uma nova sociedade com “ecocomunidades específicas a seu ecossistema com um sentido ativo de participação no ambiente total e nos ciclos da natureza”. Ao contrário do que sugere o texto o enfoque da ecologia social não é a ação humana incidindo destrutivamente sobre a natureza, mas o modelo de desenvolvimento capitalista e a sociedade moderna hierarquizada como responsáveis pela devastação do planeta. Discussões sobre o modelo de desenvolvimento e a estrutra social relacionadas ou não à questão ambiental são fundamentais para a formação de indivíduos criticos e conscientes. A aceitação das populações tradicionais como eficientes praticantes do conservacionismo descrito anteriormente (independente destas serem modelos para uma nova sociedade) insere a questão ambiental num contexto sócio-econômico e até comportamental. A problematização sugerida pela ecologia social permite a formação de cidadãos conscientes.
Podemos contudo, afirmar que o movimento conservacionista e a ecologia social também visavam transformações sociais e se calçavam em princípios ecológicos para discutir a maneira dos homens de se relacionarem entre si e com a natureza. Uma analise comparativa entre o campo das ciências biológicas (ecologia), uma escola de pensamento ecológico (ecologia social), um movimento ecologico (conservacionismo) cujo o ápice esteve na Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972) e “um projeto político de transformação social” (ecologismo) visando identificar prioridades no deliniamento dos objetivos educacionais não me parece cabível.
O deliniamento dos objetivos educacionais voltados a formação de individuos conscientes (ecológicamente inclusive) não necessita e nem deve estar ligada a uma corrente ambientalista. Esta formação deve se apoiar em princípios, conceitos e paradigmas que transcendem qualquer corrente ou movimento ecológico. Esta fundamentação informativa, rigoroza, precisa, e pirncipalmente desvinculada se faz essencial, para uma sociedade tão intoxicada por mensagens verdes (Sirkis, 1992). O indivíduo crítico e fundamentado pode finalmente decifrar estas mensagens, compreender estes movimentos e correntes e finalmente julga-las quanto a procedência e coerência.
Diegues, A.C.1994. O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo. NUPAUB/USP.
Mc Cormick, J..1992. Rumo ao Paraíso. Rio de Janeiro, Ed. Relume-Dumará
Sikris, A.. 1992 Enquanto isso na terra do pau-brasil.... in Rumo ao Paraíso. Rio de Janeiro, Ed. Relume-Dumará.
Wisnick, J. M. 1996 Visões apocalipticas e Novas Utopias.
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