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A Hora da Estrela - Parte 4/5
(Clarice Lispector)

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(Continuação)Falta de consciência de vida Em vários momentos, percebe-se que a personagem não tem mínima consciência de que vive. Para ela tudo existe por existir. Não pensa no futuro, procura esquecer o passado. E o presente? Bem, vai vendo os dias passarem, simplesmente, como se sua obrigação nesse mundo fosse somente estar por aqui: “Quero antes afiançar que essa moça não se conhece senão através de ir vivendo à toa. Se tivesse a tolice de se perguntar “quem sou eu?” cairia estatelada e em cheio no chão. É que “quem sou eu?” provoca necessidade” (Pág. 15) “(...) Olhou-se maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-lhe que o espelho baço e escurecido não refletia imagem alguma. Sumira por acaso a sua existência física? Logo depois passou a ilusão e enxergou a cara toda deformada pelo espelho ordinário, o nariz tornado enorme como o de um palhaço de nariz de papelãp. Olhou-se e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem.” (Pág. 25)“Essa moça nao sabia que ela era o que era, assim como cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz A única coisa que queria era viver. Quem sabe achava que havia uma gloriazinha em viver. Ela pensava que a pessoa é obrigada a ser feliz. Então era. Antes de nascer ela era uma idéia? Antes de nascer ela era morta? E depois de nascer ela ia morrer?” (Pág. 27)“Ela nada entendeu, mas pensou que o médico esperava que ela sorrisse. Então sorriu” (Pág. 67) Todas essas passagens mostram que muita gente nem mesmo imagina qual a sua função em nosso meio. São exemplos que muitas vezes vemos em nosso dia-a-dia, mas nem reparamos ou procuramos entender. Simplesmente, passam pela vida e nem mesmo marcas deixam. Nem rasas; muito menos, profundas.A mulher, a nordestina e a analfabeta Em vários pontos (alguns já colocados aqui), mostra a falta de respeito da personagem por ela mesma sem ter nenhuma consciência de sua feminilidade e nem de sua origem, pobre e aculturada. “Por falar em novidade, a moça um dia viu num botequim um homem tão, tão bonito que – que queria tê-lo em casa. Deveria ser como – como ter esmeralda-esmeralda-esmeralda num estojo aberto. Intocável. Pela aliança viu que ele era casado. Como casar com-com-com um ser que era para-para-para ser visto, gaguejava ela no seu pensamento. Morreria de vergonha de comer na frente dele porque ele era bonito além do possível equilíbrio de uma pessoa” (Pág. 41) “(...) nunca recebara presentes. Aliás não precisava muita coisa. Mas um dia viu algo que por um leve instante cobiçou: um livro que seu Raimundo, dado a literatura, deixara sobre a mesa. O título era “Humilhados e Ofendidos”. Ficou pensativa. Talvez tivesse pela primeira vez se definido como classe social. Pensou, pensou e pensou! Chegou à conclusão que na verdade ninguém jamais a ofendera, tudo que acontecia era porque as coisas são assim mesmo e não havia luta possível, para que lutar? (Pág. 40) “Macabéa fingia enorme curiosidade escondendo dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que isso era assim mesmo. (Pág. 44) “Quando Olímpico lhe dissera que terminaria deputado pelo Estado da Paraíba, ela ficou boquiaberta e pensou: quando nos casarmos então serei uma deputada? Não queira, pois deputada parecia nome feio.” (Pág. 47) A mulher, que nunca esteve presente, vai sumindo de vez, a cada passagem do romance. O que resta é a ignorância e ingenuidade de quem não sabe bem de onde veio e nem para onde quer ir. A personagem é cada vez mais “desconstruída”, morrendo um pouco a cada parágrafo. Chega mesmo a criar no leitor um sentimento, não de piedade, mas de raiva pela sua falta de consciência, de luta e pela forma com que se deixa ser tratada pelas pessoas. (Continua)



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