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Os desafios da transposição
(José Elói Guimarães Campos (*))

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Os desafios da transposição
José Elói Guimarães Campos (*)
Em geral, as discussões a respeito da transposição das águas do Rio São Francisco em direção ao nordeste setentrional do Brasil envolvem argumentos ambientais, sociais e políticos e terminam com a clássica pergunta: você é a favor ou contra o projeto de transposição? Como forma de contribuir com o debate, pretende-se aqui abordar o problema a partir de uma visão pouco considerada pelos vários analistas, mas não menos importe. Serão consideradas a avaliação da produção e a regularização hídrica da bacia do rio, além da potencial produção agrícola decorrente da implantação do projeto. Na verdade, o projeto tem por objetivo o desvio das águas do rio em seu submédio curso – desde a barragem de Sobradinho até o remanso do Lago de Paulo Afonso. Mas, infelizmente, não se conhece de forma satisfatória o regime hídrico dessa bacia. Um projeto de transposição deve ter objetivos de longo prazo e, portanto, é fundamental conhecer quais as formas de regularização hídrica da bacia. Assim, será possível prever eventuais modificações do regime de produção hídrica da bacia como um todo. Os interlocutores mais favoráveis ao projeto de transposição argumentam que apenas 2 a 3,5 % da vazão do rio seriam captados. A pergunta que se faz é 2 a 3,5% de água originária de onde? As águas que alimentam o São Francisco são oriundas de dois sistemas de renovação. A renovação anual se dá pelo escoamento superficial das águas das chuvas e a de longo prazo, pela descarga dos reservatórios subterrâneos (aqüíferos). O primeiro sistema apresenta um controle de curto período, controlado pela sazonalidade climática. O segundo representa controle de longo e médio prazos e é controlado pela eficiência e qualidade dos aqüíferos. A distribuição temporal das chuvas é um fator cíclico e, como o período de recessão das chuvas se dá de forma simultânea em toda a área da bacia, um período de alguns anos de baixa média pluviométrica é suficiente para causar escassez e déficit hídrico intensivos. O declínio das chuvas em anos recentes resultou em grande exaustão nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas que operam no Rio São Francisco e mostrou o risco efetivo da escassez do recurso que se pretende desviar. A avaliação da geologia, do relevo e dos solos da bacia indica que o principal manancial responsável pela regularização das vazões do rio no período seco do ano é o Sistema Aqüífero Urucuia, cuja descarga de base representa quase metade da vazão do rio São Francisco a partir de rios como o Rio Grande, Corrente, Gatos, Formoso e outros. Eles tendem a ter vazões regulares mesmo nos períodos secos do ano ou em períodos de alguns anos com baixa precipitação média. Esse fenômeno é relacionado à função reguladora do aqüífero, que funciona como um grande “pulmão hídrico” para a bacia do São Francisco. Entretanto, mesmo com o mínimo conhecimento sobre esse importante reservatório subterrâneo, sua exploração já começa a comprometer o regime hídrico das bacias que alimentam o rio São Francisco. A atividade agrícola intensificada nos últimos 15 anos utiliza em grandes volumes águas dos rios e do aqüífero para irrigação com uso de pivôs centrais. Grande parte do chapadão do oeste da Bahia já está ocupada pela cultura de grãos de sequeiro e pelo cultivo de frutas e café irrigados. Com a natural ampliação desse quadro, as vazões dos principais rios da região e conseqüentemente a regularidade das vazões do São Francisco no período seco do ano deverão sofrer diminuições significativas nos próximos 10 ou 20 anos. Antes de se pensar em investir recursos nas obras de transposição do rio, seria fundamental aplicar recursos para o efetivo conhecimento do Sistema Aqüífero Urucuia e para o controle de sua exploração.



Resumos Relacionados


- Transposição Das águas Do São Francisco.

- A Hidrografia Do Brasil

- Os Climas E Formação De Vegetais

- , Introdução Ao Sistema De Transporte No Brasil: Aduaneiras, 2000.

- Jornal O Tempo



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