A Hora da Estrela - Parte 5/5
(Clarice Lispector)
(Continuação) As dúvidas implícitas nos títulos A própria autora não tem muita noção do que quer escrever e mesmo na hora de dar um nome ao livro, coloca um monte de idéias que devem ter ocorrido durante a confecção, durante a difícil gestação e do doloroso parto do romance, que tem um andar truncado, torto, meio sem rumo, assim com a vida de Macabéa.As dúvidas que vão ficando pelo caminho são muitas, assim como os nomes do livro que se tornaram plurais. O encontro do nome do livro com o enredo, só se dá ao seu final, quando uma vidente e embusteira, Madame Carlota, lhe revela que seu destino será brilhante. Apesar de que Macabéa um dia sonhara em ser uma estrela, o que ocorre, na verdade, é que foi atrropelada por um carro de luxo, uma Mercedez, que tem como símbolo uma estrela de quatro pontas, na frente, em cima do capô. O único encontro de Macabéa com a estrela e com a riqueza, é na hora de sua morte, que vem, não para faze-la feliz em sua vida terrena, mas para ser seu algoz e mandá-la procurar a felicidade em outra dimensão. Conclusão Ser engajado e valorizar o ser humano? A história de Macabéa é bastante emblemática. Nos remete a raciocínios profundos sobre a sociedade alienada e alienante. O “macabeísmo” está arraigado em nossa sociedade. O “fazer de conta” que é feliz, cada dia fica mais visível. São pessoas hipócritas e/ou alienadas, que muitas vezes colocam óculos com lentes coloridas para ver tudo azul e se esquecem de se voltar para a realidade, que está estourando em nossa porta; para a realidade que está escondida embaixo de nosso próprio nariz. Assim como também vemos muitas Clarices Lispectors, que se colocam em um ponto de observador privilegiado, que nunca teve coragem de escrever textos engajados, porém se vê, quando percebe que o fim está próximo, quase que na obrigação, de escrever um alerta à sociedade, sobre mulheres infelizes, nordestinas analfabetas, sobre as muitas Macabéas que existem pelo Brasil afora. Essa colocação, faço, apenas pela leitura d”A Hora da Estrela” sem ter conhecimento profundo de toda a obra da autora e jornalista.. A descoberta desse “arrependimento” tardio de Lispector, em ter se sentido pouco engajada na discussão das questões sociais do país nos remete a pensar no papel que o jornalismo pode ter na sociedade. Podemos optar pelo jornalismo que busca discussões e soluções para as mazelas sociais, ou um jornalismo alienado. Um jornalismo que busca ter um olhar crítico sobre as Macabéas ou o jornalismo que simplesmente vai nos levar a ter uma fama relativa, talvez uma vida tranqüila, mas que jamais vai ser um instrumento de transformação e discussão sobre a sociedade em que vivemos. Já que a neutralidade não existe na vida (assim como é inexistente no jornalismo), cabe a cada um de nós resolver de que lado queremos ficar. O engajado tem suas glórias e conseqüências: a principal é a da imagem da maioria dos jornalistas - um chato, que vive cobrando atitudes da sociedade, porém, pode ganhar o respeito como pessoa séria e lutadora. O alienado ou “neutro”, pode ter uma vida mais tranqüila e ser considerado uma pessoa simpática, que não fala nada sobre o que de fato acontece, porém, ao chegar a seu final de vida, sua consciência pode cobrar uma atitude que sempre adiou. Nossa consciência é que vai nos julgar se estamos fazendo a coisa certa ou não. Parafraseando um antigo programa de televisão, “você decide”. (FIM)
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