Stresse e Diabetes
(Fisher; Reason)
É, actualmente, aceite que na causa da diabetes mellitus, estão implicados numerosos factores de ordem ambiental conjugados com algum grau de predisposição genética. A Diabetes Tipo II parece ter uma elevada influência genética no seu aparecimento, enquanto que, a Diabetes Tipo I é considerada uma doença auto-imune, relacionada com uma susceptibilidade do indivíduo a determinadas circunstâncias do seu meio envolvente. Por isso, esta última, permite uma abordagem bio-psico-social.
Ainda não existe um consenso, relativamente, a quais os factores ambientais exactos que estão na etiologia da Diabetes Tipo I. Lebovitz (1984), levantou uma das primeiras hipóteses, sugerindo que, haveriam alguns factores externos e circunstanciais, que criariam condições de infecção e destruição das células beta num indivíduo com alguma vulnerabilidade genética. Quando um número significativo destas células beta é destruído, a secreção e produção de insulina está comprometida e é reduzida ao ponto de ocorrer um estado de hiperglicémia ou mesmo de cetoacidose.
Solomon (1988), propõem a hipótese da psicoimunidade, que defende que o stresse psicológico poderia estar implicado num estado inicial da Diabetes Tipo I. O enfraquecimento do sistema imunitário, devido aos efeitos do stresse, poderia aumentar a susceptibilidade do organismo a infecções bacterianas e virais, o que estaria na origem de um estádio primário da destruição das células beta.
Uma outra hipótese sugere, ainda, que o stresse poderia operar, na altura em que a Diabetes provoca os primeiros sintomas. Ou seja, as hormonas segregadas na resposta de stresse poderiam agravar o já existente desequilíbrio metabólico do organismo. Então, o nível de glicose no sangue, que já seria elevado, aumentaria como consequência do stresse, tornando-se a quantidade desta, demasiado excessiva para que fosse regulável.
No entanto, é pouco prudente analisar os resultados à luz de uma relação linear e unilateral, como se de um redutor mecanismo de causa-efeito se tratasse. A conclusão a retirar das hipóteses expostas e, também, dos dados obtidos através dos diferentes estudos realizados, é a de que os acontecimentos de vida, bem como outras situações indutoras de stresse, não seriam a causa directa deste mecanismo de destruição das células beta mas, antes, actuariam como potenciadores, ou seja, apenas acelerariam a manifestação da doença. Estes acontecimentos em si, não estariam na origem da diabetes; teriam, sim, um efeito antecipatório, levando a que a doença se manifestasse mais cedo na vida.
É inegável, que o stresse desempenha uma função crucial na vivência desta doença crónica. Os pacientes com diabetes, manifestam uma maior propensão para serem afectados pelo stresse, como indicam muitos dos estudos realizados. Assim, os diabéticos parecem nomear mais acontecimentos de vida negativos, que por sua vez, são percepcionados como mais dramáticos e mais difíceis de ultrapassar. Estes indivíduos estão mais sensíveis e mais vulneráveis, pelo que têm um pior prognóstico em termos da evolução da doença e das possíveis complicações associadas.
O stresse pode alterar os níveis de glicose na corrente sanguínea, indirecta ou directamente, pela secreção bioquímica de hormonas próprias deste estado. Essa perturbação a nível fisiológico está é indissociável do funcionamente psicológico, pelo que, se pode abordar esta questão de várias formas. Ora, a pessoa sob stresse não se cuida, podendo envolver-se em comportamentos prejudiciais à saúde ou, pode esquecer-se, ou não ter tempo, ou uma infinidade de outras coisas, que desviam a atenção da ua doença, resultanto numa falha em testar os seus níveis de glicose ou planear bem as suas refeições, tanto o horário das mesmas, como a qualidade e a quantidade de alimento. Outro pormenor a ter em conta, prende-se com o papel das cognições, dos pensamentos e das crenças dos sujeitos diabéticos. Os sintomas subjectivos, como são interpretados pelo indíviduo, tanto físicos como psicológicos, o humor e a disposição, também variam e flutuam consoante o nível de glicose no sangue. Mesmo um doente responsável e consciencioso, pode, temporariamente, abandonar a sua disciplina e auto-monitorização durante períodos de stresse.
Como apontam alguns estudos realizados, os efeitos do stress em pessoas com diabetes tipo I, são bastante mais complexos. Enquanto na maioria, o stresse psicológico eleva os níveis de glicose, noutros os níveis podem baixar. Frequentemente, nas pessoas com diabetes tipo II, o stresse parece aumentar os níveis de glicose. Por outro lado, há o stresse físico, (como uma doença ou um acidente, ou uma ameaça real à vida, por exemplo), que por sua vez, aumenta os níveis de glicose no sangue em ambos os tipos de diabetes.
Para algumas pessoas com diabetes, controlar o stresse através de uma terapia de relaxamento, pode ajudar. Produz mais efeitos em sujeitos com diabetes tipo II do que nos indivíduos com diabetes tipo I. Essa diferença faz sentido e explica-se da seguinte forma: nas pessoas com diabetes tipo II, o stress bloqueia a secreção e, consequentemente, a quantidade de insulina; logo, neutralizar, ou antes, minimizar, os efeitos do stresse, traz benefícios. Já as pessoas com diabetes tipo I não produzem insulina; logo, a redução dos efeitos do stresse não tem o mesmo resultado, ou seja, nem sequer tem qualquer influência a este nível. Apesar disso, gerir bem o stresse, pode ajudar indivíduos com diabetes tipo I, a terem um melhor cuidado com a sua saúde, a preocuparem-se e responsabilizarem-se mais pelo seu estado, o que se traduz, a médio-longo prazo, numa melhor qualidade de vida.
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