Shalimar o equilibrista
(Salman Rushdie)
Se eu contasse logo de início que o embaixador é assassinado, não estaria revelando nenhum segredo. Isso ocorre no 1º capítulo e o próprio autor menciona o fato várias vezes antes mesmo apresentá-lo. Rushdie também revela, através das dicas, que o assassino é Shalimar, o equilibrista. O leitor deste romance não é levado a concentrar-se no “quem”, mas no “porque” do assassinato. Aparentemente um crime político, percebemos depois que o motivo é algo profundamente pessoal. No desenrolar da história, o autor responde como um acrobata se torna um assassino profissional. Para isso, ele vai e volta no tempo.
Começa em Los Angeles, 1991, com Shalimar trabalhando para Max Ophuls, herói da resistência, e arquiteto de um mundo livre, ele está indo visitar sua filha Índia. Neste mesmo dia, ele é assassinado, e o autor inicia uma investigação de sua vida. A história volta para Caxemira, onde conhecemos a origem de Shalimar, e a mãe de Índia. Tudo que Índia sabe a respeito de sua mãe é que ela faleceu dando a luz. Ela está enterrada sob uma pirâmide de silêncio, como Rushdie conta, em as elegante prosa. As relações começam a ficar claras.
Mas o autor volta ainda mais no tempo, e este intenso drama pessoal agora ocorre em três momentos de grandes conflitos históricos: o movimento de resistência na França durante a 2ª Guerra Mundial, a guerra da Índia e do Paquistão na Caxemira, e a Guerra Fria. O controle que Rushdie tem da linguagem é inesquecível. Algumas vezes ele se permite construções jocosas como o brilhante argumento de porque a ocupação indiana na Caxemira foi impopular no que se refere à verdade, mas popular no que se refere a integridade, estendendo-se nas diferenças de definição entre verdade e integridade. E ainda, ele recupera e mostra os passos da destruição de uma vila da Caxemira, numa descrição que é ao mesmo tempo estranhamente imparcial, e terrivelmente pessoal. Ele também caminha sobre uma linha tênue entre a dura realidade e a fantasia, mesclando elementos de magia e história. Inicia-se com a descrição da segunda visão de Índia e a engraçada mágica da batata, praticada por sua senhoria, e aprofunda-se no terreno das profecias, comunicação com a morte e telepatia. Rushdie aliou o místico e fatos reais à história, tornando-a crível. Shalimar o equilibrista é raramente chamado por outro nome, sua profissão como acrobata da vila onde nasceu serve como duro contraste para seu papel posterior como um guerrilheiro da liberdade e assassino. Este é apenas um exemplo do contraste entre aparência e realidade no livro: o presente de Índia (ou maldição) na segunda visão, Shalimar, o serviçal de corpo perfeito preparando a faca do assassinato, e a mão de Índia, cuja liberdade transformou-se em sua prisão.
Rushdie pode nunca ter sido capaz de superar sua reputação como autor de Satanic Verses, e a cobertura da mídia sobre ameaças subseqüentes a sua vida. Foi toda sorte de publicidade que fez dele um nome familiar, mas atualmente tem tirado dele um grande grupo de leitores. Isso é vergonhoso porque ele tem o dom encantador da narrativa. Se você não sabe nada sobre Salman Rushdie, Shalimar o equilibrista é uma maravilhosa apresentação de um dos maiores contadores de histórias dos nossos dias.
Resumos Relacionados
- Salman Rushdie
- Literatura Indiana
- Jesus, A Verdade E A Vida
- As Crianças Da Meia-noite
- Imaginary Homelands
|
|