O Papalagui
(Tuiavii)
O Papalagui A primeira percepção textual do livro “O Papalagui” é nos dada pelo esverdeado da capa e pelo implante da bandeira em cima do mapa, acompanhada pelos inúmeros objectos que aparecem faccionados. Ora o texto trata-se de uma série de discursos descritivos do comportamento do Papalagui, feito através da personagem principal o chefe da tribo Tuiavii de Tiavéa, o qual é evidente o choque cultural que emerge no confronto de duas culturas desiguais, não só ao nível da sua história como ao nível dos seus valores éticos, sociais e morais. Existe aqui um conflito indiscutível entre a veneração à natureza e a devoção ao progresso, é neste ponto que todo o discurso do autor assenta: o Papalagui profana a natureza com o seu pensar e com o seu agir. Permanece um contínuo desrespeito e desprezo pelos valores mais humildes, mais simples, mais instintivos, aqueles que não provém da razão, mas sim dos sentidos. Além disso, desenraizou-se da natureza mãe para se tornar um projecto de Deus. O objectivo da obra é compreender e interpretar os motivos culturais que levam à discrepância entre a forma como nos vimos a nós mesmos dentro da nossa cultura e como o outro nos vê a nós. O olhar do outro sobre nós implica a nossa submissão cognitiva ao que o outro fora de nós consegue ver que nós não conseguimos visionar nitidamente. Além disso é bastante atraente como o outro nos confronta eticamente com nós próprios. Como as coisas mais evidentes e simples nos escapam, como temos o poder de ocultar o básico e desvendar o obscuro. O Papalagui, ou seja, o homem branco, aparece-nos descrito nos discursos do chefe da tribo com uma singeleza encantadora que nos leva a mergulhar numa complexa reflexão sobre nós mesmos e a imagem que nós transmitimos ao outro. O que somos realmente? Aquilo que pensamos de nós, a percepção que os outros têm de nós ou o que somos e não conseguimos exactamente descodificar? Estas perguntas exaltam-me o espírito, porém perceber como o outro nos vê, perturba-me e remete-me para um outro campo mais perspicaz. Aquilo que alguém tão estreitamente aglutinado à natureza descodifica da nossa essência é estranho e ou mesmo tempo remete-nos através dos seus discursos a desvendarmos a nossa inerente imagem. Este outro questiona-nos, não porque temos uma cultura distinta da dele, mas, porque ele não compreende a nossa capacidade de complicar o simples e idolatrar o complexo como desprezo automático por tudo aquilo que existe de mais simples e nos é concedido pela natureza, ou o obtemos pelo contacto com ela. É bastante curioso como o confronto entre a cultura das duas personagens é iniciada a partir das coisas mais elementares e evidentes, como onde morra, o que veste e o que faz. Este conflito progresso vs natureza que representa a perda de identidade, a parda da essência do ser em quando ser natural, resultante da mãe-natureza e coabitante não só nela, mas com ela no mundo. Em todos os capítulos do livro é notório o choque cultural que o chefe da tribo Tuiavii de Tiavéa sofreu ao entrar em contacto com o Papalagui, os seus enormes valores culturais de ligação à terra, a harmonia como ele vive em equilíbrio com a natureza, o desprendimento da propriedade e o cultivo do culto à natureza, fazerem-no feliz e não compreende como alguém em qualquer parte do mundo consegue viver sem estes princípios. Ao contrário, o Papalagui é um homem que fugiu do passado, desenraizou-se da terra, pendeu-se a mil e um laços invisíveis que o tornou mais débil e angustiado. Assim, é evidente a violenta colisão entre estas duas culturas. Este livro tem um valor muito amniótico, consegue entrar dentro de nós e penetrar a nossa essência. Embora todos saibamos que os diferentes povos têm diferentes maneiras colectivas de pensar, de agir, de sentir e que a sua herança cultural é divergente da nossa. Nós, os Papalaguis não podemos serem tão paradoxos. Teremos de adquirir um relativismo cultural onde deixe de haver raças. Temos de ver o outro como um outro diferente, contudo igual à nossa essência.
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