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Six Brothers And A Fisherman
(JohnLester)

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Outro dia olhava vagaroso à janela. As ondas do mar, revoltadas, invadiam lentamente as calçadas esburacadas da praia de Itaparica. Como os sem terra, pareciam tentar beliscar as garagens dos edifícios. Alguns bêbados sorriam de tudo enquanto curiosos fotografavam o fenômeno. Eu comigo refletia: não seria nada mal se a ressaca arrastasse consigo todos esses quiosques horrendos para bem longe. Procurando respaldar desejo tão politicamente incorreto, listei assim: haveria menos barulho e fetidez nos arredores; naquelas noites mais enluaradas, quando a lua grande me observa inteiro, veríamos menos travestis picando as veias gastas com seringas sujas; talvez as crianças filhas da madrugada parassem de fumar crack diante de nossas agradáveis mesas de varanda. Que bela sensação: quiosques imundos sendo arrastados para o fundo do mar, tijolo por tijolo, cd de axé por cd de axé, tudo escorrendo para as profundezas eternas, colocados sob o imenso tapete de Netuno. Não haveria melhor maquiagem para nossa orla cada dia mais estreita, cada verão mais esmagada entre a fúria das águas e o cimento com aço das construções. O mar só não conseguiria arrastar a enorme sombra que a civilização joga toda tarde sobre a praia de Itaparica, tornando fria a areia e quente a especulação imobiliária.
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Durante meu sonho delicioso percebi quatro meninos correndo pela amarelada areia capixaba. Lembrei então dos Four Brothers, aqueles meninos da ensolarada Califórnia, aquela das fotografias de William Claxton, que brincavam na praia sem cheiro de mar de Malibu. Rogério Coimbra, amigo e sócio do Clube das Terças, pode dizer se estou inventando: ele sabe tudo sobre Los Angeles. As recordações continuavam: lembrei também que, na verdade, os quatro brothers eram seis. A coisa toda começou na década de 1940, com quatro jovens saxofonistas brancos, todos apaixonados pela música de Lester Young, o gênio que recriou a leitura do sax tenor no jazz, afastando-se da grandiosa eloqüência de Coleman Hawkins. Era 1946 e eles tocavam no bar Pontrelli, em Los Angeles. Seus nomes: Stan Getz, Zoot Sims, Herbie Steward e Jimmy Giuffre. Amadurecia assim o caráter cool do west coast jazz. Em 1947 os Brothers, com exceção de Giuffre, foram tocar na famosa orquestra de Woody Herman. Eram três apenas, até que chegaria um novo irmão, o saxofonista barítono Serge Chaloff. Gravaram juntos e obtiveram reconhecimento nacional pelo seu som bastante característico, onde demonstravam um princípio básico do jazz: velocidade e leveza podem caminhar lado a lado. Algumas faixas são clássicas, como Four Brothers, composta por Giuffre para seus irmãos. Em 1948, gravariam outro clássico, Early Autumn, de Ralph Burns. O tempo foi passando e, com a saída de Steward, chega mais um novo irmão: Al Cohn. Feitas as contas, somam seis. Num improviso de imaginação, pude ver uma onda gigante, uma espécie de tsunami capixaba, varrendo o calçadão: sua intensidade onírica seria suficiente para dizimar apenas os quiosques e suas caixas de som made in China. A onda gigante não chegaria a exterminar a massa humana que balança animadamente os quadris desengonçados: bastou-se a fazer com que debandassem foliões assustados para algum lugar remoto, muito distante e adequadamente isolado.
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Depois de tanto sonhar acordado, corri apressado para esse trabalho árduo que é viver da pesca. Por sorte, minha equipe (foto abaixo) tem sido generosa e compreensiva comigo.



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