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O sentimento da natureza em Kant, na Crítica da Faculdade de Julgar - V
(Kant)

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A paisagem. “Rochedos audazes e proeminentes, por assim dizer ameaçadores, nuvens de trovões acumulando-se no céu, avançando com relâmpagos e estampidos, vulcões na sua inteira força destruidora, furacões deixando para trás devastação, o ilimitado oceano revolto, uma alta queda d’água de um rio poderoso, etc.”
Ao fincar o primado da natureza sobre a arte, a razão estética debruça-se privilegiadamente sobre a paisagem natural. Eis a paisagem que desperta em nós o juízo estético da sublimidade (no excerto acima citado). Mas a paisagem, enquanto porção de natureza (tal como a definem os dicionários), poderá ser observada a partir da descoberta de um objecto singular: “(…) uma flor, por exemplo uma tulipa, é tida por bela, porque na sua percepção é encontrada uma certa conformidade a fins, que do modo como a ajuizamos não é referida a absolutamente nenhum fim”.
Uma paisagem pode ainda ser uma composição da natureza que interpela não apenas a visão, mas outros sentidos do nosso olhar: “Assim a cor branca dos lírios parece dispor o ânimo para ideias de inocência e, segundo a ordem das sete cores da vermelha até a violeta: 1. à ideia de sublimidade; 2. da audácia; 3. da franqueza; 4. da amabilidade; 5. da modéstia; 6. da constância; e 7. da ternura. O canto dos pássaros anuncia alegria e contentamento com a sua existência. Pelo menos interpretamos assim a natureza, quer seja essa a sua intenção quer não”. Aqui, não se tratando da paisagem propriamente dita, trata-se de elementos da paisagem.
É interessante constatar a importância que Kant dá ao simbolismo da natureza. Ela tem uma linguagem própria, que cabe ao homem interpretar (e em cuja interpretação o homem se apercebe do belo e do sublime). A natureza é um grande livro em código; as paisagens são as páginas desse livro. Não é por acaso que Kant, no campo das belas artes, tem um gosto especial pela poesia, ou seja, pelas palavras. Elas formam a linguagem dos homens, cada uma sinaliza um ou mais símbolos: “A nossa linguagem está repleta de semelhantes exposições indirectas segundo uma analogia, pela qual a expressão não contém o esquema próprio para o conceito, mas simplesmente um símbolo para a reflexão”. A poesia é um privilégio da linguagem, na medida em que “a ideia estética (…) insufla espírito à linguagem enquanto simples letra”.
Afastado pela cultura e pela ciência do universo mítico, o homem sempre será um ser simbólico. A natureza, os objectos naturais, as paisagens, fazem parte desse mundo simbólico que habitamos e que somos. Penso que Kant terá compreendido deste modo a natureza. O juízo estético sobre a paisagem é o que nos pode permitir o acesso ao nosso profundo eu, singularmente, o mais subjectivamente possível, mas também comunitariamente, ao nosso profundo nós.
Decifrar a natureza, compreendê-la e aceitá-la é fazer o mesmo em relação à humanidade. Por isso, a natureza de que Kant nos fala é uma moeda com duas faces: o homem e a paisagem: “Esta tristeza, não pelos males que o destino inflige a outros homens (da qual a simpatia é a causa), mas pelos que eles se cometem a si próprios (a qual repousa sobre a antipatia em questões de princípios) é sublime porque repousa sobre ideias (…). – O tanto engenhoso quanto profundo Saussurre, diz, na descrição de suas viagens aos Alpes, de Bonhomme, uma das cordilheiras da Sabóia: «Reina aí uma certa tristeza insípida». Por isso ele conhecia também uma tristeza interessante, que a vista de um deserto inspira (…)”.



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