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A Hora e a Vez de Augusto Matraga
(João Guimarães Rosa)

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Terminada a procissão, começa o leilão com uma multidão encachaçada de fim de festa. Augusto Matraga, o Nhô Augusto que não é Matraga, senão Esteves, filho do Coronel Afonso Esteves, arremata por 50.000 réis uma das mulheres à toa que estavam sendo leiloadas. Foi então que encontrou Quim Recadeiro trazendo um recado de sua mulher, d. Dionóra, para que voltasse para casa.
D. Dionóra conhecia bem o marido sempre com capangas e mulheres perdidas. Sem efeito, era sempre sua oração e promessas com que ela pretendera traze-lo "de volta até o meio do caminho direito". Com a morte do Coronel Afonsão estava cada vez pior com dívidas enormes, política do lado que perde, as terras no desmando...
D. Dionóra conhecera Ovídio e ele era diferente. Tinha uma força grande de um amor calado. Um dia dona Dionóra foi-se embora com Ovídio e a menina. Quim Recadeiro foi avisar Nhô Augusto que mandou chamar seus homens com a intenção de matá-la. Mas eles não queriam mais trabalhar com ele. Major Consilva pagava mais. Quim Recadeiro contou-lhe ainda o que todo mundo estava falando... Por debaixo da raiva resolveu que antes de ir a Mombuca para matar o Ovídio e a Dionóra iria acertar as contas com o Major e os capangas. Entretanto, chegando à fazenda com um simples piscar do Major aqueles homens bateram nele até cansar. Arrastando-lhe depois pelo atalho do rancho, quase que carregado, meio nu e todo picado de faca jogaram-lhe ribanceira abaixo.
Antes do anoitecer, as dores melhoraram mas sentia que o corpo não era seu. Chorou solto e chamou alto "Mãe, mãe..." O Preto que estava sentado o ouviu, chamou a mulher e o levaram para sua casa. Teve vontade de contar suas misérias, mas calou e lamentou: "Se tivesse ao menos a absolvição dos meus pecados". Uma noite, foi lá um Padre com quem confessou e conversou dando-lhe conselhos que o faziam chorar. Na despedida disse: "Reze e trabalhe fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente e às vezes custa passar, mas sempre passa. Você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria. Cada um tem a sua hora e sua vez: você há de ter a sua".
Por lá ficou Augusto Matraga com a esperança de o lado de cá doer menos se Deus quiser... Espantava as idéias tristes e com o passar do tempo tudo foi lhe dando uma nova alegria. Trabalhava sem ganância, no domingo dava folga e rezava o terço com as velhas corocas. Teve notícias que d. Dionóra continuava amigada com Ovídio e pensou que se ficasse sem trabalhar e rezar e só cigarrasse e bebesse recuperaria a força do homem dos outros tempos... Mas era melhor rezer mais, trabalhar mais e escourar firme. Um dia contou tudo a preta, Mãe Quitéria, que lhe disse que fizesse o que o Padre mandou e a tristeza foi de novo indo embora. Até que um dia apareceu no lugar um bando de oito homens e de longe se via que eram uns valentões. Nhô Augusto os convidou para ficarem com eles na casa. E aí, o casal de Pretos em um grande susto, "teve de se afanar num corre-corre de depenar galinhas, matar leitoa, procurar ovos e fazer doces". Joãozinho Bem-Bem percebeu que Nhô Augusto não vivera sempre alí e o convidou para ir com eles. Para Nhô Augusto, aquele convite "era como cachaça em copo grande", tanta vontade teve de aceitar...Mas percebe que estava apegado a sua penitência."Voltar seria como entrar num brejão: pra tras e pros lados sempre dificultoso e se atola sempres mais". E lá ficou. Quase por hábito ia repetindo: "Cada um tem a sua hora e a sua vez e há de chegar a minha vez".
Aconteceu então que mãe Quitéria lhe deu um jegue e Augusto Matraga foi com ele onde o levava. Entraram num arraial, uma agitação assutando o povo, e deparou-se com Joãozinho Bem-Bem que o recebeu com muita satisfação. Levou-o para comer broa com chá de congonha e enquanto isso lhe foi contando que tinha que ajustar um devido a causa de traição. Foi quando entrou um velho que chorava e tremia implorando clemência a João Bem-Bem. Este lhe disse que não podia atendê-lo pois aquela era a regra. E quem lhe iria obedecer se não vingasse sua gente? Nhô Augusto intercedeu pelo velho mas João Bem-Bem não lhe fez caso, apesar de sentir-se preso a ele por uma poderosa simpatia. Nhô Augusto insistiu e Teófilo Suçuarama foi para cima de Nhô Augusto e "a casa matraqueou que nem panela de assar pipoca". Nhô Augusto feriu Joãozinho Bem-Bem que caiu ajoelhado. Foram socorrer nhô Augusto que também se feriu. João Bem-Bem então lhe disse: "Eu sempre lhe disse que era bom mesmo mano velho. Só assim que gente como eu tem licença de morrer. Quero acabar sendo amigo". "Feito" - respondeu-lhe Augusto Matraga - (...) mas agora se arrepende dos teus pecados como um cristão, para a gente poder ir juntos. "Fechou ele então os olhos com um sorriso nos lábios lambuzados de sangue. Antes de morrer disse: "Põe a benção na minha filha... onde quer que esteja. (...) Fala com Dionóra que está tudo em ordem. E morreu".



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