Mortalidade Infantil - O PESO DA CULTURA
(Carlos Rossi; Mega Arquivo)
Nas aldeias vivem, segundo a Funasa, 670 crianças entre 6 meses e 2 anos. Delas, 107 apresentam desnutrição grave ou moderada e 137 estão em risco nutricional. Olhando os números, não parece que o combate à fome seja uma missão impossível. Mas o problema tem inúmeras facetas, uma delas cultural, que a diretora do HU, Dinaci Ranzi, demorou um pouco para entender. Ela conta que uma índia arrombou a janela e levou seu bebê, que era mantido em observação. Mais tarde, uma equipe do HU ouviu dela que cuidaria melhor do filho com ervas. "No hospital, os índios se sentem presos e vivem um dilema: deixar os filhos ou levar para os rituais de curados antepassados?" Portadores de anomalias ou doenças recorrentes são vistos como casos perdidos. "As índias se alimentam, dão comida para as crianças saudáveis e deixam que a natureza se encarregue daquelas que não têm chances de vingar." Uma criança sai do hospital, em geral, com peso acima da tabela. Como nada muda na vida delas, o quadro reaparece. Mateus, 5 anos, está na porta de uma taperinha coberta de plástico e não demonstra o menor apetite diante de um prato de arroz. Seus olhos não têm brilho. Em 2006, passou por uma internação. De lá para cá, nada se alterou. A mãe continua desempregada, o pai desaparecido, o irmão, José, 17 anos, analfabeto, espera a maioridade para tentar uma vaga no corte de cana. Não se ouve a voz de Mateus, que sorri apenas quando a irmã, Débora, 4 anos, lhe traz um gatinho, tão mirrado quanto ele. Não existe água encanada por perto. A Funasa furou poços artesianos, mas eles são insuficientes para abastecer as aldeias. Na crise de 2005, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) distribuiu 9 mil filtros de barro e hipoclorito de sódio a 2,5%. Mas é comum ver crianças levando água em vasilhames de agrotóxicos encontrados na lavoura das fazendas vizinhas. Muitas casas são construídas pelo estado com tijolos e nem todas contam com eletricidade. Sebastião Gonçalves vive com a família às escuras, embora seu nome figure na lista dos beneficiados pelo programa federal Luz para Todos. Selma Montania, a mulher dele, só fala guarani. Diz, e Sebastião traduz, que os sete filhos estão doentes, sem ver carne há um tempão. Tatiana, 9 meses, chora baixinho, com febre. Não há leite em pó nem um grão de cereal na casa.
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