Resumo de Seis Estudos - Estudo 1 - Uma Passagem Interessante no Evangelho Segundo Mateus - cap.25-verso 46

UMA PASSAGEM INTERESSANTE
Evangelho Segundo Mateus 25:46

Autor :- Prof. Otoniel Mota
Editado por:-
Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais - 1938

“ E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.” (Mateus 25:46).

O estudo é sobre a teoria tradicional das penas eternas. Encarada a questão do ponto de vista filológico e exegético, não há como dogmatizar no assunto, pois, as mais fortes passagens em que se estriba a ortodoxia tradicional são fracas à luz de um rigoroso exame filológico.
Se em outros passos o adjetivo grego “aiónios”, traduzido normalmente por “eterno”, pode não ter a idéia do nosso absoluto e moderno eterno, no texto em discussão o paralelismo das expressões elimina qualquer dúvida. É muitas vezes alegado que eterno (aiónios) em castigo eterno deve ter o mesmo sentido que em vida eterna. Sem dúvida, mas isso não nos dá o direito de dizer que eterno em ambos os casos signifique “sem fim”.O sentido de eterno pode não ter referência alguma a duração de tempo.Tampouco a expressão “castigo eterno” é sinônimo de sofrimento eterno, e ainda menos de sofrimento sem fim. Castigo eterno pode significar “perda eterna” ou “perda irreparável”, mas não decorre legitima inferência de perda irreparável para sofrimento eterno.
Não se duvida de que há um castigo chamado eterno;o que se coloca em dúvida é se eterno quer dizer “sem fim”, e nada senão isso. Esse adjetivo - “aiónios” – flutuante em seu significado, espicha ou encolhe, conforme o contexto em que está; conforme o substantivo a que se apega: é absoluto ou relativo, conforme as circunstâncias, de maneira que pode, sem violência, no mesmo texto, alargar e restringir sua significação.
No que diz respeito à condenação dos réprobos, a cristandade piedosa e ortodoxa se divide em várias correntes, sendo uma delas a que admite a extinção gradual dos maus. Essa teoria nada tem a ver com a teoria de que a alma morre com a morte do corpo – puro materialismo – nem com a teoria do sono da alma – outra forma de materialismo disfarçado.
Por essa teoria a imortalidade da alma é um dom de Deus, dom condicionado ao bem, dom que Deus pode tirar do homem quando o homem o conspurca. A alma não tem o ser e a imortalidade “ex sese”, ela só é imortal em Deus. “ Eu vivo-disse Jesus- e vós vivereis.(Jo14:19).Fora de Deus, que é a fonte da vida, só há morte ou tendência para a morte.Só Deus é o Ser, e quem, por um ato de rebelião, se põe fora do Ser , tende para o não ser.O estipêndio do pecado é a morte (Rm. 6:23), e morte, aqui, não é apenas “condenação”, a não ser por uma violenta metáfora.Morte é “morte”, definhamento, destruição, extinção do corpo e da alma.Se não é isso, o texto de Mateus 10:28 não tem sentido: “Temei aquele que pode destruir não só o corpo, mas também a alma.”
Em nosso texto de Mateus 25:46, pela própria natureza das coisas, o adjetivo “aiónios” – eterno – é absoluto quando se refere a vida – porque está em Deus – mas relativo, quando se refere a castigo – porque está no homem sem Deus. Se há aqueles que dogmatizam sobre as penas eternas, limitamo-nos a dizer que cremos na condenação dos maus, cuja sentença é lavrada por suas próprias mãos, mas não dogmatizamos, nem quanto à natureza do castigo – que está fora de nossa capacidade de julgar – nem quanto à extensão, que a Bíblia não determina.
Mas, devemos ainda destacar, há coisa porventura mais interessante, é a corrente da “Esperança mais larga”, da Eternal Hope: a corrente da restauração de todas as coisas em Jesus Cristo. Por ela os maus não serão extintos, mas restaurados, salvos no final das contas, pela misericórdia infinita de Deus. Afinal, por que um castigo eterno, sem fim e sem finalidade. A função de um castigo, é corrigir, disciplinar. Punição não é e nem pode ser retaliação, ou , transforma-se em vingança.

Felix qui potuit rerum cognoscere causas.
Dei Gratia.

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