João e os "Stives"
(Arimar Vieira da Costa)
JOÃO E OS STIVES João, rapaz pobre e trabalhador, tinha uma pequena lanchonete e trabalhava sozinho, solteirão, já com mais de trinta anos, mas pouco importava, tinha algumas namoradas, com as quais de vez em quando, arrumava um tempinho para sair. Abria as 8:00 hs e fechava as 22/23:00 hs, todos os dias, de domingo a domingo, até que um dia resolveu chamar um irmão para ajudá-lo, pois o mesmo estava desempregado e era recém casado, precisava de alguma remuneração para seu sustento e de seus familiares. Ligou e deixaram para o dia seguinte, onde combinariam, sálario, horário e tudo mais. João passou a trabalhar mais folgado, pudera enfim ter um pouco de descanso e lazer, resolvera então no dia seguinte ir ao cinema e pediu ao irmão que, caso demorasse um pouco, não se zangasse e que fechasse a lanchonete, pois fazia uns dois anos ou mais que não saia para canto nenhum. Ele morava numa cidadezinha próxima a Paris, chamada Taboão da Terra. Pegou seu carro, uma velha Brasília, porém, bem conservada, que comprara recentemente com muito sacrifício e foi. Chegando no centro de Paris procurou um lugar para estacionar, só encontrou na Rua dos Bimbiras, rua movimentada e de prostituição, com varios cinemas pornográficos e muita malandragem, embora preocupado, estacionou assim mesmo. Seguiu para a Av. São Boão, grande avenida e cheia de cinemas, onde poderia ver filmes de melhor qualidade, segundo relato de pessoas conhecidas. Ficou por quase três horas trancado vendo o filme, ao sair, vai a um bar para comprar cigarro, resolvendo tomar uma cerveja. Estava tranquilo, olhando o movimento de pessoas apressadas, indo de um lado a outro, todas bem arrumadas e sérias, alguns mendigos pediam esmolas, crianças com olhos avermelhados, chamando-o de tio e dizendo estarem passando fome, com vários irmãos em casa , os pais doentes e não poderiam sustentá-los, também solicitavam ajuda, pagou a despesa e já ia se retirando quando, de repente, estaciona uma viatura de polícia, pedindo para que todos os presentes, entrassem na parte traseira do veículo. João assustado e com medo, pois, tinha malandro, prostituta e travesti naquele espaço tão pequeno e nunca tivera passado por uma situação daquelas, considerando muito humilhante. Chegando ao distrito, foi ordenado que se colocasse todos os pertences sobre a mesa, os quais seriam colocados separadamente em uma embalagem parecida com um alforge de pano, que seriam devolvidos após verificação de antecedentes e posteriormente seriam liberados, quando João tentou argumentar, alegando que era comerciante, podendo verificar nos seus pertences, que tinha um talão de cheques, cujos canhotos verificar-se-ia não estar dizendo mentira, no que estupidamente lhe foi dito : _ Cala a boca, vagabundo! Coloquem este verme no xadrez. Assustado, abaixou a cabeça e foi caminhando juntamente com os demais e pensava em que situação estava:Terrorismo, sequestro, porém, um dos sujeitos lhe disse: -Tio é melhor o sr ficar calado,fica na sua, senão o bagulho pode piorar! E ele nem sabia que tal"bagulho" era esse! João tinha deixado sobre a mesa, uma gargantilha de ouro, uma pulseira de prata, 2 anéis de prata e cerca de 300 cruz.... quero dizer 300 francos, junto com toda sua documentação, só que provavelmente não viram ou esqueceram de pegar o chaveiro, onde estavam as chaves do carro e ele resolveu não tocar no assunto, tratando de escondê-lo na cueca. Foi colocado numa pequena cela que ficava ao lado de muitas outras, onde ouvia outros elementos dizendo palavrões, fazendo as mais absurdas ameaças, pedindo cigarros e até dinheiro, na sua grande maioria pessoas cheias de tatuagem e de um palavreado diferente do que costumeiramente ouvira. Notou que no canto