Velhice
(Claudia Maria de Almeida Carvalho)
Uma das formas de medir o grau de civilidade de uma sociedade é verificar como ela trata a sua velhice, reconhecendo, no presente, o esforço, o trabalho, a dedicação e a generosidade do passado.
A questão da velhice comporta abordagem sob diversos e diferentes ângulos. Todavia, os jornais e os meios de comunicação costumam retomar a questão exclusivamente em seus aspectos previdenciários ou de assistência social.
Considerar a velhice como sinônimo de doença era o pensamento dominante. As pessoas envelhecidas ainda são designadas quer como deficientes, inadaptadas, decadentes e por isto dignas de comiseração, ou são celebradas porque são portadoras das virtudes da idade ou porque dotadas de recursos apesar dos efeitos da idade.
A questão da falta de recursos financeiros, o problema da Previdência Social e a dificuldade nos relacionamentos familiares são alguns dos problemas enfrentados pelos idosos.
Uma série de preconceitos e mitos em torno do processo de envelhecimento e da velhice precisam ser desfeitos. Alguns deles que foram destacados pela Igreja Católica, em 2003:
- a inteligência diminui com a idade: Não diminui, haja vista a produção intelectual, artística, empresarial, social e religiosa de pessoas acima de 60, 70, 80 anos ou mais de idade;
- o idoso não aprende: Os idosos aprendem o que mais lhes interessa;
- o idoso perde a capacidade sexual: não é verdade, o que costuma ocorrer é a redução da freqüência das relações sexuais;
- idoso só deve conviver com idoso: errado. Ele tem que conviver com outras faixas etárias, dar e receber experiências, afeto, emoções, num processo de relação com pessoas de outras gerações;
- Velhice é doença: inverdade. As doenças podem atingir pessoas de todas as idades. Há idosos sadios física e mentalmente, ativos, participantes, que, embora em idade avançada, continuam produzindo econômica, social, cultural e filantropicamente;
- O idoso está mais perto da morte: na sociedade atual, todos estão arriscados a morrer a qualquer momento, de doenças contagiosas, acidentes de trânsito, entre outros fatores;
- O idoso não tem futuro: inverdade. Ele não deve morrer socialmente, mas se preparar para viver a aposentadoria. Como o período da velhice está cada vez mais prolongado, ele terá mais tempo livre para fazer o que lhe apraz;
- O aposentado é mantido pelo governo: inverdade. Ele contribuiu durante 30 anos ou mais para a Previdência Social e está apenas obtendo um retorno das contribuições feitas. Aposentado não é vagabundo e aposentadoria não é dádiva, mas justiça.
Observa-se um importante aumento na sobrevida, assim como na qualidade, permitindo uma incorporação social ativa independente da idade.
Viver mais tempo pode ser importante, se isso não se transformar num sofrimento para os idosos, pois esse acréscimo de idade pode levar a um rebaixamento de sua qualidade de vida, devido aos insignificantes valores pagos pelas aposentadorias e pensões que não permitem aos idosos manter uma vida digna.
É certo que os governantes, os responsáveis pela ação social, os agentes administrativos e os técnicos dos serviços sociais pontuam sua ação visando a camada da população envelhecida que julgam mais frágil, marginalizada, deficiente, miserável. Nestas condições, sua representação das pessoas envelhecidas caracteriza-se pelos ‘estereó­tipos da privação’: ela só pode existir pela sua vulnerabilidade, pela ameaça da degradação, do isolamento, da deficiência e da demência.
As ações começam pela conscientização de toda sociedade e o empenho de todos os envolvidos. Podem ser divididas nas categorias: as que objetivam compensar as deficiências decorrentes do envelhecimento e permitir a permanência na própria casa ou em casas geriátricas; as voltadas para a sociabilidade e que concernem ao impacto social e psicológico causado pelo avançar da idade.
Serviços de suporte técnico para o acompanhamento do avançar da idade podem ser oferecidos pelos serviços sociais municipais, pelas instituições filantrópicas, pelas igrejas, pelas organizações não governamentais e pelos clubes sociais.
Existem políticas de atendimento domiciliar e centros de cuidados diurnos que prestam atendimento ambulatorial a idosos dependentes, além de formação de cuidadores de idosos, pessoas da família ou não, que recebem orientação técnica para acompanhar os mais velhos e atender às suas necessidades. Mas ainda são raros.
Alguns avanços podem ser citados: Clubes da Terceira Idade; Conselho Nacional dos Direitos do Idoso; Associação Cearense Pró-Idoso; Programas criados pela Pastoral da Criança: Ação terceira idade e De bem com a vida; programa Nacional de Cuidadores de Idosos, programa que enfrenta pressões contrárias por parte dos profissionais de enfermagem que acreditam que perderão espaço no mercado de trabalho -, embora ambos tenham funções distintas e bem definidas; Política Nacional do Idoso; Política Nacional de Saúde do Idoso; Constituição Federal, art. 230; Estatuto do Idoso, no qual, tutela-se a saúde psíquica, moral, física e, especialmente, a liberdade espiritual dentro do contexto social.
O essencial agora é deixar de considerar o ser humano entrado na velhice como ‘descartável’.
Da transformação dos elementos culturais, costumes, valores, em novas atitudes diante do idoso dependem o bom resultado das políticas já adotadas.
O investimento da melhoria da qualidade de vida do idoso, em especial, do idoso carente, não pode ficar restrito à família ou à saúde, deve compor também o espírito geral, inclusive do Estado, fazendo valer o Estatuto do Idoso e todas as ações típicas da solidariedade, da fraternidade e do bem-viver.
Procurar motivar a família, a sociedade e o poder público para que sejam construtores de novos relacionamentos e novas estruturas que assegurem valorização integral à pessoa idosa e respeito aos seus direitos deve ser a palavra de ordem.
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