Segredos da Voz - Sistema Nervoso 2
(Manuela de Sá)
O sistema nervoso é responsável por actos voluntários e actos reflexos. As acções voluntárias partem dos neurónios situados no cérebro. As acções reflexas ou involuntárias, tais como a respiração, batidas cardíacas ou digestão, situam-se ao nível do bulbo raquidiano. Outros actos reflexos, como afastar o corpo do calor intenso ou fechar os olhos perante ameaça, situam-se ao nível da espinal-medula, não chegando a alcançar o cérebro; nestes casos, antes de sentida ou descodificada a sensação, já a pessoa retirou a mão ou fechou os olhos. O nervo sensitivo apercebe-se do perigo, comunica à espinal-medula, que através do nervo motor defende o corpo da agressão externa pela acção muscular que desencadeia. Só mais tarde a dor é sentida: o reflexo veio antes da descodificação cerebral, e não depende de uma aprendizagem (Starling, 1968).
Para além das funções sensitiva e motora o cantor necessita de outra função do sistema nervoso central: a memória. As impressões provenientes das experiências auditivo-vocais são retidas no cérebro; exemplo: experiência nova ou já vivida, experiência boa ou má.
Quando o cantor produz um som novo (emitido de uma nova forma) e que corresponde aos seus padrões de qualidade (bom), arquiva para não se esquecer na vez seguinte. Quando o bom resultado não foi só casual, mas proveniente de uma indicação do professor, então não é só a memória auditiva que funciona, mas toda a postura que lhe estava associada. É assim que o cantor faz a aprendizagem.
Estes comportamentos vocais neuro-musculares, depois de muito trabalhados, deixam de necessitar de grande esforço de concentração, pois todo o mecanismo começa a desencadear-se automaticamente, tal como o condutor que deixa de pensar que mudança deve usar em cada momento.
Os neurónios comunicam entre si mas não se fundem, mantém a sua individualidade. Os pontos de contacto ou ligações entre os neurónios denominam-se sinapses, locais onde as vesículas de mediadores químicos os libertam, condicionando as alterações transmembranares que vão permitir a propagação do influxo nervosos aos outros neurónios. Os impulsos necessários para que se faça a descarga dos mediadores químicos resultam da troca de iões, cuja concentração é regulada por bombas de sódio e potássio que actuam ao nível transmembranar.
Quando a célula está em repouso é negativa, tem maior concentração de iões negativos, átomos em que predominam os electrões, enquanto o exterior tem normalmente maior concentração de iões positivos, átomos com deficit de electrões. Quando esta situação se inverte a célula despolariza, perdendo o equilíbrio eléctrico e gerando um impulso que a percorre.
Existem mediadores químicos que estimulam os influxos nervosos, outros que os retardam ou que inibem por completo a passagem dos influxos de neurónio em neurónio (princípio da anestesia). Para que os influxos passem de um neurónio para o outro é necessário que o segundo sincronize com o primeiro para que exista “ressonância” ou “isocronismo”, isto é, que ambos os neurónios tenham um nível de excitabilidade semelhante em função do tempo. A este nível de excitabilidade que cada elemento nervoso possui em função do tempo denomina-se “cronaxia”.
(continuação no artigo “Segredos da Voz – Sistema Nervoso 3”).
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