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A evolução teórica da concepção de personagem na obra Confissões de Ralfo
(Mariana Alcoforado)

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Tratar a Pós-Modernidade tendo como expoente a Literatura não parece assunto fácil ou esgotável neste pequeno ensaio. Caso tenhamos em mente que se trata de uma estética literária que ainda não tem seu lugar totalmente reconhecido e definido no panorama literário brasileiro, tal dúvida se torna certeza inquestionável. Todavia, o que nos incita a insistir na temática em foco seria, justamente, o caráter insólito presente na mesma. Logo, esta traria em si características como “heterogeneidade, diferença, fragmentação, indeterminação, relativismo, desconfiança dos discursos universais” (PERRONE-MOISES, s/d: 183), ou seja, algo muito distinto dos textos literários canônicos, que parecem se encontrar muito distantes do nosso cotidiano. Até mesmo porque, os pressupostos que os regem, como “a universalidade, a hierarquia e a durabilidade” (idem, p. 198) estão sujeitos à falência, pois a contínua renovação cultural pela qual passa a Literatura acabará por não permitir a permanência de visões estanques. Frente a isso, uma obra que contém, nitidamente, os pressupostos da Pós-Modernidade, uma vez que debate “sobre as margens e as fronteiras das convenções sociais e artísticas [sendo] o resultado de uma transgressão tipicamente pós-moderna em relação aos limites aceitos de antemão” (HUTCHEON, 1991, p. 26) é Confissões de Ralfo: uma autobiografia imaginária, cujo autor é Sérgio Sant’anna. A obra em questão é notória pelo caráter experimental, abordando temas urbanos de várias formas diferentes, algumas bastante transgressivas. O livro é a história de um escritor – Ralfo - que decide escrever uma "autobiografia imaginária", narrando vários fatos extraordinários numa sucessão inverossímil. O livro satiriza vários estilos consagrados: o diário de bordo, o filme de ação, o discurso utópico e até mesmo, no auge da ditadura militar brasileira, os relatos de tortura. Em um dos capítulos do livro, o protagonista é preso por mendicagem e posto num interrogatório em que as perguntas são do tipo que se faz na escola ("Quem descobriu o Brasil?", etc...). Diante de tantas nuances passíveis de análise, o interesse deste ensaio se volta para a a intertextualidade empreendida através de uma nova roupagem dada a personagens de narrativas conhecidas, como Alice, do País das Maravilhas, e Sancho Pança, de Dom Quixote. Todas caricatas, atualizadas pelo olhar de Ralfo. Essa intertextualidade irônica acentua o caráter crítico da obra, já que até narrativas consagradas são vistas com olhos novos, desmitificadores. Será importante para que se possa perceber a originalidade da produção de Sérgio Santa’anna rever as várias concepções dadas ao elemento narrativo personagem ao longo dos tempos. A começar por Aristóteles, que acreditava tanto na personagem como reflexo da pessoa humana e enquanto construção, cuja existência obedece às leis particulares que regem o texto. De qualquer forma, seu estudo estava bastante voltado para o caráter antropomórfico presente na personagem. Depois dele, Horácio continuou a manter praticamente o mesmo viés, com a diferença de acreditar na função pedagógica e no aspecto moral ressaltado pelos seres fictícios. A Idade Média, de igual maneira, percebia o personagem como identificação e aprimoramento moral. A Renasçenca, ao contrário, acreditava que as “artes têm valor na medida em que conduzem a uma ação virtuosa, e que a personagem deve ser a reprodução do melhor do ser humano” (BRAIT, 1985, p. 36). Mas foram os Formalistas Russos que escamotearam de vez com a noção naturalista-biológica da literatura. Tudo isso para compreendermos melhor a evolução por que passou o estudo das personagens, variando, significativamente, de teórico para teórico. Na obra posta em foco neste trabalho, mesmo que as personagens em questão passem pelo crivo formalista da teoria literária, será difícil desvinculá-las da sua associação com o lado humano, uma vez que a própria estética contemporânea acaba por prender o leitor num espaço muito próprio de seu cotidiano. O mesmo se dá em Confissões de Ralfo, cujos personagens Alice e Pancho podem ser associados com qualquer um de nós, ainda que, no interior da obra, apresentem caracteristicas extremamente ficcionais, em razão da intertextualidade empreendida . Alice, por exemplo, não é mais aquela menina curiosa; em sua nova versão, tem um pouco de Lolita, a ninfeta que atormentava a libido masculina. Pancho Sança – na subversão de Ralfo – é companheiro de pequenos furtos, nada possuindo do escudeiro racional e fiel de Dom Quixote. Ambos demonstram a subversão total com a literatura canônica, na desconfiança, segundo o narrador-autor, “de que todo o possível já foi escrito No caso de Alice, a concretização de uma tórrida relação amorosa com Ralfo coloca por terra todo o repertório literário do leitor, no que diz respeito à pureza e à inocência de Alice. O País das Maravilhas é, na verdade, não um espaço de sonhos e de idealizações infantis, mas de grandes fantasias amorosas. Pancho, por sua vez, nada possui de fiel escudeiro, apresentando, até mesmo, falta de valores morais ao trair o amigo e a praticar furtos. Ambas as personagens, numa análise que se volta para os elementos constituidores da obra, podem ser classificadas como redondas, uma vez que estão em contínua modificação interna. Alice não se sabe menina ou mulher, despudorada ou pudica. Pancho, da mesma maneira, não sabe se deve ou não trair a confiança do amigo Ralfo, desejando, intensamente, Alice. Além disso, Pancho era magro, o que pode representar o esvaziamento moral do mesmo. Ao final da obra, ambos são presos por terem invadido uma casa e dado uma festa. São presos também na rede teórica que tenta afastar o personagem de seu aspecto humano.



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