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As palavras e as coisas: Las Meninas
(Michel Foulcault)

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Fichamento


Pintor: Está olhando em direção ao modelo, o pintor é perfeitamente visível, ele emerge aos nossos olhos; ele fixa um ponto invisível que somos nós mesmos. Olhamos um quadro de onde um pintor nos contempla.

O quadro do quadro: só se distingue a textura, os esteios na horizontal e, na vertical, o oblíquo do cavalete. O alto retângulo monótono que ocupa toda a arte esquerda do quadro real e que figura o verso da tela representada reconstituiu a invisibilidade em profundidade daquilo que o artista contempla: espaço em que nós estamos. A grande tela virada exerce uma segunda função: impede que seja alguma vez definitivamente estabelecida a relação dos olhares. Os olhos do pintor constrangem o espectador a entrar no quadro.

Janela: na extremidade direita, o quadro recebe sua luz de uma janela representada segundo uma perspectiva muito curta. Percorrendo a sala da direita para a esquerda, a luz impele ao mesmo tempo o espectador em direção ao pintor, e o modelo em direção à tela.

Espelho: Sobre a parede que constitui o fundo da sala, o autor representou uma série de quadros. Entre as telas, uma brilha com um clarão singular, aparecem duas silhuetas e, um pouco para trás, uma pesada cortina de púrpura. Mas não é um quadro, é um espelho. De todas as representações que o quadro representa, ele é a única visível, mas ninguém o olha. O espelho faz brilhar as figuras que o pintor olha, mas também que olham o pintor.

Personagens : Velásquez representou a si mesmo no seu ateliê, pintando duas personagens que a infanta Margarida vem contemplar, rodeada de aias, de damas de honra, de cortesãos e de anões. A tradição reconhece aqui dona Maria Augusta Sarmiente, ali, Nieto, no primeiro plano, Nicolaso Pertusato, bufão italiano. As figuras retratadas são: o rei Filipe IV e sua esposa Mariana.
A relação da linguagem com a pintura é uma relação infinita. Por mais que se diga o que se vê, o que se vê não se aloja jamais no que se diz. O nome próprio não passa de um artifício, se se quiser manter aberta a relação entre a linguagem e o visível, é preciso pôr de parte os nomes próprios e meter-se no infinito da tarefa.

A porta: A terceira função do espelho é pôr em paralelo uma porta que se abre na parede do fundo. Ela recorta um ângulo claro, cuja luz fosca não se irradia pela sala.

O homem: Sobre esse fundo, um homem destaca sua alta silhueta. É visto de perfil, uma das mãos retém o peso de um cortinado; seus pés estão pousados sobre dois degraus diferentes; tem o joelho dobrado.

A infanta: O centro do grupo é ocupado pela pequena infanta, com seu vestido cinza e rosa. Vira a cabeça para a direita do quadro, enquanto seu busto e seus grandes folhos do vestido pendem para a esquerda; o olhar dirige-se aprumado na direção do espectador. Aí reside o tema principal da composição.

O tema principal: Como um ofertante em prece, como o Anjo saudando a Virgem, uma governanta de joelhos estende as mãos para a princesa. A aia olha só para a princesa.
Enfim, dois grupos de duas personagens: um, em recuo; outro, composto de anões, no primeiro plano. Os grupos se correspondem e se emparelham: atrás, os cortesãos; à frente, os anões.

Duas figuras: Esse conjunto de personagens pode constituir duas figuras: uma seria um grande X; no centro do X, o olhar da infanta. A outra figura seria uma vasta curva que desenha uma concha que encerra e libera a localização do espelho. Dois centros que podem organizar o quadro. A princesa mantém-se de pé no meio de uma cruz de Santo André, que gira em torno dela com o turbilhão dos cortesãos, damas de honra, animais e bufões.

O cão: À direita, o cão estirado, único elemento do quadro que não olha nem se mexe, porque ele só é feito para ser um objeto a ser contemplado.

O quadro em si: O quadrocomo um todo olha a cena para a qual ele é uma cena. Esse espetáculo de olhares é constituído dos soberanos. Eles são a mais pálida, a mais irreal, a mais comprometida de todas as imagens.

O artifício do pintor: Na grande voluta que percorria o perímetro do ateliê, desde o olhar do pintor, até os quadros terminados, a representação nascia, completava-se, para se desfazer novamente na luz; o ciclo era perfeito. Mas as linhas que atravessam a profundidade do quadro são incompletas; falta, a todas, parte do seu trajeto. Essa lacuna é devida à ausência do rei – ausência que é um artifício do pintor. Em torno da cena estão depositados os signos e as formas sucessivas de representação, mas a dupla relação da representação com o modelo e com o soberano, com o autor e com aquele a quem ela é dada em oferenda, é interrompida. Ela jamais pode estar toda presente.

Representação clássica: Talvez haja nesse quadro a representação da representação clássica. Esta intenta representar-se a si mesma em todos os seus elementos. Mas nessa dispersão que ela reúne e exibe em conjunto, por todas as partes um vazio essencial é imperiosamente indicado: o desaparecimento daquilo que a funda. Esse sujeito foi elidido. E livre dessa relação que a acorrentava, a representação pode se dar como pura representação.



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