O SUICÍDIO SEGUNDO A TEORIA DA MAXIMIZAÇÃO DA FELICIDADE
(Eliana Cardoso)
Um médico conhece a relação entre as taxas de suicídio, de um lado, e a hereditariedade, frustrações amorosas, doença terminal, perda de status e uso de álcool, de outro, entretanto, nenhuma dessas correlações lhe permite prever o suicídio de um paciente e só depois de uma ocorrência é que o psicanalista oferece uma interpretação para ao fato. Assim, um economista não se acanha em inventar sua própria teoria. O Prêmio Nobel, Gery Becker, oferece a sua no estudo Suicide: An Economic Approach, em co-autoria com Richard Posner. Os autores citam Hume (nenhum homem jogou a vida fora enquanto ela ainda valia a pena) e Schopenhauer (um homem põe fim à própria vida quando seus terrores são maiores do que os da morte) e partem para explicar a decisão entre - o ser ou não ser - com base num modelo em que o indivíduo maximiza a felicidade. O suicida de Becker é um agente racional. Considera o futuro e toma a decisão que maximiza sua felicidade. O trabalho leva em conta a propensão ao risco, a incerteza sobre eventos futuros e o valor da opção de espera antes da decisão fatal. Essa racionalidade é compatível com sentimentos de depressão (incapacidade de extrair felicidade da própria situação). O Indivíduo se mata quando presume que a infelicidade de hoje persistirá no futuro, por isso, os suicídios são mais freqüentes entre os que sofreram uma perda violenta (do nível de renda ou de prestígio, por exemplo) e não enxergam uma chance de sair do buraco. Cleópatra é um bom exemplo para a teoria deBecker. Sua história está cercada de mortes violentas. Ptolomeu, seu irmão, mandou matar Pompeius Magnus (o primeiro amante de Cleópatra). Em seguida Cleópatra teve um filho com Júlio César, casou-se com ele e se mudou para Roma. Depois do assassinato de César, Cleópatra voltou para o Egito e viveu durante 11 anos com Marco Antônio, que lhe deu quatro filhos. Marco Antônio suicidou-se. A rainha valeu-se da picada de uma víbora para morrer. Um intérprete vulgar falaria em fracasso, pois, se fosse menos ambiciosa, ela teria preservado seu reino como cliente de Roma, da mesma forma que Herodes, seu contemporâneo e rival, mas quem quer ser Herodes se pode ser Cleópatra? Convencida de que aos 39 anos não poderia seduzir Otávio e sabendo que seria exibida com seus cinco filhos numa parada, preferiu dispensar o rosário de humilhações que o futuro lhe reservava. Assim como o suicídio de Cleópatra, o de Marco Antônio, diante da perda insuportável de seu poder para Otávio, se encaixa na teoria de maximização da felicidade que considera a queda de status e a desesperança de uma reviravolta no futuro. O suicídio de Getúlio Vargas também cabe nessa teoria. Existem, pelo menos duas personagens literárias tão notáveis e racionais – no sentido dos economistas – quanto Cleópatra, Marco Antônio e Vargas. Madame Bovary, de Flaubert, toma arsênico quando se vê endividada e sem o amparo dos ex-amantes. Ana Karenina, de Tolstoi, joga-se sob um trem, depois de perder sua posição na sociedade e se presumir que o amante começa a se cansar dela. Intrigante é que cada uma dessas heroínas chega à decisão fatal porque se deixou fascinar por uma poderosa vontade de viver. (O artigo de Eliana Cardoso chamou-se A vida num salto)
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- Pt.wikipedia.org
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