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São Bernardo
(Graciliano Ramos)

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A literatura se apresenta “tão plantada na realidade, na vida, quanto empenhada em revelar-lhes os aspectos mais esquivos à nossa compreensão” (Souza, 1987: 69). Com esta finalidade, os autores modernistas da década de 30 – segunda geração – elaboraram uma literatura mais politizada, centrando a preocupação social, aproveitando as conquistas da primeira geração. Esta incorporou ao Modernismo várias tendências artísticas (Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Surrealismo, etc.).

Influenciada por diferentes correntes estéticas, a arte moderna agrupou diversas características, e na literatura foram introduzidas outras “produções culturais, entre elas, por exemplo, as demais artes” (Souza, 1987:66).

Este “diálogo” entre as artes teve importância fundamental na construção de obras literárias comprometidas com a denúncia das verdades sociais e políticas da época.

Neste contexto, Graciliano Ramos foi o maior representante da prosa da segunda fase modernista. Aderindo à crítica social, ele utilizou-se das complexas discussões ideológicas em voga na época (capitalismo x socialismo), influenciadas pelo Marxismo. No livro São Bernardo, Graciliano coloca frente a frente estas duas posições: o capitalismo, na figura de Paulo Honório; e o socialismo, na figura de Madalena. Apesar da importância que dá à crítica social, Graciliano não deixa de lado as tentativas de desvendamento dos mecanismos da alma humana, empregando técnicas de Psicanálise (também bastante difundidas no período). Os romances de Graciliano se passam no sonho, “os hiatos nas recordações, a carga de acontecimentos insignificantes com fortes afetos inexplicáveis, eis a própria técnica do sonho, no dizer de Freud.” (Carpeaux, 1943).

Os autores modernistas também dispunham de outra fonte de recursos culturais: “todos eles aludem a absorção pelo romance das técnicas cinematográficas (montagens, cortes bruscos, simultaneidade)” (Leite, 1987:74). É assim que, nos textos de São Bernardo, Graciliano apresenta monólogos interiores densos e repletos dessas técnicas: “Rumor do vento, dos sapos, dos grilos. A porta do escritório abre-se de manso, os passos de seu Ribeiro afastam-se. Uma coruja pia na torre da Igreja. Terá realmente piado a coruja? Será a mesma que piava há dois anos?” (pág.102).

Esta liberdade de expressão, a destruição dos nexos, o fluxo da consciência (monólogo interior, sem obediência à normalidade gramatical), são algumas das características do Modernismo. “A literatura tornou-se cada vez mais subjetiva e interiorizada” (Coutinho, 1978). Exemplo disso é todo o capítulo dezenove de São Bernardo, onde objetividade e subjetividade se confundem.

O uso da linguagem coloquial foi recurso amplamente propagado pelos modernistas. Em toda sua obra, Graciliano Ramos “beneficiou-se amplamente da“descida” à linguagem oral, aos brasileirismos e regionalismos léxicos e sintáticos” (Bosi, 1994:384): “– Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma!” (pág. 07).

Muitas destas características são, na realidade, recursos empregados na tentativa de incorporar o cotidiano na literatura. Os “assuntos sublimes” de outras épocas, cedem espaço ao diário, ao grosseiro, ao vulgar: “a seleção do material inclui todos os motivos e assuntos, mesmo os abjetos e vis” (Coutinho, 1978). Os autores modernistas buscam com suas obras, a conscientização dos problemas sociais da realidade brasileira. As obras literárias das décadas de 30 e 40 constituem exemplos da real finalidade da literatura.

Milena – nº. 30


Bibliografia:



BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.

CARPEAUX, Otto Maria. Visão de G.R. In: - Origens e fins. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1943.

COUTINHO, Afrânio. Coleção Fortuna Crítica: Graciliano Ramos; Seleção de Textos, Sônia Brayner. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O Foco Narrativo. São Paulo: Ática, 1987.

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. São Paulo: Record, 2000.

SOUZA, Roberto Alízelo de. Teoria da Literatura; São Paulo: Ática, 1987.



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