Deus onde estás
(Carlos Mesters)
Quando o papa João Paulo II reconheceu, em 1998, que a teoria evolucionista de Charles Darwin era mais do que uma hipótese, ficou uma pergunta no ar: e o pecado original, como fica? Se não existiu Adão, o primeiro homem, a quem atribuir a culpa ancestral que carregamos? Existiram as delícias do Paraíso Terrestre? Não é tudo um mito? Invenção da Igreja? Mundo ideal projetado no futuro como compensação do sofrimento presente? Pois o Padre Carlos Mesters, trinta anos antes, já nos dava a resposta. No curso bíblico em sua Paróquia do Carmo de Belo Horizonte, orientando as pessoas simples que o ouviam, depois reunindo essas orientações no livro “Deus onde estás?” (Editora Vozes, 13ª edição, Petrópolis, 2003), o Padre Carlos Mesters dá a resposta a essas perguntas e a muitas outras, mostrando-nos com simplicidade – sem a pobreza de qualquer intelectualismo – onde Deus está: na nossa vida, como sempre esteve presente na vida do povo de Deus, na Bíblia. Chamou-me a atenção a imagem da Bíblia como álbum de fotografias. Cansei de ver acusações contra a Sagrada Escritura, como se fosse uma obra cheia de crimes, sacanagens, perversões. Conheci ateus que, considerando-se intelectuais, liam a Bíblia à procura de comportamentos imorais, com que se deliciavam. Era como se dissessem: “Então isto é a palavra de Deus?” Sim, isso é a presença de Deus entre os homens, que erram, renegam a Deus, que não os renega. Como no álbum de fotografias em que está registrado tudo que acontece na vida de uma família, tudo que é importante, ou às vezes o que nem é importante, todos os parentes, os antepassados, amigos, conhecidos, às vezes inimigos, lembranças boas e outras péssimas, acertos e erros da vida. A Sagrada Escritura registra tudo que acontece na história do povo de Deus, ações sublimes e ações muito baixas, que envergonham. Também registra que Deus nunca abandonou o seu povo. Não gostei do título do livro, “Deus onde estás?” Pareceu-me de mau gosto. Ou que deveria ser mais específico, dizendo de imediato que a obra é uma interpretação da Bíblia. Certamente implicância minha. Carlos Mesters está conduzindo-nos ao encontro de Deus. Responde à nossa inquietação, que queremos encontrar Deus e não o vemos. Dizem que a Bíblia é a palavra de Deus, mas vamos ler e vemos fatos antigos, antiqüíssimos, que não nos dizem respeito. Carlos Mesters mostra-nos que esses fatos têm tudo a ver conosco. Ensina-nos que devemos ler a Bíblia não como um repositório de fatos do passado, mas como uma radiografia onde encontramos Deus presente na nossa vida de hoje. A Bíblia não diz como foi e que forma tinha o pecado original, ensina-nos que a raiz do mal estaria na religião falsa dos cananeus, diz Carlos Mesters, ensinando-nos que devemos buscar a origem do mal no mundo de hoje, para combatê-lo. Não quer demonstrar como o mal entrou no mundo, mas oferecer uma estratégia para fazê-lo sair. A graça de Jesus Cristo é essa resposta. Tem razão Carlos Mesters: nós perguntamos onde está Deus e a Bíblia nos dá a resposta. Ele não faz apenas uma interpretação da Bíblia: ensina-nos a ouvir e seguir a palavra de Deus. Por que somos tão dependentes de milagres, para crermos? Vencidos pela fraqueza humana, somos como São Tomé. Pois é interessante como Carlos Mesters nos mostra que, no “Êxodo”, as pragas ou a travessia do Mar Vermelho poderiam ser explicadas como fenômenos naturais. Por trás está a presença de Deus, mas poderiam ser fenômenos naturais. Por que foi preciso ficar quarenta anos vagueando no deserto? Para se formar o povo de Deus. Para que aqueles hebreus todos tomassem consciência de que eram o povo de Deus. O deserto curte a pele e a alma dos homens. Mesmo Abraão pode não ter tomado consciência assim, de súbito, de Deus. O sentimento de filiação divina pode ter-se sedimentado aos poucos. Esse é o milagre. Ninguém jamais viu a Deus, lemos em João 1,18. Como numa radiografia, vemos o que não é visível. Se fossevisível, não precisaríamos crer. “Credo ut intelligere”: creio para entender, diz Santo Agostinho. Não é preciso ver para crer, mas vemos, se cremos. Santa Teresa de Jesus diz que, quando Deus quer, mesmo que não queiramos, nós vemos.
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