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Os dez mandamentos do candidato
(Selma Leite)

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O processo eleitoral no Brasil, longe de ser uma disputa de ideologias ou um certame entre cidadãos abnegados dispostos a entregar a vida ao povo, parece uma campanha publicitária. Promove candidatos, em escala industrial, para o mercado. Nas eleições de 2002, identificamos alguns pontos importantes nas campanhas de candidatos bem sucedidos, organizando, assim o decálogo do candidato. Dinheiro: Cada candidato deve declarar um limite de gastos ao registrar candidatura. Os valores variam para a abrangência Municipal, Estadual ou Nacional. A quantia, entretanto para a disputa real, precisa ter muitos zeros e ser, invariavelmente, diferente da declarada. Acesso à mídia: Indiscutivelmente, o poder é da mídia. Através dela escolhemos o que comer, beber, vestir, como criar nossos filhos ou lidar com problemas do cotidiano. Sob a “proteção” dela tocamos nossas vidas. Refugiados da violência urbana, consumimos tudo sem sair de casa. Os candidatos abusam dessa condição de refém que favorece os já conhecidos ou que tenham a máquina pública nas mãos. A exposição na televisão nos enlaça num grau de familiaridade e vários candidatos ascenderam politicamente graças a isso. Uma pesquisa, dias antes das eleições de 2002, revelou que nenhum, dos cem alunos de jornalismo entrevistados, foi capaz de enumerar os candidatos à Presidência. Uns repetiram os nomes mais veiculados, outros alegaram não assistir TV, confirmando a tese de T. W. Adorno: “Só se torna existente ou real, o que é captado pelo brilho do espetáculo midiático”. Bom relacionamento: Bons relacionamentos com donos de emissoras de televisão e outros veículos que se disponham a agir em favor da candidatura, garante, mesmo antes de oficializá-la, uma exposição decisiva para o sucesso de qualquer campanha, somado ao apoio de pessoas influentes como: empresários, artistas ou até banqueiros de bicho. Alianças: As alianças são as esperanças dos pequenos partidos e a estratégia dos grandes. Sobre as regras do TSE para que os chamados partidos nanicos (sem chance real de pleito), que recebem dinheiro do governo (fundo partidário) fossem automaticamente extintos pela não participação efetiva na democracia pátria, caso não obtivessem no mínimo 5% de votos. O Ministro Sepúlveda Pertence esclareceu (Seminário Direito Eleitoral – UCAM 2002): “... de que adianta gastar o dinheiro do governo, se o partido não tem regras e compromisso partidários claros e objetivos que o levem a exercer verdadeiramente a Democracia, servindo como laranjas para se coligarem com outros maiores e somar tempo de propaganda eleitoral, mantendo sempre o status quo”. Assessoria de Marketing: Um “aspirante a candidato” não pode dispensar a eficiente ferramenta que é a assessoria de marketing para produzir sua imagem, seus filmes, jingles, showmícios e outros componentes indispensáveis em qualquer campanha “publicitária”. Aparência: A apresentação visual é fundamental. É preciso estar atento para que a aparência seja agradável ao eleitor. Desde a roupa até o cabelo, tudo deve ser minuciosamente trabalhado para provocar a empatia com o eleitorado. Atitudes populares: A postura na condução da campanha transforma o pobre candidato - que não seja um candidato pobre – em apaixonado e sério cidadão disposto a tudo pela causa humanitária. Assim, como bons “mocinhos”, devem beijar crianças negras, cumprimentar idosos e defender minorias. Propostas e soluções milagrosas: Defender causas perdidas ou esquecidas, muitas das vezes, pelos próprios em campanhas anteriores, se aproveitando dos que choram com dramalhões mexicanos e pela mesma emoção são fisgados, acreditando que dias melhores virão. Discurso: Há uma grande diferença entre programa eleitoral e debate. Noprimeiro, fica visível a existência de ensaios incansáveis e ineficazes. No segundo o tele-prompt (equipamento utilizado pela televisão para passar o texto) não está disponível, entrando em cena a capacidade de discurso e persuasão. Neste “show” os candidatos precisam ter “jogo de cintura”. No “front” do corpo a corpo o enquadramento das câmeras para perguntas e respostas faz diferença. A comunicação - olho no olho - insere credibilidade, o espectador se sente valorizado por ouvir o que, supostamente, lhe interessa. Propaganda: O horário eleitoral confunde mais do que esclarece. Partidos e candidatos se misturam e um grande emaranhado de siglas e números leva o eleitor a se preocupar em decorá-los apenas. Com apenas ¼ dos presidentes da nossa república eleitos pelo voto direto e com toda informação filtrada pela mídia, é natural que esta seja nosso único referencial e não haja cultura de democracia estabelecida. Os candidatos denominados “principais”, de partidos ou coligações de expressão, participam do show de debates e entrevistas. A legislação determina o tempo da propaganda eleitoral, proporcionalmente ao número de bancadas ocupadas pelo partido no congresso, se fosse igual, até os partidos “nanicos” cresceriam. Tempo reduzido na propaganda eleitoral + ausência nos debates = ostracismo. Fernando Neves, Ministro do TSE, no Seminário já citado, nos brindou com a seguinte pérola: “... a lei eleitoral é uma lei de vencedores, quem faz advoga sempre em causa própria, visto que as câmaras são compostas pelos vitoriosos de cada pleito, portanto, se tornando lei o que os favorece. Ela é sui generis, pois nenhuma outra é feita assim, muitas são demandas e clamores da sociedade, visando auxiliar perdedores e excluídos, ao contrário da lei eleitoral”. Diante disso, nos sentimos órfãos e vemos aumentada nossa responsabilidade de saber quem e como queremos que governem nossas vidas. A não ser que queiramos continuar escolhendo nossos representantes em bandejas oferecidas pelo poder, pelo dinheiro e pela mídia formadora de opinião (ou de seres sem opinião), como se fossem mercadorias que já vem com prazo de validade vencido.



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