VIDAS SECAS
(Graciliano Ramos)
Quatro pessoas e uma cachorrinha se arrastam numa peregrinação silenciosa em meio à paisagem hostil do sertão nordestino. O menino mais velho, exausto da caminhada sem fim, deita-se no chão, incapaz de prosseguir, o que irrita Fabiano, seu pai, que lhe dá estocada com a faca no intuito de fazê-lo levantar. Compadecido da situação do pequeno, o pai toma-o nos braços e carrega-o. A cadela Baleia acompanha-os. Fabiano e família encontram uma fazenda completamente abandonada. A fazenda aparentemente abandonada tinha um dono, que logo aparecera e reclamara a posse do local. A solução foi ficar por ali mesmo, servindo ao patrão, tomando conta do local. Na verdade, era uma situação triste, típica de quem não tem nada e vive errante. Sentiu-se novamente um animal, agora com uma conotação negativa. Pouco falava, admirava e tentava imitar a fala difícil das pessoas da cidade. Era um bicho. Fabiano vai à feira comprar mantimentos, querosene e um corte de chita vermelha. Injuriado com a qualidade do querosene e com o preço da chita, resolve beber um pouco de pinga na bodega de seu Inácio, quando um soldado amarelo convida-o para um jogo de cartas. Os dois acabam perdendo, o que irrita o soldado, que provoca Fabiano quando esse está de partida. A idéia do jogo havia sido desastrosa. Perdera dinheiro, não levaria para casa o prometido. O soldado encara o vaqueiro, barra-lhe a passagem, pisa em seu pé e Fabiano agüenta os insultos até o possível, terminando por xingar a mãe do soldado amarelo. No outro dia, Sinhá Vitória amanhecera brava, não dormiu bem a noite e a cama de varas era o motivo de sua zanga. Fabiano, armado como vaqueiro, domava a égua brava com o auxílio de Sinhá Vitória. Quando as cabras foram ao bebedouro, levadas pelo menino mais velho e por Baleia, o pequeno tomou o bode como alvo de sua ação. Sentia-se altivo como Fabiano quando montava. No bebedouro, o garoto despencou da ribanceira sobre o animal, tentou se aprumar, mas foi sacudido impiedosamente, praticando um involuntário salto mortal que o deixou tonto, estatelado ao chão. O irmão mais velho ria sem parar do ridículo espetáculo. Baleia parecia desaprovar toda aquela loucura. Fatalmente seria repreendido pelos pais. Retirou-se humilhado, alimentando a raivosa certeza de que seria grande, usaria roupas de vaqueiro, fumaria cigarros e faria coisas que deixariam Baleia e o irmão admirado. O menino mais velho perguntou à Sinhá Vitória se ela já tinha visto o inferno. Levou um cascudo e fugiu indignado. Quando todos estavam reunidos em volta do fogo, o pai e a mãe conversavam daquele jeito de sempre, estranho, e os meninos, deitados, ficavam ouvindo as histórias inventadas por Fabiano. A chuva dava à família a certeza de que a seca não chegaria por enquanto. Quando foram à festa de Natal na cidade, todos estavam vestidos com suas melhores roupas, mesmo assim davam um ar de ridículo. A imagem nos altares da igreja encantou-os mais ainda. Fabiano foi beber pinga, depois deitou no chão, fez das suas roupas um travesseiro e dormiu pesadamente. Sinhá Vitória, tinha que olhar os meninos e não podia deixar o marido naquele estado. Baleia sumira na confusão de pessoas, os meninos ficaram com medo de que ela se perdesse e não mais voltasse, mas ela voltou acabando com a tensão. Baleia foi ficando com os pêlos caídos, feridas na boca e inchaço nos beiços de tal modo que Fabiano achou que ela estivesse com raiva e resolveu sacrificá-la. Fabiano retirava para si parte do que rendiam os cabritos e os bezerros. Na hora de fazer o acerto de contas com o patrão, sempre tinha a sensação de que havia sido enganado e pedia Sinhá Vitória para que ela fizesse as contas, o qual nunca batia com as contas do patrão. Quando Fabiano estava procurando uma égua fugida, deparou-se com o soldado amarelo que o humilhara um ano atrás e percebeu que ele era um nadica, que poderia matá-lo com as mãos, sem armas, se quisesse. O soldado perguntou-lhe o caminho. Fabiano tirou o chapéu numa reverência e ainda ensinou o caminho ao amarelo. A chegada da seca era denunciada pela invasão daquele bando de aves. Tinham a esperança de que a seca não chegasse, mas o céu escuro de arribações só confirmava a triste situação. Elas cobriam o mundo de penas, matando o gado, tocando a ele e à família dali, quem sabe comendo-os. Resolveram partir de madrugada, abandonando tudo como encontraram. Sinhá Vitória acordou os pequenos, que dormiam, e seguiu-se viagem. Fabiano admirou a vitalidade da mulher que era muito forte. Em cada passo arrastado do grupo um mundo de novas perspectivas ia sendo criado. Sinha Vitória falava e estimulava Fabiano. Sim, deveria haver uma nova terra, cheia de oportunidades, distante do sertão a formar homens brutos e fortes como eles.
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