As peculiaridades teóricas do Romantismo em Portugal
(Mariana Alcoforado)
A estética romântica nasce em Portugal em meio a uma luta fratricida, cujas principais aspirações remetiam à disputa do trono luso. Tal conflito teve como pontos nevrálgicos a divisão dos partidos Liberal, comandado por D. Pedro I, e Miguelista, liderado por D. Miguel. Devido ao quadro sócio-político que se pintara entre os anos de 1826 e 1834, seria impossível que o Romantismo surgisse trazendo em seu bojo características sentimentais e piegas, proclamadas, mais ardentemente, pela Alemanha e pela Inglaterra. Na verdade, em função de uma empatia direta com os ideais restauradores da Revolução Francesa, pode-se dizer que o Romantismo português encontra firme abrigo nos ideais pregados pela nação francesa, cujas palavras de ordem – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – tentaram escamotear, de forma efetiva, o sistema repressor do Antigo Regime. Portanto, embora seja também evidente a presença de um romance sofrido e melancólico entre dois personagens que vêem o seu amor impossibilitado, não é a partir deste que se tece a temática principal das obras românticas portuguesas. Podemos deduzir, assim, que a discussão mais importante é travada ao redor do nacionalismo, o qual, segundo Guinsburg, é tema freqüente de toda estética romântica: “Os deuses por direito próprio estavam substituídos por semideuses ou simples heróis, autóctones, talvez, mas sem dúvida cruzando o telúrico e o celestial” (GUINSBURG, 1993: 19). Não nos deixemos iludir, todavia, pela mesma vertente utópica seguida pelo Brasil, o qual buscava se afirmar como pátria, devido aos enlaces econômico, político e cultural firmados, anteriormente, com a metrópole. O seguimento nacionalista do Romantismo português está muito mais para a problematização da relação modificadora dos indivíduos e da sua pátria do que para uma exaltação, ingênua e ufanista, das qualidades da mesma. É centrando-se em tal discussão que Lourenço (2000) discute o teor mítico do destino do povo português, tendo como subsídio fundamental a questão recorrente do nacionalismo, do patriotismo, da alma nacional . Para tratar de tal assunto, o autor opta por descrever, criticamente, as características essenciais que motivaram cada geração de escritores a seguirem uma determinada linha de pensamento. Primeiramente, Lourenço afirma que somente a partir de Almeida Garrett Portugal terá uma literatura efetivamente nacional. Para ele, Camões não representou de forma devida as aspirações portuguesas pelo simples fato de não descrever na sua obra máxima o sentimento da consciência individual juntamente com a realidade da pátria; isto porque Camões escrevia para um público restrito, o qual representava o pequeno grupo intelectual da época. Ocorre, todavia, uma reviravolta significativa no que concerne à participação dos cidadãos na identidade cultural de um país. Tal mudança foi propiciada pelas revoluções em vigência, que fizeram com que o povo participasse mais ativamente na vida sócio-política e cultural da nação. Notamos, portanto, um desajustamento dos homens às realidades que o cercam. Obviamente, a literatura passou a concretizar tais desajustamentos. Não interessava mais glorificar o passado português- como tentou Camões- mas, sim, repensar esse mesmo passado por um viés crítico. Herculano e Garrett serão os arautos dessa nova vertente literária que se quer altamente questionadora: questiona-se a respeito do próprio passado, tentando encontrar a glória, por muito tempo cantada, que associavam a Portugal.
Resumos Relacionados
- Romantismo (1836 – 1881)
- Romantismo
- Triste Fim De Policarpo Quaresma
- Romantismo
- Romantismo
|
|