Grandes Diretores De Cinema
(Laurent Tirard)
Existe uma fórmula para fazer um bom filme? Não. Esta é a resposta simples e segura de 20 cineastas em atividade nos quatro cantos do mundo ao jornalista francês Laurent Tirard, registrada no livro Grandes Diretores de Cinema, que acaba de sair no Brasil pela Editora Nova Fronteira. O livro reúne uma série de entrevistas publicadas pelo cineasta e jornalista na sua coluna Lições de Cinema, da revista Studio Magazine, com cineastas como Woody Allen, Martin Scorsese, Lars Von Trier, Tim Burton, Emir Kusturica, Jean-Pierre Jeunet, Wim Wenders, Joel e Ethan Coen, Sidney Pollack e Pedro Almodóvar, entre outros .A obra mostra que todos os grandes cineastas têm seus métodos próprios. Martin Scorsese, por exemplo, gosta de preparar as tomadas de forma bastante precisa, com antecedência. Lar Von Trier, por sua vez, se nega a pensar antecipadamente sobre um plano de cena e só escolhe mesmo no momento de gravar. Pedro Almodóvar afirma que os cineastas devem abandonar a ilusão de que são capazes de controlar o processo criativo de seus filmes.Os papos são deliciosos, privilegiando aspectos técnicos (como trabalhar com atores, como posicionar a câmera, que lentes usar em determinadas cenas, como montar um filme), mas em linguagem simples e acessível, mesmo porque, depois de uma pequena apresentação do autor da obra, os diretores passam a falar diretamente com os leitores, da mesma forma que Woody Allen inovou a sétima arte em 1977 colocando Diane Keaton e ele próprio para falarem diretamente com a câmera no premiado Noivo Neurótico, Noiva Nervosa – um dos assustos do cineasta no livro.A idéia de Tirard era colocar os cineasta respondendo a questões como: “Qual o efeito de trabalhar com este ou aquele ator?” ou “como se decide onde colocar a câmera para um dado plano?”. As respostas parecem simples, mas se revelam lições preciosas. Scorsese, por exemplo, trata da questão fundamental de todo diretor: onde é preciso colocar a câmera para permitir que o plano mostre o que deve mostrar?“Pode se tratar de uma idéia puramente física – um homem entra num cômodo e se senta numa poltrona – ou, ao contrário, de algo temático, isto é, de uma reflexão filosófica ou de uma observação psicológica”, comenta o diretor de Taxi Drive, cuja solução, acredita, vem da certeza do realizador em saber que tem algo a dizer. “Não é necessariamente algo literal, que se retranscreve sob a forma de diálogos. Às vezes, você pode ter apenas vontade de comunicar um sentimento ou uma emoção. E está longe de ser a coisa mais simples do mundo.” David Lynch ensina que o verdadeiro poder do cinema não reside no simples fao de se contar uma história, mas na maneira como ela é contada, “na capacidade de ser criar um mundo, uma atmosfera ou uma sensação nos quais o espectador se veja imerso”. Bertolucci, por sua vez, revela que é obcecado pelo olho da câmera e que é ela quem dita a forma com que ele dirige. “A câmera é verdadeiramente meu centro de interesse principal e prioritário nas filmagens”, resume.Outra lição preciosa dos cineastas é que não existem regras para fazer um bom filme. Almodóvar lembra a perplexidade provocada por suas respostas ao conversar com estudantes de cinema. “Eles imaginavam que eu iria expor todos os tipos de regras precisas e maduramente refletidas, mas a verdade é que, quer haja regras demais ou de menos, conheço centenas de exemplos que provam que, mesmo burlando cada uma dessas regras, é possível fazer bom cinema”, comenta.Almodóvar lembra que, quando realizava seu primeiro filme, Pepi, Luci e As Outras (1980), teve problemas que o obrigaram a filmar três planos de uma mesma cena com um ano de intervalo. Resultado: no início da cena, a atriz está com cabelos curtos, no seguinte eles estão mais compridos e, no terceiro plano, ela os tem longos. Ou seja, ia de encontro à mais básica das regras, a da continuidade. “Ora, ninguém nunca notou”, disse. “Isso, para mim, foi umagrande lição. Provou-me que, afinal, ninguém se importa com os defeitos técnicos a partir do momento em que o filme conte algo de interessante e com um verdadeiro ponto de vista.”
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