A CRISE NO QUIRGUISTÃO:DEMOCRACIA OU GEOPOLÍTICA?
(PESQUISA)
A crise no Quirguistão: democracia ou geopolítica?
As eleições legislativas realizadas na ex-república soviética do Quirguistão (a segunda mais pobre da ex-URSS) no mês de março, acabaram por gerar uma crise já esperada. O presidente Askar Akayev, que estava no poder há quinze anos, desde a queda da URSS, fugiu para o Cazaquistão, em função das violentas manifestações populares, que o acusavam de fraude.
Enquanto a comunidade internacional saudava o acontecimento como uma manifestação da vontade democrática, as manifestações se transformavam em saques e pilhagens. Pior ainda, o presidente e primeiro ministro interino Kumanberk Bakiyev, nomeado pelo parlamento para governar até as eleições de junho, está em conflito com o novo ministro da Segurança, Felix Kulov, um opositor do ex-presidente, que acaba de ser libertado.
Sem dúvida, o ex-dirigente governava de forma autoritária, mas os acontecimentos se enquadram numa seqüência de fatos que demonstram uma importante disputa geopolítica, exatamente como recomendou o acadêmico norte-americano e ex-secretário do governo Carter, Zbigniew Brzezinski, no livro The Great Chessboard, de 1997. Nele, este prestigiado especialista em geopolítica diz claramente que os EUA devem colocar as ex-repúblicas soviéticas sob sua influência, como forma de impedir que a Rússia volte a ter um poder equivalente ao da antiga União Soviética.
Ora, desde que Vladimir Putin assumiu a presidência da Rússia, o país vem se recuperando econômica, administrativa e militarmente, inclusive resgatando a influência sobre as ex-repúblicas soviéticas através da CEI (Comunidade de Estados Independentes). Em 2003 a Rússia, a Ucrânia, a Bielorússia e o Cazaquistão criaram uma zona econômica unificada, a qual o Quirguistão planejava aderir. Então, em novembro de 2003, a "Revolução das Rosas" derrubou o governo pró-russo da Geórgia, em 2004 os três países bálticos aderiram à OTAN e à União Européia, na passagem de 2004 para 2005 a "Revolução Laranja" colocou no poder um elemento anti-russo na Ucrânia e em março a Moldova teve eleições em que comunistas pró-europeus venceram e ocorreu a mudança política no Quirguistão, com a implantação de um governo também anti-russo.
Em todos estes movimentos, o descontentamento da população com a corrupção, o autoritarismo e as dificuldades econômicas foi um fator determinante. Mas igualmente a presença de forças políticas ocidentais em apoio às oposições foi um elemento importante para a mobilização. Além disso, cabe notar que os líderes derrubados, anteriormente eram mais próximos do Ocidente e já tinham práticas políticas negativas, sem que isto houvesse gerado distúrbios ou crises de governabilidade. O Turcomenistão, o Uzbequistão e o Azerbaijão são casos de países com regime tirânicos, mas aliados do Ocidente. Assim, pode-se concluir que, por um lado, as independências das ex-repúblicas soviéticas em 1991 não foram acompanhadas pela implantação de regimes democráticos.
Mas, por outro lado, o elemento aglutinador do verdadeiro efeito dominó que sacode a periferia da ex-URSS é uma forte disputa geopolítica entre os EUA (com certo apoio europeu) e a Rússia. Esta última tem acumulado derrotas, embora internamente tenha controlado elementos pró-ocidentais e a guerrilha chechena. O problema é que a Ásia central faz fronteira com a China e é uma região instável, devido à presença de movimentos islâmicos fundamentalistas, alguns dos quais praticam a guerrilha e o terrorismo. E os governos locais haviam conseguido, em grande medida, neutralizá-los. Mas se houver um vazio de poder na Ásia central, talvez não seja a democracia que se espalhe, mas a instabilidade e a violência política.
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