Sangue, Interdependência e solidariedade Os bancos de sangue, em regra, sofrem com a variação sazonal das doações de sangue. Feriados, férias escolares e outros motivos desconhecidos freqüentemente prejudicam o atendimento de pacientes em sério risco de vida. Boa parte das cirurgias e alguns tratamentos como os de certos tipos de câncer requerem o emprego de sangue doado, seja das hemácias ou glóbulos vermelhos, seja das plaquetas, que promovem a coagulação do sangue, o estancamento de hemorragias. Uma cirurgia de ponte de safena, por exemplo, costuma requerer, em média, quatro bolsas de hemácias. Um atendimento de trauma, acidentes de vários tipos, pode demandar 40 bolsas ou mais. Sem elas, o médico está de mãos amarradas. Se você sofrer um acidente e for hospitalizado, morrerá caso necessite de sangue e não haja em estoque. No Brasil, segundo a Fundação Pró-Sangue, menos de 2% da população doam sangue regularmente, enquanto na Europa 4% o fazem. Não porque o brasileiro seja menos solidário, mas por uma questão cultural: a Europa viveu duas grandes guerras e transfusões de sangue eram constantes. O grande drama dos bancos de sangue é a forma de divulgar a necessidade de as pessoas doarem. Não se pode oferecer nenhum tipo de vantagem ao doador, pois isto comprometeria a segurança do sangue que hoje, graças aos exames mais modernos, é altíssima. Quem não se lembra de pessoas famosas que morreram em decorrência de contaminação na transfusão, como Betinho, Henfil e irmão, pessoas grandiosas que tanta falta nos fazem. Até 1992, isto era corriqueiro, não se testava o sangue coletado. Hoje, há testes que utilizam engenharia genética para detectar o vírus da Aids (Sida), como o NAT (Teste de Ácido Nucléico), que revelam se o sangue está contaminado com apenas 11 dias após o doador haver se infectado. Além de Aids, são testados anticorpos de Hepatite, Chagas, etc., num total de nove doenças. No Brasil, a doação é absolutamente segura e estéril e a possibilidade de se sofrer qualquer dano ou infecção é zero.Todo doador é submetido a um questionário sigiloso e entrevistado por uma enfermeira com total privacidade. Ali, é verificado se o candidato à doação esteve exposto a alguma situação de risco, como uma simples gripe ou um tratamento dentário, porque o receptor daquele sangue poderá estar com sua imunidade baixa e qualquer micróbio que passe para ele pode desencadear uma infecção muito grave, até mesmo fatal. É bonito e gratificante ver num hemocentro de um hospital pessoas pertencentes a diversas classes socioeconômicas à espera de sua vez de doar. Oferecem aquilo que o dinheiro não compra: solidariedade e altruísmo na forma de sangue, vermelho para todos. Nele, vemos que somos todos exatamente iguais, não há cor de pele, não há raça, apenas tipos A, B, AB e O. Pense, caro leitor, que se tornar um doador e divulgar a doação é ajudar os outros, mas é também ajudar a si mesmo, pois você nunca saberá quando, como ou onde poderá necessitar de uma transfusão. Basta ir a um banco de sangue e ver a satisfação estampada nos rostos das pessoas, elas ali sabem que são importantes, que todos, como no exemplo acima de interdependência, são tão importantes quanto qualquer outro ser. Que sempre se pode deixar de lado por um tempo a luta pela sobrevivência para ajudar outros a sobreviver, dando um pouco mais de sentido à nossa existência; não comodamente dando uma esmola, mas ajudando – e muito – a salvar vidas. Há uma série de meios de se ajudar a divulgar a causa com pouco ou nenhum custo: nos selos dos correios, nos portais dos governos, no verso dos cupons fiscais, nas embalagens. Se o leitor é um empresário, jornalista, blogueiro, lojista, procure contribuir com a divulgação, em seu site, na sua assinatura eletrônica de email, no verso de boletos de cobrança, nas sacolas de suas lojas, num cantinho da capa do jornal, uma vez ao mês que seja; se for professor, fale aos seus alunos sobre o assunto; se for padre, peça aos fiéis que doem. Ecomo a educação básica é o melhor meio de se criar consciência a respeito de coisas como solidariedade, professores poderiam falar disto em aula, livros de ciência deveriam abordar o assunto. Vamos juntos mudar a cultura de doação, transformando o Brasil num país com 4% de doadores, através da divulgação da simples e valiosa mensagem: Doe sangue. Só isto, feito por várias pessoas e empresas, já é o suficiente. E se você, embora deseje doar, tiver algum impedimento, contribua tentando convencer amigos e parentes a fazer este belo gesto habitualmente. Maiores informações e solicitação de material promocional em: www.prosangue.sp.gov.br e www.anvisa.gov.br Luiz Leitão *
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