A Hora da Estrela - Parte 3/5
(Clarice Lispector)
(Continuação)Diálogos impertinentes As tentativas de diálogo vividas pro Macabéa no romance são sempre inconvenientes. Sua ignorância, sua falta de cultura e ingenuidade a impedem que consiga ter um relacionamento melhor com colegas de trabalho, namorado ou qualquer outra pessoa: “Ela uma vez pediu a Olímpico que lhe telefonasse. Ele disse: - Telefonar para ouvir tuas bobagens?” (Pág. 47) “(...)-Me desculpe perguntar: ser feia dói? - Nunca pensei nisso, acho que dói um pouquinho. Mas eu lhe pergunto se você que é feia sente dor? - Eu não sou feia!!! Gritou Glória” (Pág. 50) Até mesmo suas conversas com Olímpico eram desinteressantes, pois até mesmo suas recordações da infância eram idiotas: “As poucas conversas entre os namorados versavam sobre farinha, carne-de-sol, carne-seca, rapadura, melado. Pois era esse o passado de ambos e ele esqueciam o amargor da infância porque, já que passou, é sempre acre-doce e dá até nostalgia (...)” (Pág. 47) Os diálogos chegam a ser quase que ininteligíveis chegando à beira do surreal, sempre truncados e terminando em uma discussão, em que a perdedora era sempre a mesma: Macabéa, que chega a parecer um animal acuado e sempre choramingando e de cabeça baixa, como se fosse o último ser, o mais inferior da face da terra.Um ser animalizado Suas atitudes e pensamentos são sempre pequenos, sua forma de encarar a vida é sempre arredia, como um animal fora de seu ambiente natural. Não se preocupava com o que vestia, comia mal e vivia num mundo totalmente alienado: “Quanto à moça ela vive num limbo impessoal que sem alcançar o pior nem o melhor. Ela somente vive, inspirando e expirando. (Pág. 23) “(...)Moça essa que dormia de combinação de brim com manchas bastante suspeitas de sangue pálido. Para adormecer na frígidas noites de inverno enroscava-se em si mesma, recebendo-se, dando-se o próprio parco calor. Dormia de boca aberta por causa do nariz entupido, dormia exausta, dormia até que nunca.” (Pág. 24) “(...) - Você às vezes tem crise de vômito? - Ah, nunca!, exclamou muito espantada, pois não era doida de desperdiçar comida(...)” (Pág. 67) Sua vida estava tão animalizada, era tamanha a falta de humanidade que até mesmo a solidão parecia ser algo bom, pois nem mesmo momentos para ficar consigo mesma ela vivera: “(...) Então, no dia seguinte, quando as quatro Marias cansadas foram trabalhar, ela teve pela primeira vez na vida uma coisa preciosa: a solidão. Tinha um quarto só pra ela. Mal acreditava que usufruía o espaço. E nem uma palavra era ouvida. Então dançou num ato de absoluta coragem pois a tia não a entenderia. Dançava e rodopiava por que estar sozinha a tornava: l-i-v-r-e!” (Pág. 41) No final, a autora radicaliza essa animalização fazendo um paralelo da chegada da morte com o ataque de predadores, colocando o fim à vida rasteira de animal indefeso: “E então – então o súbito grito estertorado de uma gaivota, de repente a águia voraz erguendo para os altos a ovelha tenra, o macio gato estraçalhando um rato sujo e qualquer, a vida come a vida.” (Pág. 85) A vida de uma nordestina, que não aprendeu a viver quando morava no interior, por ser sempre reprimida, e levava uma vida boçal, quando foi jogada em uma grande cidade. (Continua)
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