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O papel da mulher africana: economia, cultura e rituais
(Ayla)

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O papel da mulher africana: economia,
cultura e rituais





Com Margaret Mead e as suas etnografias, as mulheres começaram receber
mais atenção como objectos de estudo por parte dos investigadores sociais.
Claro que pela perspectiva de uma antropóloga, as metodologias e as questões
eram vistas à luz de uma lógica diferente. De salientar o contexto colonial a
par dos movimentos feministas, que começaram a aparecer nos anos 30 do século
passado, emprestavam um cunho algo ideológico à problemática e, de certa forma,
como uma realidade alternativa à cultura ocidental. Nalguns casos, como no caso
das colónias francesas, deu-se uma espécie de “movimento de libertação” das
mulheres africanas por parte das feministas francesas tentando “resgata-las” do
jugo de uma sociedade que as reprimia. O ponto de vista emic não foi
aqui compreendido e por conseguinte, o papel real que a mulher tinha na
sociedade..

Passada a época colonial e o “calor” dos movimentos feministas da
primeira metade do séc. XX, a importância da mulher dentro da sua sociedade
começou a ser melhor compreendida quando se observou o seu papel de actor
social interveniente na economia, politica e religiosidade da sua própria
cultura. Mas mesmo assim os ecos desse passado recente é retido pelos
investigadores que, se deparam com uma situação algo paradoxal em que por um
lado a mulher é detentora de uma relativa independência económica em
praticamente toda a Africa, podendo ascender a um determinado status social e
politico e por outro, estar submetida aos seus parentes masculinos e a
determinados ritos de passagem para ser completamente aceite na sociedade. A
questão de géneros não deixa de estar completamente entrelaçada em todos os
aspectos da vida das comunidades africanas, cabendo compreender estas
estruturas que sustentam as suas culturas. Questões como a honra e o prestígio
parecem estar nas mãos das mulheres, daí ser necessário um controlo sobre elas,
seja através da autoridade masculina ou das balizas culturais hegemónicas. Aparece-nos
assim uma nova visão da mulher africana, em particular nas questões económicas,
podendo-se observar mesmo nos lugares onde as mulheres mantêm rendimentos
separados dos maridos ou demais familiares com uma relativa independência,
quando não totalmente independentes.

As esferas masculinas e femininas mantêm-se separadas e em muitas
sociedades o estatuto social ou político é obtido independente dos homens. Não
se observa uma igualdade “democrática” entre géneros estando cada um consciente
do seu papel na sociedade. Aparentemente a questão da equidade é algo que o
relativismo cultural ocidental procura em algumas sociedades africanas.

Para muitos investigadores o matriarcado puro nunca existiu, apenas uma
questão de status social, provavelmente numa altura em que as sociedades
dependiam quase exclusivamente da agricultura praticada pelas mulheres em que
detinham um prestígio muito maior do que aquele que se observa actualmente. As
mulheres africanas como detentoras da economia familiar sempre se tem
verificado, inclusive durante o período colonial em que as estruturas sociais
foram modificadas ao ponto de lhes retirarem poderes, quer a nível político,
quer a nível económico. O papel dos cultos de possessão em que seriam as
principais intervenientes também se traduzia em poder politico, que acabou por
se perder com a chegada dos missionários e com as politicas coloniais com não
eram de forma alguma compatíveis com o sistema social que equilibrava os dois
sexos. Claro que antes e depois do colonialismo os processos de interacção dos
dois sexos não se apresentam estáticos e estão sempre a modificar-se, mas o
colonialismo veio trazer perda de status com repercussões que ainda se
reflectem dos dias de hoje. Mas se o seu poder, salientando o económico, foi
devastado pelo colonialismo a reacção ao problema também não foi pacífico. As
mulheres reagiram de varias formas numa tentativa de o restaurar.

Assim, ilustra-se como uma introdução de elementos estranhos a uma
cultura pode altera-la por vezes de modo permanente, descaracterizando-a. Essas
alterações repercutem-se a todos os níveis da sociedade, não só a nível
económico, mas como no caso dos rituais de iniciação, em que os valores
culturais são reafirmados, assumem um papel de integração e contribuem para a
coesão social, as dinâmicas sociais acrescentam ou subtraem valores
contribuindo para uma preocupação acrescida dos mais velhos em relação aos mais
jovens.

Durante a época colonial muitos rituais foram suprimidos pelas políticas
coloniais e pela igreja católica numa tentativa de aniquilar as culturas das
comunidades consideradas “atrasadas”. O afastamento das missões acabou por ser
uma forma de preservarem os seus costumes, honrarem os antepassados e elevarem
a mulher socialmente sem constrangimentos para a sua família. Através da
resistência ao cristianismo e insistência nos seus costumes tornaram os rituais
num fenómeno cultural sólido. Não ignorando a continuidade dos costumes, não
pôde ser evitada uma brecha cultural que possibilitou aos missionários
católicos a facilidade de incorporação de rituais africanos nas suas
liturgias, graças ás politicas de apropriação da cultura dos povos
“purificando-a” mas que ao mesmo tempo descaracterizando-o na sua essência e
simbologia.

Vimos aqui que os valores vão sendo atribuídos aos géneros acabam mais
tarde ou mais cedo de se revestir de um carácter secular com que a sociedade se
auto regula e permite a manutenção das suas estruturas. Igualmente os valores
simbólicos e a religiosidade inerente permitem a cada indivíduo captar a sua
“porção” de cultura de forma a defender-se da anomia que ameaça a coesão
social. Cabe pois aos antropólogos desconstruir e compreender os anseios de
cada cultura no sentido de a preservar. Preservar não é no sentido de quase
obrigar a cristalizar-se no tempo, mas no sentido de compreender as suas
dinâmicas sociais e a forma como respondem a elas. Tendo presente que sexo e
género não significam a mesma coisa e que devem ser tratados com cautela dentro
do seu contexto ou atrevendo-me a apropriar-me da exegese de Turner, não para
explicar símbolos, mas factos sociais.



Escreva o seu resumo aqui.



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