Poucas palavras
(Christina Kauschke)
POUCAS PALAVRAS
Daniel, aos 2 anos e 8 meses, serve-se de vocábulos monossilábicos para se comunicar enquanto seus coleguinhas já formulam frases inteiras.Como se mostra normal, e a origem dessas dificuldades é obscura, seus pais ficam preocupados com seu desenvolvimento. Sabe-se que sete por cento das crianças nessa faixa etária sofrem de dificuldade específica do desenvolvimento da linguagem. Denominação usada pelo psicólogo Laurence B. Leonard, Estados Unidos, quando o déficit é único - o que não ocorre em casos de autismo . Somente após descartar todas as dificuldades de linguagem conhecidas é que se chega ao diagnóstico desse distúrbio.Entretanto, muitos pesquisadores preferiram definir o distúrbio evidenciando suas características. Algumas crianças atrasam a fala e, antes dos 3 anos de idade acompanham as outras.Catarina, 5 anos, confundia flexão dos verbos, a posição dos artigos e os plurais e supressão de preposições. Estêvão, de 6, não conseguia encontrar as palavras certas para o que queria expressar. Disfarçava pronunciando de qualquer jeito algumas palavras ou trocando termos ou, ainda, criando vocábulos, como por exemplo, "'boneco de ar' para designar uma pipa"; ou 'vidro para ver', para óculos. Como tinha consciência de sua dificuldade, tentava escapar do convívio social. Isso é dificuldade específica no desenvolvimento da linguagem , segundo estudo na Universidade de Potsdam, Alemanha.
Os pesquisadores sentem-se desafiados pelo fato de essas crianças não apresentarem dificuldades em outras áreas. Há indícios de influência genética, pela predominância do distúrbio em meninos. Em se tratando de gêmeos , há preponderância em univitelinos. Outras razões, porém, podem explicar o transtorno: déficits auditivos e atraso na maturidade auditiva. Algumas pesquisas descartam o argumento da influência do ambiente. Mesmo em ambiente que favoreça o uso adequado do idioma, pode ocorrer o distúrbio. Especialistas acreditam que as perturbações no desenvolvimento da fala surgem "porque a criança aproveita pouco o que ouve". Há casos que comprometem o desenvolvimento da fala, como o de pessoas que crescem convivendo como dois idiomas: 'por exemplo, um menino espanhol que vive com a família no Brasil e mantém pouco contato com brasileiros'. Sua pronúncia em português poderá causar impressão de que há um distúrbio na fala. Faz-se necessário aumentar o contato com a língua portuguesa.
Para Monika Rothweiler, da Universidade de Hamburgo, o multilinguismo só, não compromete o desenvolvimento da linguagem. Entende que os principais motivos são insuficiências de elaborações neurais para representações da linguagem. Isso provoca a lentidão na aprendizagem e, consequentemente, perturbações com o conteúdo adquirido. Em razão do distúrbio, resta promover estímulos linguísticos e persistir no apoio favorecendo a assimilação da linguagem. Na prática, aos 2 anos de idade já possível saber se a criança apresenta atrasos no desenvolvimento da fala. detectada essa dificuldade, o próximo passo é procurar um profissional - fonoaudiólogo, foniatra ou pediatra - que indique um tratamento eficaz. Apesar da atenção dos pais e terapeutas, é possível que pacientes criem mecanismos de compensação como a 'falsa recuperação', usando o idioma de forma discreta e superficial. A redução do problema ao fim da idade pré-escolar pode incorrer em erro por parte dos especialistas e pais. Entretanto, quando a criança já lê e escreve, as dificuldades aparecem. A troca de letras por volta razão para preocupações. Recomenda-se aos terapeutas trabalhar de maneira individualizada. Combinar, ajustar e variar métodos adequando-osa cada situação. Exercícios nos quais a criança desenha representado a escrita; explicação das diferenças fonéticas das palavras e ampliação das manifestações verbais, promovem a superação das dificuldades. Por meio da metalinguagem é possível explicar as relações entre os termos.Após alguns meses de acompanhamento (terapia), Daniel ampliou seu vocabulário e aprendeu a construir frases. A etapa seguinte foi o aperfeiçoamento da pronúncia. Seu desempenho escolar apresentou melhoras. Catarina também progrediu. Aprendeu a reconhecer e empregar regras de sintaxe. Estêvão aprendeu a lidar com a frustração e a raiva que sentia ao procurar a palavra certa.Entende-se que os distúrbios específicos da fala comprometem o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança. Os pais devem procurar recursos o quanto antes para qua a criança sinta-se mais segura.
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