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PanAmérica
(Aleph Davis)

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Em 1967, um épico já deglutira o ''imageário'' pop de forma radical: PanAmérica, de José Agrippino de Paula, que circulou em poucas mãos até seu autor cair no esquecimento. O cultuado PanAmérica é como Ulisses de James Joyce: cita-se por aí, não se lê. Essa antilira paulistana é uma arquitetura de capítulos sem parágrafos, um grande fluxo carregado de pormenores guiados por um Eu reiterativo, cinematográfico:''Eu falei com o piloto do meu helicóptero apontando o caminhão de gasolina, e o helicóptero fez uma manobra sobre o caminhão-tanque e pousou alguns metros adiante. Eu saltei do helicóptero e gritei para o enorme negro que verificava o lança-chamas: ''Hei!'' Eu perguntei a ele como estava o lança-chamas para funcionar como coluna de fogo''.
Na longa epopéia em que tudo está na superfície, como as imagens chapadas de Roy Lichenstein e Andy Warhol, o Eu reiterativo transita pelo capitalismo onipresente, o colosso americano opulento e caótico. O Eu reiterativo dirige a megaprodução hollywoodiana ''A Bíblia'', estrelada por Burt Lancaster, vive uma tórrida '' love-story '' com Marilyn Monroe, deleita-se em orgasmos com soldados jovens no quartel, metralha outros soldados em guerrilha na selva venezuelana, esmaga os testículos de Joe Di Maggio, dá golpes de karatê em militantes da Klu Klux Klan, vive seqüências psicodélicas de sangue e escatologia onde a Estátua de Liberdade grita e esmaga multidões e em que bombas de Napalm queimam o povo. Apocalipse de São João num Oldsmobile conversível. Um Homero São Jorge Guerreiro.
''Oswald de Andrade disse tudo. Agora, temos que viver o que ele disse''. Essa afirmação de Zé Agrippino, citada por Caetano em jornal dez anos após ''PanAmérica'' (livro citado na letra de Sampa: "PanAmérica de Áfricas utópicas no mundo do samba mais possível, novo Quilombo de Zumbi"), é um dos sinalizadores da estrada em que o autor do romance pôs os pés para produzir seu caldo literário: o canibalismo simbólico que reúne o ''bárbaro e nosso'', velhos produtos de tradição, novos projetos de ruptura e os repertórios técnico-póeticos engendrados no cenário da produção de massa.
Falecido em 4 de Julho
Como diria Tom Zé, homem que foi enterrado vivo duas vezes, o escritor e cineasta José Agrippino de Paula vivia esquecido do mundo no Embú das Artes, como se tivesse morrido para os vivos. De vez em quando, lembravam-se que ele existia - sua literatura, como sua vida, nunca foi feita para reiterar uma realidade, mas para inventar outra bem distinta.
O autor morreu de fato na quarta-feira, 4 de julho de 2007, vítima de enfarte, no retiro em que se enfiou meio que voluntariamente desde o inicio dos anos 80. Ele faria 70 anos no dia 13. Sofrendo de esquizofrenia, passou grande parte dos seus últimos dias tutelado pelo irmão e cuidado pela mãe. Quando esta morreu, em idade avançada, Agrippino ficou sozinho em sua casa, resistindo aos cuidados de saúde e higiene mais básicos.
O bruxo do Embú, como o chamavam os mais chegados, mudou a face da literatura brasileira, fundou o movimento filosófico Kaos com Jorge Mautner, e influenciou bastante a Tropicália e seus protagonistas mais conhecidos, Caetano Veloso e Gilberto Gil. José Agrippino de Paula vivenciou os conteúdos da vida no final do século passado com tanta frieza e tanta paixão que talvez não haja no mundo nenhuma obra literária contemporânea de seu PanAmérica que lhe possa fazer face. O livro soa, e já soava em 1967, como se fosse a Ilíada na voz de Max Cavalera”, escreveu Caetano Veloso.
A primeira vez que Agrippino renasceu em vida foi em 1988, quando o Museu da Imagem e do Som organizou uma retrospectiva de sua obra e reeditou PanAmérica. Há poucas semanas, a Papagaio Editora recolocou no mercado tanto PanAmérica quanto o assombroso livro de estréia do autordo clássico PanAmérica para uma edição francesa, Édition Leo Scheer, com lançamento previsto para 2008. A editora vai reeditar toda a sua obra, e anuncia o próximo texto: Nações Unidas, peça de teatro inédita e escrita nos anos 60.
A segunda vez que Agrippino ressuscitou foi em 2005, quando a psicanalista Miriam Chnaidermann encontrou, na feira de antiguidades da Benedito Calixto, uma câmera super-8 igual às que Agrippino usou nos anos 1970. O escritor sempre dizia aos seus interlocutores, que o procuravam no Embu, que voltaria a filmar se tivesse uma daquelas câmeras. Miriam e seus colaboradores compraram o material e investiram no projeto de tentar trazer Agrippino de volta a atividade criativa. Enquanto tentavam, faziam seu próprio filme, documentando a tentativa e o mundo de Agrippino no curta "Passeios no Recanto Silvestre", sucesso no festival É Tudo Verdade. Há quem veja laços entre Zé Agrippino e Gláuber Rocha, mas as imagens de PanAmérica não têm o estrato alegórico do Cinema Novo. São, isso sim, meta-signos que apontam para o cinema udigrudi - ele, por final, como diretor, fez filmes que dialogaram com as vanguardas que explodiriam mais tarde, como Hitler Terceiro Mundo -, numa poética da mixagem. Mixagem, mixórdia: técnica e brutalismo.



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