O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha
(Miguel de Cervantes)
A pretenção era uma sátira aos romances de cavalaria, sempre com o mesmo enredo, medíocres no conteúdo. Mas tornou-se um libelo ao herói sonhador, imaginário, louco. Um romance que inventou o romance atual. O protagonista, Quixano, leitor compulsivo, de tanto ler passou a vivenciar as histórias. Considerava-se cavaleiro. Como tal, seu nome não era suficientemente sonoro, pomposo, como Amadis, Galaor e Cid, principais cavaleiros dos romances que lia. Então, decidiu que se chamaria Quixote. Dom Quixote. Dom Quixote de la Mancha. Evocou Alexandre Magno, com seu cavalo Bucéfalo, e nomeou o seu Rocinante, pois era um rocim antes. Era preciso uma amada. A horrenda camponesa Aldonça Lourenço passou a ser uma bela princesa, Dulcinéia, sua amada. Seu escudeiro passou a ser Sancho Pança, fiel amigo. Juntos, viajaram, percorreram inúmeras localidades, lutando contra inimigos existentes na mente de Dom Quixote. Uma estalagem em ruínas transformava-se em castelo; bandidos presos, em escravos maltratados; moinhos de vento, em gigantes. Ao final da jornada, agonizante, sereno, Dom Quixote, acreditando-se nobre, morreu. Em vida, encarnou tudo o que havia de puro na fase heróica da cavalaria, antes que fosse desvirtuada pelos maus romances. E fora profundamente bom, com uma simplicidade quase infantil, pois enxergava as coisas ao seu redor de maneira diferente. Morreu calmo. Partiu para outra jornada heróica.
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