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Triste Fim de Policarpo Quaresma
(Lima Barreto)

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O Pré-Modernismo brasileiro foi um movimento nacionalista e eclético. “Nacionalista, porque durante ele se manifestou (...) um movimento de acentuado nativismo. Eclético, (...) por não poder ser resumido numa escola dominante.” (Amoroso Lima, 1959:61).
Os autores da época (realistas, parnasianos, simbolistas, etc.) buscavam nacionalizar a Literatura Brasileira, desvalorizando a “norma culta” da gramática, preferindo a maneira brasileira de usar a Língua Portuguesa. Preocupavam-se com a originalidade, inspirada na paisagem, nos costumes e na linguagem local.
Neste contexto nativista, surgiu Lima Barreto: “um escritor popular, aparentemente desleixado no escrever, (...) que nos deixou (...) uma série de quadros de costumes locais e nacionais.” (Amoroso Lima, 1959:62 e 63).
De fato, Lima Barreto desejava revelar em seus textos um retrato maciço e condensado do presente, insistindo “em que as preocupações gramaticais e estilísticas não deturpassem a naturalidade dos personagens, nem fantasiassem os cenários.” (Sevcenko, 1999:165).
Exemplo disso é a descrição minuciosa dos subúrbios cariocas que o autor fez na obra Triste Fim de Policarpo Quaresma: “Não há nos nossos subúrbios coisa alguma que nos lembre os famosos das grandes cidades européias, (...) nem mesmo se encontram aqueles jardins, cuidadinhos, aparadinhos, penteados, porque os nossos, se os há, são em geral pobres, feios e desleixados.” (p. 83).
A linguagem coloquial da obra visava aproximar o texto literário do texto cotidiano dos brasileiros, pois, para Lima Barreto, “a arte é (...) ao mesmo tempo um veículo de valores éticos superiores e uma condicionadora de comportamentos” (Sevcenko, 1999:168).
Assim, como escritor pré-modernista, Lima Barreto direcionou sua arte à “crítica social” (Bosi, 1994: 324), denunciando, entre outras coisas, as mazelas do governo republicano. Através de seu personagem, Policarpo Quaresma, o autor faz uma reflexão sobre a politicagem desenfreada da qual o país era vítima:
“Aquela rede de leis , de posturas, de códigos e de preceitos, nas mãos desses regulotes, de tais caciques, se transformava em potro, em polé, em instrumento de suplícios para torturar os inimigos, oprimir as populações, crestar?lhes a iniciativa e a independência, abatendo?as e desmoralizando?as.” (p. 112).
Além da crítica que faz aos desmandos políticos, Lima Barreto faz deste romance uma depreciação do sentimento ufanista da época, dissecando o sonho de um patriota exaltado (Policarpo Quaresma), dominado pela idéia de um Brasil acolhedor e amável.
Em seu idealismo ingênuo, Policarpo buscava apreender o máximo da “cultura genuinamente brasileira”: possuía uma biblioteca voltada apenas a assuntos nacionais; “(. ..) tratou de aprender o instrumento genuinamente brasileiro (violão)” (p.26); estudou os costumes tupinambás e começou a interessar-se por festas e danças tradicionais, vendo nelas uma “significação altamente patriótica” (p.31). Decepcionou-se, porém, ao perceber que o povo não guardava tradições. Como verdadeiro patriota, quis decretar o tupi-guarani a língua oficial do povo brasileiro, desequilíbrio que o levou ao hospício.
Ao longo da obra, percebemos que a luta de Policarpo Quaresma pela restituição de uma cultura puramente brasileira é inútil. A “cultura é um processo dinâmico (...). É possível preservar os objetos, as palavras, (...) mas não se consegue evitar a mudança de significado que ocorre no momento em que se altera o contexto em que os eventos culturais são produzidos.” (Arant, s/d: 21). O próprio autor faz essa reflexão: “Entre nós tudo é inconsistente, provisório, não dura. Não havia ali nada que lembrasse esse passado” (p. 32). Desse modo, Policarpo não consegue levar adiante nenhum de seus projetos, terminando sua vida como prisioneiro de guerra.
Um dos fatores que explicam essa perspectiva dessacralizadora e anti-romântica da obra de Lima Barreto, é a “sua confessada admiração pelo Naturalismo” (Sevcenko, 1999:164). De fato, toda literatura pré-modernista recebe influência do período realista da década de 1880.

Milena – nº. 33

Bibliografia:



ARANT, Antônio Augusto. O que é cultura popular.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.

BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. 15ª edição. São Paulo: Ática, 1996

LIMA, Alceu Amoroso. Quadro Sintético da Literatura Brasileira. 2ª edição. Rio de Janeiro: Agir, 1959.

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1999.



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