Mortalidade materna e outras faltas de cuidado
(Andreia Sanches no jornal Público)
Nos últimos 20 anos, a mortalidade materna não diminuiu no mundo. Este é um facto preocupante que denota a falta de empenhamento da humanidade em termos de saúde pública, principalmente em relação às mulheres. Thoraya Obaid é a directora executiva do Fundo das Nações Unidas para a População. Numa entrevista ao jornal Público, em Portugal, constata que os problemas das mulheres não só não têm diminuído como, em alguns países, têm até aumentado. Comemoram-se os 20 anos sobre o lançamento da Iniciativa para uma Maternidade sem Riscos, protagonizada pelas Nações Unidas, pelo Banco Mundial e por outras instituições internacionais. É afinal um triste aniversário, indigno de celebração, uma vez que, ao longo das duas últimas décadas, não se tem tido, de uma forma geral, qualquer cuidado nem se têm tomado as medidas necessárias de forma a combater os problemas afectos às mulheres. Em cada minuto que passa morre mais uma mulher devido a complicações na gravidez ou no parto. No entanto, isto não tem sido encarado como uma urgência. Os números variam, às vezes de forma descomunal, de país para país. Se em Portugal morre uma mulher em cada cem mil partos, em Angola morrem 1700 mulheres. Nalguns países a situação das mulheres piorou nos últimos anos por causa da propagação do HIV, que também afecta as mães. Há notória falta de meios humanos e físicos nos países pobres para o combate a este problema. Não há profissionais de saúde suficientes e grande parte dos médicos e enfermeiros especializados são recrutados pelos países que investiram na sua formação. É necessário estabelecer acordos que permitam fixar pessoal especializado nos países onde os problemas são prementes. É necessário investir mais e canalizar mais verbas para ajuda directa aos países mais necessitados de ajuda. Diz Thoraya Obaid que o Reino Unido já assinou acordos com o Malawi neste sentido. Muito mais pode e deve ser feito. O tráfico de mulheres é outro problema que afecta entre 600 e 800 mil mulheres por ano. O fim do tráfico é, nomeadamente, a exploração sexual e o casamento forçado. Aqui não se trata de um problema específico dos países pobres, embora esteja relacionado também com a pobreza. É um problema dos países em desenvolvimento e desenvolvidos. É um problema essencialmente relacionado com a procura. O número de mulheres traficadas aumenta à medida que aumenta o número de homens que as procuram. Esta situação do tráfico de mulheres não está a ser atacada porque quem faz as leis são os homens. É uma questão de mentalidade. É uma questão de desenvolvimento humano, masculino. Para combater o tráfico de mulheres é preciso mudar as leis e lidar com a questão da procura. Segundo Thoraya Obaid, a Suécia é o único país do mundo onde um homem que procura uma prostituta ou que negoceia com uma mulher vítima de tráfico é punido por lei. A questão não é só termos mais mulheres em patamares de decisão nos governos e nos tribunais. A questão é de desenvolvimento humano, de crescimento intelectual e moral. Thoraya Obaid esteve recentemente em Portugal para assinar um protocolo com o governo para projectos em países africanos de língua portuguesa e em Timor-Leste.
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