A megalomania de Freud
(Israel Rosenfield)
Freud
Ando a ler o livro de Israel Rosenfield, "A Megalomania de Freud". Comprei-o num hipermercado, em saldo. Pensei que o valor era tão pequeno, que valia a pena arriscar. Ainda bem que o fiz. O livro é excelente. Dou comigo a pensar: "Freud alterou a sua posição em questões tão importantes?!?! Como é que uma obra destas não é lida? Porque é que ninguém a divulga?"
Eu sou apenas uma leitora vulgar. Nunca dei Psicologia. Sei mais ou menos o que são as teorias de Freud. A resposta à minha pergunta anterior foi dada pelo próprio Freud no seu último manuscrito:
"A prova documental que destrói as verdades há muito aceites tem de ser ignorada."
E que mais diz Freud? Escrevendo a respeito de Eiffel não ter concebido a Torre de Paris e se ter apoderado das ideias e do trabalho de outros (do homem que de facto a concebeu e dos que com ele a desenvolveram), ele diz:
"Ele (o Engenheiro Koechlin) pegou no desenho...disse-me que tinha estado exposto na recente Feira Mundial em Paris, mas que não tinha suscitado qualquer comentário da imprensa, nem, tanto quanto sabia, do público em geral."
Mais à frente Freud explica: "questionar a autoria da Torre Eiffel - um objecto nem de utilidade nem de importância, mas um objecto e um nome que, não obstante, fazem parte das verdades estabelecidas, cuja própria sensibilidade e irrelevância formam parte da espinha dorsal da nossa vontade de aceitar outras verdades muito mais importantes sobre nós próprios e os nossos relacionamentos com os outros - é destruir a nossa confiança na nossa compreensão do tecido social, do qual depende o nosso equilíbrio psicológico sempre tão frágil..."
Para cereja no topo do bolo, transcrevo ainda: "A moralidade é claramente irrelevante para as nossas estruturas sociais e para a nossa estabilidade mental. É a nossa paralisia, não a nossa culpa, que caracteriza o nosso relacionamento com a autoridade; e é essa mesma paralisia que é o único desafio moral e psicológico que podemos colocar àqueles que roubaram o que consideramos justamente nosso. Na verdade, dada a oportunidade, como Koechlin estava prestes a dizer-me que tinha, ficamos paralisados pelos nossos próprios estrangulamentos morais . Não podemos reivindicar para nós mesmos o que nos pertence por direito, porque, para tornar, essas reinvindicações convincentes, temos de fazer aos outros o que nos foi feito em tempos a nós; não é o nosso receio de fazer mal que nos paralisa, mas o nosso receio de que ao fazermos mal pudéssemos não ser bem sucedidos. Aquilo a que chamamos moralidade é em última análise medo, medo de fracassar onde outros nos permitiram pelo menos um pouco de calma psicológica; a moralidade é medo e condena-nos a uma ambivalência psicológica para a qual não há solução."
O livro analisa o comportamento de vários homens poderosos e a forma como esse poder foi exercido. Analisa os comportamentos neurótico e psicótico, a uma luz diferente do que foram as teorias de Freud durante a sua vida inteira. Perto da morte, algo mudou dentro dele. Algo que o fez ver as coisas de outra maneira. E essa maneira, essa nova compreensão, foi ignorada por todos. Sobreviveu o mito. Não posso afirmar que a Torre Eiffel deveria chamar-se de outro modo. Não posso garantir que a tortura dos feridos de guerra tenha existido, ou existido nos moldes descritos no livro. Nem sequer posso afirmar que assimilei a mensagem passada, com exactidão. Mas posso dizer que aprendi algo importante sobre a minha relação com a autoridade.Ensinaram-me a não riscar livros. Porém, quanto mais gosto de um livro mais vontade tenho de o sublinhar e anotar. Risquei este sim. Tinha que riscar.
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