O menino da baqueta invisível
(Maria das Graças Roubaud)
Não aguento mais esse barulho! – gritou D. Marta. Douglas já sabia. Quando a mãe gritava, era hora de pegar a sua baqueta invisível. Reclamando, largou a colher de pau, mas continuou a tocar, com as mãos vazias, dançando no ar. Esse era o grande sonho de Douglas: ser baterista. Ele só tinha cinco anos de idade, mas, quando pegava suas baquetas, parecia gente grande tocando. Logo que ouvia um som, corria. Sentava-se em algum cantinho e começava a percussão. Servia tampa, servia panela, servia até colher ou dois pedaços de pau quaisquer. Se não tivesse nada, não importava, ele tocava do mesmo jeito com sua baqueta invisível que subia e descia num ritmo perfeito. Os pezinhos marcavam o compasso e a cabecinha acompanhava o balanço, complementando o movimento de todo o corpo. Creio que só Deus podia ouvir o lindo som que apenas anjos podem tirar com uma baqueta invisível. Esse menino já está bem crescidinho, tem agora nove anos de idade e mora pertinho de mim. No seu dia-a-dia, acerta muitas vezes e em outras erra, como qualquer um de nós. A sua vontade é querer agradar sempre e fazer o que seus pais ensinam, mas tem vezes que não consegue e acaba fazendo o que era para não fazer. Foi isso que aconteceu na X Bienal do Livro no Rio de Janeiro, quando sua escola resolveu levar os alunos para uma visita e conhecer a grande variedade de livros e atividades. Foi pouco o dinheiro que sua mãe pôde colocar em sua mochila para que ele pudesse comprar alguns livros. A viagem foi muito divertida.. Todos estavam alegres e ansiosos por conhecer esse grande e importante evento, conversar com alguns autores e desenhistas e assistir às peças teatrais que seriam apresentadas pelos contadores de histórias. Pena que nem todos os alunos puderam estar lá. Douglas tinha um motivo a mais do que os outros para estar naquele dia na Bienal: um dos livros que estavam sendo lançados foi dedicado a ele. Sua tia, autora do livro, havia preparado uma homenagem para Douglas e ficou muito triste ao vê-lo passar apressado, correndo atrás da professora, pedindo sua atenção. Douglas só teve tempo de acenar para a tia, movendo as mãozinhas no ar, como quando toca com suas baquetas invisíveis. Fim de tarde. Douglas voltou para casa, levando a tristeza de não ter em sua mochila aquele que seria para ele o mais importante livro daquela bienal. - Hein! O que é isto aqui, Douglas? – falou sua mãe ao ver dentro de sua mochila uma bíblia toda ilustrada, cara demais – dinheiro que Douglas não tinha para gastar. Foi então que ele explicou: - A professora, mãe, ela deu dinheiro para eu comprar. D. Marta não conseguia entender. Por que a professora daria dinheiro para Douglas? - Douglas, você não roubou esse livro, roubou? – falou dona Marta. - Eu por acaso sou ladrão, mãe? – respondeu ele. Dona Marta fez várias perguntas. Porém Douglas sempre afirmava: - Foi a professora, mãe. Foi a professora. No dia seguinte, enquanto preparava o almoço, D. Marta assustou-se com o choro de Douglas que inconsolado gritava: - eu menti, mãe... eu menti para você. - O que foi que você aprontou dessa vez, menino? – perguntou preocupada a mãe de Douglas - Não foi a professora que deu dinheiro para eu comprar a bíblia. - E como essa bíblia foi parar na sua sacola, Douglas? Fale a verdade! Você roubou? Você roubou? - Não mãe, eu não sou ladrão. Foi o coleginha da tarde. Eu falei que queria muito essa bíblia. Aí ele pegou escondido e colocou na minha mochila. Na hora senti medo e depois pensei que você ia me bater e por isso menti para você. Eu não sou ladrão e quero devolver. D. Marta, sem saber o que fazer, pediu a sua irmã para conversar com Douglas e descobrir o que, na verdade, havia acontecido. - Meu querido, eu não quero saber se foi você ou seu coleguinha que pegou a bíblia sem pagar. Isso não interessa a mim, isso é problema para você resolver. Deus vê todas as coisas e Ele sabe tudo o que aconteceu. Se você errou e está arrependido, precisa desculpar-se com a moça da loja e devolver a bíblia – falou sua tia. Incentivado, Douglas escreveu um bilhete e colocou dentro de uma sacola junto com a bíblia e pediu: - Leva para mim, tia? Amanhã tenho prova e não posso faltar. - Claro, meu querido! – respondeu sua tia. Foi este o bilhete que ele escreveu: Moça da loja Meu amigo da tarde pegou a bíblia sem pagar e colocou dentro da minha bousa estou arrependido e poriso vou devouver. Douglas Ao receber a sacola com o bilhete, o gerente ficou supreso. Foi até uma das prateleiras, pegou um livro e escreveu esta linda dedicatória: Douglas, Não existe na vida maior alegria do que uma consciência tranqüila. Você acertou! Viva feliz! Leonardi. http://twitter.com/MGRoubaud
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