A fantasia lhe caiu muito bem...
(Bruno Ropf)
Era um sujeito feioso, desengonçado. Além disso valentia não era seu ponto forte. Mesmo assim a nova namorada deu-lhe motivos de sobra para mudar o jeito canhestro de viver. Chega o carnaval. Os dois pombinhos viviam um romance apimentado. A moça via naquele mostrengo algo que ninguém, por maior que fosse o esforço, conseguia enxergar. A essa altura, ele se sentia o próprio " princeps civitatis", ou seja, o primeiro dos cidadãos. Preparavam-se para o dia inaugural dos festejos de Momo, naquela cidadezinha do interior. Ela havia sugerido que ele se fantasiasse de capeta e ainda comentava com as amigas: " ele é o meu diabinho " ! - Mas era feio o pobre diabo, mesmo sem fantasia! Com o ego inflado pelas atenções e mimos da namorada, aceitou. Só não conseguiu aumentar-lhe a coragem. Borrava-se de medo. Atingira a maioridade acreditando em mula-sem-cabeça, em todo tipo de assombração, cuca, lobisomem e naturalmente na personagem que iria representar. Ao lado de sua nova paixão era capaz de tudo, ou quase tudo... Foram a um bar. Começaram a beber, por volta das nove horas. Lá pelas dezessete decidiram ir para suas respectivas casas, tomar banho, comer algo e voltar para a farra. No caminho ela lhe disse que tinha uma surpresa, mas só lhe contaria quando fosse chamá-lo mais tarde, pois moravam próximos. Chegando em casa faminto e cheio de "goró", dirigiu-se ao quarto para tirar a fantasia. Vivia numa casa antiga, o mobiliário também o era. Havia armários com grandes espelhos, inclusive no seu quarto. Estava bastante escuro. Acendeu a luz, deu dois ou três passos, viu-se ao espelho, soltou um grito desesperado de pavor: era o chifrudo em pessoa olhando para ele! Permaneceu estático por uns bons dez minutos! Depois, lançou-se para baixo da cama, tremendo feito vara verde. Deve ter desmaiado ou dormido. Acordou com a voz da namorada, chamando por ele no portão. Levantou-se animado com a voz, parecia ter esquecido o susto. Foi apressado até a entrada e eis que ali estava o diabo, chamando por ele. - Esta era a surpresa! Voltou correndo para o quarto. Deparou-se novamente com o demônio no espelho. Jogou-se ao chão, escondendo-se sob o leito. Desta vez gritou pela mãe, que conversava com a vizinha. A mãe chegou rápido, assustada com o chamado. Levantou-se do esconderijo, abraçou-se à mãe e pediu: mãe reze comigo, o demônio não se afasta de mim!... Claro que a senhora caiu na risada, mas mesmo assim orou. Por fim disse: é a sua fantasia. Caindo em si, percebeu o vexame e já ia retirando a diabólica veste, quando a namorada adentra o aposento. Outro susto. Você não acreditou em mim mãe, olha aí, de novo! E é fêmea! Xô Coisa Ruim! "Vade retro" espírito impuro ! O carnaval terminou ali, não saiu mais do quarto.
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