Gil Vicente
(lloret)
O conjunto admirável de pequenas figurinhas do teatro vicentino,recortadas com precisão e nitidez num fundo de graça e de ironia,traça no nosso espírito a visão clara que, nenhum dos severos coronistas da época nos pode dar,da vida íntima da sociedade portuguesa do sec.XV.,desde as tabernas sombrias até aos salões pomposos da corte.Gil Vicente não foi,á maneira de Camões,um cantor de epopeias,glorificador do maravilhoso espírito da raça,cuja visão ainda em parte a sua retina deslumbrada pôde conservar.Menos humanista,compreendendo talvez que,o seu pensamento,como a sua técnica,não poderia unir-se ás regiões onde a sublimidade do génio tocasse o valor"das portuguesas façanhas..,preferiu ser o cronista,subtil e irónico,dos costumes e dos homens do seu tempo,limitando-se a traçar esse pequeninos quadros,cheios de verdade e de beleza,da sociedade portuguesa,em cujo seio ele vivia,e onde estava afinal o germe dessa maravilha epopeia lusitana.Mas a sua linguagem,querepresenta na história da lingua o ponto de transição da forma arcaica para a forma moderna,revela já a influência da renovação que se operou na era fecunda e luminosa dos descobrimentos e conquistas.O mundo poético de Gil Vicente é o mais rico da nossa literatura.É como que uma cristalização do enorme tesouro do folclore peninsular.As velhas cançõers peninsulares que o vento das serras leva e da poesia da Biblia,ora na sua gravidade litúrgica,ora na sua grandeza,ora na sua familiaridade,enrriquecem este conjunto. Poderíamos falar de algo como o Panteísmo na poesia de Gil Vicente,que é como que uma extreorização verbal do cosmos na inesgotável diversidade dos seus acidentes.Dentro deste ângulo de visão teria o maior interesse o estudo da lingua de Gil Vicente.É uma lingua intencionalmente enrriquecida de variantes:as mesmas palavras aparecem ns sua forma arcaica e na forma de corte,na pronúncia portuguesa e na pronúncia hispanizante,e de mistura até por vezes com fraseado latino popularizado pela escola e pelos ofícios religiosos.O culto mariano ocupa um lugar proeminente na obra vicentina e envolve-se até numa espécie de carta de alforria suas crenças religiosas,de modo a salvaguardar a sua crença das insinuações sobre os seus prepósitos pré-reformistas.Os hinos de louvor á Virgem são uma expressão de encanto poético-místico e nunca os dois termos deste binómio tão afins encontram uma aproximação mais perfeita do que aqui.Por vezes o hino a Deus funde-se com o louvor á Virgem,como num dos passos da oração de Santo Agostinho,incluida no Auto da Alma.
lloret
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