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Moacyr Peixoto - Coffe & Jazz
(John Lester)

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. Quem disse que os amigos somente nos trazem problemas, dívidas, doenças contagiosas e dores de cabeça? Lá vez ou outra um amigo vem com alguma surpresa boa. Jonnie, um dos sócios mais antigos do Clube das Terças, é um desses que nos trazem mais alegrias que desconfortos. Dia desses aparece Jonnie, reconhecido como o maior comedor de pilhas alcalinas da Praia do Canto – eu nunca soube em detalhes que tipo de prazer ele desfruta com isso, nem mesmo se de fato Jonnie ingere tais artefatos. Como de hábito, surge do nada e dá um forte soco sobre a mesa ocupada pelos demais sócios, sempre reunidos no Centro da Praia, toda terça, por volta das 19h. Todos se assustam, mas nada abala os corações já safenados à mesa. Jonnie vem sempre asseado, com sobrancelhas feitas e um não-sei-quê de quem acabou de sair do banho. Com ele aquele envelope pardo muito pardo, aproveitado dos tempos áureos do Bank Of Boston. Sob a axila sarada e perfumada, o estranho embrulho reluz, já bastante surrado e hermeticamente fechado com espessas camadas de durex. Todos percebem o envelope, analisam discretamente seu volume e forma, fazem suposições silenciosas, mas ninguém se atreve a perguntar sobre seu conteúdo. A reunião prossegue conforme o esperado: ficamos horas e horas observando as mulheres, essas criaturas maravilhosas e enigmáticas que os deuses resolveram produzir com tantas curvas. Após cada desfile, fazemos todos os tipos de comentários sobre elas – percorremos desde o brinco em fios de aço inox, a possível tatuagem de Dumbo na virilha até o salto de sapato assassino de Kitty – tudo isso com o devido intervalo para que cada um dos sócios narre alguma aventura ou vantagem – a maioria delas fictícias e improvisadas. Quando as meninas escasseiam, falamos um pouco sobre economia (nossos baixos salários) e história (fofocas sobre fulana e beltrano). Sobre jazz mesmo, quase nada. Felizmente, Jonnie é um desses poucos sócios que não olham para as lindas meninas que passam sorrindo e rebolando por nós. Jonnie não reclama do valor da aposentadoria e não faz fofoca: Jonnie é um daqueles raros e verdadeiros amantes do jazz, um dos sustentáculos que mantêm vivo o debate sobre jazz nesse clube sucateado pela bílis libidinosa de seus sócios. Ele sempre traz alguma questão nova sobre jazz, reavalia velhos temas e, numa luta heróica e ferrenha para exaltar o jazz, tem recuperado excelentes gravações perdidas em velhos lp's, passando-as para cd's. Foi nesse dia que, ao final da reunião, Jonnie discretamente passa o cobiçado envelope para mim. Faz sinal de silêncio e discrição, como Peter Sellers naqueles filmes de espionagem da Pantera Cor-De-Rosa. Sem saber ao certo o que fazer, corro para o meu carro e, olhando para todos os lados, tremendo e suando frio, abro o dito cujo: dele retiro dois cd's, cada um deles contendo gravações de Moacyr Peixoto, aquele pianista de jazz irmão do Cauby e do Araken. Já tinha lido sobre o Moacyr, sabia que era de Niterói, que aprendeu a tocar de ouvido e que andava pelas noites do Rio e de São Paulo fazendo jazz. Sabia também que gravou pouco, mas gravou bem. Os lp's recuperados por Jonnie, e gentilmente cedidos a mim, eram Coffee & Jazz e Good Neighbours Jazz, ambos lançados pela Columbia em 1958. Aos amigos navegantes, deixo duas faixas de Coffee & Jazz no Gramophone By John Lester, com o excelente sax alto de Casé, além do apoio sólido de Luiz Chaves (b) e Rubinho (d). Coisa de amigo, não é?



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