Análise de " Uma Branca Sombra Pálida
(Lygia Fagundes Telles)
Análise do conto “Uma Branca Sombra Pálida”, de Lygia Fagundes Telles. O conto acontece entre as lembranças da mãe e o momento presente, deixando clara, a fragmentação dos fatos, como no pensamento, em que os acontecimentos se entrelaçam num bailado de idas e vindas. A mãe descreve sua filha, de 20 anos, como uma criança e a trata o tempo todo como tal, demonstrando insatisfação com algumas das escolhas de Gina, as quais diz dar toda liberdade: “Dei-lhe toda liberdade e se você ainda vivesse poderia ver agora no que deu essa liberdade.” (p. 136). Porém, no clímax do conto, vemos que essa liberdade é condicionada ao que ela acharia o certo, pois em sua conversa com a filha, diz: “Ou ela ou eu, você vai saber escolher, não vai?” (p. 137). Pede a Gina, ou melhor, obriga-a que faça uma escolha que não existem meios de ser feita, pois são amores diferentes sobre os quais seria incorreto consigo mesma se desvencilhar de um, escolhendo assim a morte, a fuga da decisão impossível.A disputa travada pela mãe com Oriana, por sua vez, mesmo após a morte de Gina, através das rosas que são utilizadas para criar uma metáfora entre a luxúria, rosas vermelhas, e inocência, rosas brancas, também mostram que mesmo assim, resistia a aceitar o relacionamento que havia ocorrido: “Ela vem com arrogância das suas rosas vermelhas e me provoca deixando aí o ramo, eu venho com o meu ramo das brancas que espeto na jarra da direita – não era assim antes? Ela mandava as vermelhonas e eu respondia com o brancor dos meus botões.” (p. 133). Com as rosas, também vemos a grande diferença entre os sentimentos que abrigavam Gina; as rosas vermelhas de Oriana, representando a paixão, o desejo; as rosas brancas que lhe mandava a mãe, simbolizando a pureza, uma “castidade”, visto que aos seus olhos era apenas uma menininha: “Que a sagaz Gina tinha o cuidado de não misturar, nessa altura as duas já andavam desconfiadas que eu suspeitava da espécie desses altos estudos.” (p. 133).Podemos observar também que a mãe, apesar de não aceitar o relacionamento da filha com Oriana e chamá-la de drogada em possíveis acessos de tristeza, raiva e incompreensão, descreve a menina de forma delicada: “Seus olhos brilhavam em meios das lágrimas, tem olhos bonitos, e quando sorri, chega a ficar bonita.” (p. 141). Além disso, há sentimentos contraditórios da mãe de Gina para com Oriana, pois ao mesmo tempo em que trava uma guerra através das rosas diz: “Mas logo vai conhecer outra, é evidente. Ao lado das suas ressequidas ficarão apenas as minhas rosas brancas. Difícil explicar, mas quando isso acontecer, esta será para mim a sua maior traição.” (p. 142). Forma e conteúdo caminham de braços dados para elevá-lo ao seu status de literário. Uma característica peculiar do conto é o fato de podermos relacionar o excesso de pontos, vírgulas, períodos pequenos e recortados com a fragmentação das idéias e fatos narrados no texto. “Hoje fui ao tumulo de Gina e de longe já vi as rosas vermelhas espetadas na jarra do lado esquerdo, Oriana veio ontem. Não combinamos nada, mas a jarra do lado esquerdo ficou sendo a dela, a jarra da direita é das minhas rosas brancas. Que já murcharam, as brancas duram menos. Acendi um cigarro. É proibido fumar, eu vi escrito por aí. E o que mais é proibido, viver?” (p. 127) O conto começa com a imagem do cemitério e vai brincando com o tempo até chegar ao seu clímax na p. 137 (já citado anteriormente). O jogo com as palavras, a criação de metáforas (rosas), a existência da onomatopéia “Reparei que o corte era oblíquo e exato, tique, tique...”(p.136), de vocativos, junto com a desordem do tempo em que acontecem os fatos, levam o texto a ter poesia, podendo ser considerado uma prosa poética. Assim como a conversa entre a mãe de Gina e a borboleta na p.131, um misto entre imaginação e realidade, “Deteve-se nas datas, é uma borboleta meio tonta mas curiosa: Quer dizer que tinha só vinte anos? Perguntou excitada, batendo as asas com mais força.” O narrador em primeira pessoa faz o conto parecer ter sido escrito em um diário, dando-lhe um toque pessoal de conversa, talvez consigo mesma: “Apertei a cabeça entre as mãos e fiquei andando, andando sem parar, mas o que significa isso? Será que eu estava enlouquecendo? Fiquei uma esponja de fel? Perguntei em voz e fui para o meu quarto. Experimentei o chão. Era duro para mim, mas na idade delas a gente pode falar em dureza?” p. 135. Portando, não podemos separar sua forma do seu conteúdo na hora de definir os motivos que o tornam literário.
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