aspectos ligados ao consumo de alcool
(Dr. Fernando Negrão)
O consumo do álcool e de drogas atravessa a História da Humanidade. As drogas e o álcool foram utilizados como remédios capazes de aliviar o sofrimento e de curar certas doenças. No passado, ambas foram também consideradas substâncias capazes de estabelecer a comunicação dos homens com os deuses, através de sacerdotes e chefes, formando alianças místicas misteriosas. Porém, o álcool foi mais longe na sua conotação divina. Desde logo, porque era personificado, em algumas civilizações, por deuses e, apenas, para mencionar os mais conhecidos, por Osíris, Dionísio e Baco. Noutras, o vinho foi associado à «VIDA», como uma bebida propiciadora da imortalidade. No Novo Testamento, encontra-se ligado a dois importantes momentos de Jesus Cristo, nas Bodas de Canaã que marca o início da Sua vida pública e na Última Ceia, em que Ele fica consubstanciado ao pão e ao vinho. Esta sua capacidade de criar alianças, divinas e humanas, tornou o álcool sedutor em algumas sociedades e tempera as relações sociais dos mais diversos estratos sociais. A publicidade não se cansa de nos mostrar a imagem sempre jovem e bonita de quem bebe, reforçando a magia desta substância como símbolo de poder e de sucesso. Esta fascinação entra no dia-a-dia do cidadão comum, como facilitador de relações interpessoais e de integração grupal, porque o vinho faz parte das festas e está sempre presente nos momentos agradáveis de convívio social. Ele é tido como um bom lubrificante social, desinibe e é socialmente bem-aceite. Bebe-se porque se está contente e fica-se «contente» porque se bebeu. Beber em conjunto é um acto social contagiante, capaz de influenciar e de ser influenciado por quantos tomam a decisão de ingerir álcool em momentos de celebração social. Também pode ser um acto individualizado, solenizado em isolamento, quando se bebe para aliviar a desventura e a solidão, sobretudo, para «esquecer» os problemas. O estatuto legal do álcool não o torna menos inofensivo do que as outras drogas ilícitas porque, sendo uma substância psicoactiva, actua no Sistema Nervoso Central, tal como todas as outras. O uso excessivo de álcool, numa noite bem «regada», pode gerar um «blackout alcoólico» ou «coma alcoólico». Levado ao extremo, o consumo pode ocasionar a morte por overdose, além de se ter de admitir que o álcool também mata lentamente. A inocente «cervejinha» é uma droga, se ela não for ingerida moderadamente, de forma episódica e passageira. Inevitavelmente, este aspecto traz à colação o debate sobre drogas legais e ilegais. Excepto nalguns países do mundo árabe, o álcool faz parte da tradição. Os fundamentos históricos, culturais, económicos, sociais, religiosos e morais são normalmente oferecidos para justificar um tratamento diferente para as drogas legais, como o álcool e o tabaco. Esta separação entre drogas legais e ilegais tem sido contestada e serviu para o aparecimento de movimentos a favor da legalização de outras drogas. A própria incongruência do «conceito de droga» favorece muitos destes mal-entendidos, bastando para o efeito lembrar que muitos muçulmanos, por motivos religiosos, proíbem o consumo de álcool, considerado como droga ilícita. Portanto, a atitude pública em relação ao vinho é variável, sendo umas sociedades mais tolerantes do que outras. A grande diferença entre o álcool e as outras drogas ilegais reside no facto de se admitir a existência de um padrão de «consumo responsável» de álcool, isto é, aceita-se o consumo moderado de álcool e condena-se o seu uso abusivo, que conduz ao alcoolismo e aos problemas ligados ao álcool. Porém, o processo gradual da degeneração do uso socialmente sancionado e controlado do álcool para o abuso descontrolado ocorre por motivos vários. Definir o limite individual entre o consumo social moderado e o consumo problemático é uma tarefa difícil. A capacidade de uns e a incapacidade de outros em controlar oseu modo de beber continua a ser um enigma. A síndrome de dependência do álcool, uma doença que se instala progressivamente no organismo, conduz ao aparecimento de uma série de outros problemas ligados ao consumo de álcool, como prejuízos na saúde física e mental e consequências sociais e familiares dolorosas. Quando o consumo do álcool é feito por jovens adolescentes os perigos são acrescidos. A relação que o adolescente estabelece com o álcool é sempre excessiva, não só porque o organismo dos jovens não tem a mesma capacidade de um adulto de metabolizar o álcool, potenciando os seus efeitos, mas também porque, normalmente, os jovens estão longe daquilo que se pode considerar como o «saber beber». Sendo a adolescência um período extraordinário de risco, o beber desenfreadamente, sem regras e sem medir consequências, faz parte do rito de passagem, onde o sentimento de pertença ao grupo se faz paradoxalmente pela integração e pela diferenciação. A capacidade de «suportar» maiores quantidades de álcool é normalmente aplaudida pelos companheiros. Estes excessos encontram-se, por exemplo, patentes nas celebrações académicas da «Semana do Caloiro» e na «Queima das Fitas». Por outro lado, por não fazerem parte das situações convencionadas, os jovens consomem substâncias consideradas ilícitas como forma de contestação ao status quo social e cultural. Em qualquer das circunstâncias, o consumo de álcool ou drogas encontra-se, muitas vezes, vinculado ao lazer ou consumo recreativo. As drogas da noite, da folia e das discotecas, tanto pode ser o álcool, como o ecstasy. Já nas «raves» o álcool é tido como uma droga «fora da moda», até porque se julga que ele reduz os efeitos do ecstasy.
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