da cela, tinha um sr de + ou – 45/47 anos agachado, todo encolhido, tentou conversar com ele, porém estava muito assustado e não queria conversa com ninguém, mas parecia ser boa pessoa. Já fazia horas que estava detido e de vez em quando, aparecia numa pequena janela um funcionário com um papel na mão, chamando pessoas, que eram liberadas, todas iguais as que estavam dentro das celas maiores, isto é, pessoas de palavreado estranho, com tatuagens, travestis, etc.... Pessoa de reputação exemplar, João estava indignado, pois entravam e saiam com a mesma rapidez, malandros e travestis, ficando ele e aquele sr com o qual tentara conversar mas, lembrou-se do ocorrido quando chegou, engoliu a indignação e resolveu ficar calado. Ao amanhecer, foi chamado junto com aquele sr calado, foram os últimos a serem chamados para pegar seus pertences, onde notou estarem faltando: a gargantilha de ouro e uma parte do dinheiro. Ao pegar as notas, olhou-as, o sujeito que estava sentado esmurrou a mesa e chamando um sujeito muito mal encarado, disse aos berros:_ Stive Este vagabundo está insinuando que roubamos o dinheiro dele, parece que gostou da estadia. João engasgou mas, conseguiu balbuciar :_ Não, sr. - disse, tremendo João - Está tudo certo, eu não disse nada!! Nesse momento o tal Stive já vinha na sua direção, tomou-lhe o dinheiro da mão, antes que pudesse colocá-lo no bolso, retirando mais da metade, devolvendo o restante e mandou-lhe embora. Quando saiu da delegacia, procurou saber o nome da rua, perguntado a uma pessoa que passava e como faria para chegar a Rua dos Bimbiras: _ O sr está na Rua Pio Branco, disse-lhe uma mocinha, siga até o farol, dobre a direita, andando por umas quatro quadras, dobre a direita novamente e chegará aonde desejas. -Obrigado. Disse João. Entrou num bar para tomar café, resolveu contar o dinheiro e só tinha 40 cruz... digo francos. Seguiu até a Rua dos Bimbiras, onte deixara na noite anterior o carro estacionado. Chegando notou que o vidro do lado do motorista estava quebrado e faltava o toca-fitas. Pensou e julgou melhor nem notificar o ocorrido, tratou de voltar pra casa, já chegava de prejuizos por aquele dia. Deus me livre!,pensou, tomei uma raiva de Paris, nunca mais sairei de Taboão da Terra, onde vivo tranquilo e não tenho que conviver com tanta malandragem. Chegando em casa, ligou para o irmão explicando o que tinha ocorrido e que ficaria descansando, pedindo para ele(o irmão) cuidar de tudo e no dia seguinte voltaria ao normal. Passados cinco dias roubaram-lhe a Brasília, ficou possesso e com ajuda de um vizinho, andou pelo bairro e conseguiu encontrá-la, toda desfigurada, sem pneus, sem motor e os bancos jogados do lado de fora, todos rasgados também, amarraram numa corda e levaram-na para casa de João. Colocou os bancos rasgados e saiu a procura de um motor e quatro pneus. Um conhecido de João disse saber que tinha uma mulher vendendo um motor e quatro pneus no Jardim Piracussara. _ Vou até lá _disse João_ Se não for muito caro, comprarei. Na intenção de vender o carro, pois, não estava lhe trazendo muita sorte. Ao encontrar a mulher, perguntou-lhe o preço e disse querer verificar a mercadoria. Quando a mulher trouxe os pneus, sentiu um calafrio, eram os seus, tinha certeza, pensou e deu uma desculpa. - Vou ao banco buscar o dinheiro e retornarei, muito me interessa, não levarei mais que meia hora. Foi até a delegacia e tentou registrar a ocorrência, quando disse o ocorrido juntamente com o endereço da meliante, que havia conseguido com um conhecido, o atendente chamou um outro tal de Stive e disse para acompanhá-lo, sua surpresa foi tanta que passou a não entender mais nada, estava preso e ficou por dois dias. Quando fo
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