Percepções Etnicas, Etnicidade e Comportamento
(J.C. Mitchell)
A partir de 1950, o Rhodes Livingstone Institute começou a debruçar-se sobre fenómenos em contextos urbanos. J.C.Mitchell foi um dos investigadores pertencentes ao referido instituto, explorou conceitos como tribalidade, etnicidade, e nacionalidade. tentou fazer a distinção entre etnicidade e grupos etnicos, atribuindo ao primeiro uma construção percepcional ou fenómeno cognitivo e os segundos a construção de fenómenos comportamentais. O seu trabalho de campo realizou-se em Livingstone e em Copperbelt, na Zâmbia (antigo norte da Rodésia) nos anos 1951-54. Elaborando dois questionários em contextos diferentes mas utilizando como base os mesmos grupos estudados, descobriu que os aspectos conceptuais e comportamento efectivo registavam por vezes discrepâncias quando sujeitos a alterações contextuais importantes. A ideia que se tem de uma etnia, o que se espera dela, como o próprio grupo a vê e as explicações que são dadas sobre o seu comportamento resulta normalmente numa subjectividade. Os próprios individuos pertencentes a uma etnia nao conseguem dar uma resposta concreta acerca de determinado comportamento, podendo acontecer que sejam apresentadas diferentes razões para determinada actuação ou comportamento. Apesar disso os signos e valores simbolicos são objectivos, cabendo ao individuo fazer a sua própria leitura deles, apropriando-se daquilo que mais lhe convém. Este autor dá-nos também o conceito de distância social, i.e.,o que permite medir a proximidade cultural e os traços comuns que possam existir entre dois grupos etnicos, tentando perceber a forma como os individuos do grupo de veem a si mesmos e aos outros. O questionário já referido (tipo Bogardus) permitiu-lhe encontrar dois factores relacionais que correspondiam a uma distância geográfica ou a uma cultura similar favorecendo a formação de aglomerados, chamou a esses factores unidades de geo-cultura ou geo-etnicidade. A partir dos dados recolhidos construiu um gráfico em que se dá mais ênfase ás distinções culturais do que a um regionalismo delimitado. Estes resultados são apresentados grosso modo pois qualquer grupo pode reivindicar ligações a qualquer outra etnia geograficamente distante, de onde podem ter trazido a sua cultura através das constantes migrações ao longo da história. O mais importante aqui é perceber a consciência que os grupos têm deles próprios e em relação aos outros, pois nao faz sentido falar em etnicidade em culturas isoladas, mas sim num contexto multi-etnico em que o comportamento social é influenciado pelas alterações contextuais. No contexto multi-etnico apresentado pelos tabalhadores das minas e dos caminhos de ferro percebeu um novo fenómeno : a retribalização, o que corresponde a uma nova reorganização social que com o tempo leva á recriação de espaços que reproduzam os ambientes naturais de determinados grupos, reflectindo-se por exemplo na música ou na gastronomia. Mitchell propôs ainda um modelo específico na abordagem á questão da etnicidade e das suas variadas construções. A sua epistomologia compreende quatro itens na sua tentativa de explicar o que é afinal a etnicidade, (i) a construção do senso comum, que consiste em identificar alguém como diferente através de um processo psicológico,construindo-se assim representações colectivas, (ii) a construção do étnografo do grupo étnico, o que implica a construção de um modelo teorico em que os traços comuns são usados para classificar e comparar grupos étnicos mas, dependendo das abordagens e dos processos analíticos utilizados contém um grau de abstacção variavel, podendo ser o resultado final diferente das construções do próprio grupo estudado, (iii) a etnicidade como interpretação de comportamento de senso comum, emergindo neste ponto a categorização étnica, neste caso pode-se falar de uma identidade tribal quando existem elementos captados pela percepção pública, explicando comportamentos observados em determinados grupos. Esta forma de senso comum diferencia-se da primeira pelo facto de quando é submetida a um nível de análise cientifica, mostra ser coincidente com as construçoes dos próprios actores sociais e com as categorias que lhes são atribuidas, ou seja conseguem sobreviver ao rigor epistemologico, (iv) a explanação étnica analitica, cortando completamente com o senso comum, partindo de um conjunto de postulados teoricos, que o analista utiliza na sua explanação para detectar o facto étnico que está por vezes por detrás de outros fenomenos sociais, o que no caso concreto de observação de paises africanos e das suas lutas pelo poder, encobrem muitas vezes um factor étnico que movem os grupos na defesa do seu candidato. Salientando-se o facto de os actores sociais não terem sequer a consciência dessas etnicidade nos seus padrões de comportamento. Podemos concluir,através deste estudo, que os fenómenos cognitivos e a construção de comportamentos são susceptiveis de análise, apresentando para isso uma certa regularidade na sua avaliação dos grupos étnicos.
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