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O Sorvete
(Carlos Drummond de Andrade)

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"Quando chegamos ao colégio, em 1916, a cidade teria apenas cinquenta mil habitantes, com uma confeitaria na rua principal, e outra na avenida que cortava a rua. Alguns cafés completavam o equipamento urbano em máterias de casas públicas de consumação e conversa, não falando no espantoso número de botequins, consolo de pobre. As ruas do centro eram cobertas pelo comércio de armarinhos, ainda na forma tradicional do salão dividido em dois, fregueses de um lado, caixeiros e mercadores do outro; (...) O centro da aglomeração social, concentrando todos os prestígios, impondo-se pelas seduções que emanavam de cartazes coloridos, que nos pareciam rutilantes e gigantescos, e beneficiando-se à noite (contavam-nos) com a irradiação dos focos luminosos dispostos em fieira na fachada, era o cinema".
Neste ambiente, situa-nos Drummond, ao iniciar a narrativa que conta de dois garotos de um colégio interno. Joel de treze anos e seu colega saíram um dia do colégio -num domingo que lhes era permitido - com a intenção de ir ao cinema. Os dias livres eram aguardados com grande expectativa..."como afinal, para tanta gente de espírito infantil ou adulto, matéria para a recordação que compensasse as horas de ócio, desânimo ou trabalho, quando não simplesmente que se pudesse exibir a colegas menos afortunados, porque passaram presos o domingo: 'Eu fiz isto, e você não; fui ao circo e você não; e até vantagem dramática - machuquei uma perna e você não!".
O fato é que neste domingo, com este espírito, passaram por uma confeitaria e encostado em uma das portas leram em um quadro negro escrito com giz branco: "HOJE, Delicioso sorvete de ABACAXI; Especialidade da casa. HOJE!"
Tal novidade causou ao menino maior expectativa ainda. Disse: "Nunca tomei disso". Ao que Joel respondeu; "Eu também não. Deve ser uma porcaria". O menino procurou então persuadí-lo até que então decidiram provar o sorvete ao invés de ir ao cinema. Já na confeitaria, "o garçom depositou cuidadosamente sobre a toalhinha alva dois copos de água, dois guardanapos de papel, com florzinhas pálidas e duas tacinhas de vidro, contendo cada uma delas, meia esfera de uma substância alva e brilhante..." É o mesmo Drummond quem nos pergunta: "Afinal, este sujeito quer transformar o ato de tomar sorvete em uma cena histórica?" Ele mesmo nos responde que nos coloquemos no mais longe do sertão, no lugar daqueles garotos que nunca tinham sentido na boca o frio de uma pedra de gelo e foram seduzidos pela astúcia de um convite para algo "delicioso". Mas todo o encanto se desfez em um momento ao provar o detestável sorvete, de frio doloroso. Parecia-lhes impossível continuar com aquilo mas sob o olhar dos frequentadores, do garçon, do caixa não viam outra alternativa que ingerí-lo pois, "como fazer desaparecer um objeto de difícl transporte e conservação, num lugar público?" Refreando as lágrimas e o desapontamento mastigaram as últimas substâncias daquela substância atroz. Entreolharam-se satisfeitos... haviam conseguido; afinal "a vida é um combate". O garçon aproximou-se, Joel pôs a mão no bolso e perguntou quanto era. O dinheiro não chegava.



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