Al-Qaeda - ficção e realidade
(Prof. Carlos Amaral Dias)
O mundo ficou uma vez mais surpreendido com as notícias oriundas do Iraque. O "líder" do Estado Islâmico no Iraque, principal grupo sunita filado na Al-Qaeda naquele país, parece nunca ter existido. Quem o revelou foi um rebelde iraquiano capturado pelas tropas norte-americanas em Mossul. Abdul Mahmud-al-Mashadani, que Washington considerou como o mais importante operacional da Al-Qaeda na Mesopotâmia, confessou que Baghdadi não passou de uma invenção. Esta personagem completamente virtual tem até direito a um perfil no site da global security. Desde 2006 que os meios de comunicação social internacionais descrevem este homem como alguém na casa dos 40 anos, iraquiano e, como consta nalgumas informações, opositor do ditador Saddam Hussein. Teria até estado detido às ordens do antigo regímen iraquiano. Mais, Baghdadi seria descendente directo do neto do profeta Maomé, o que só aumentaria a sua auréola no território árabe, nomeadamente o iraquiano. O que parece, é. Ou seja, a criação de uma personagem como líder do principal grupo terrorista sunita naquele país deu origem a factos reais, nomeadamente à "perseguição" por parte do exército norte-americano. Sobre ele escreveram-se as mais extraordinárias coisas. Em Maio passado, várias agências noticiosas anunciaram a sua morte em combate. Baghdadi, cuja criação se terá devido ao facto de ser necessária uma liderança iraquiana para aquele grupo terrorista, constituído por um conjunto de estrangeiros filiados na Al-Qaeda, chegou até a ter direito a um apoio oficial de Zawahiri, número dois da Al-Qaeda. A tratar-se de um embuste, como tudo indica, este deverá merecer-nos a maior atenção. A organização chefiada por Bin Laden serve-se de uma personagem fictícia para liderar a sua maior "filial" iraquiana. Mas o que revela o engodo para além do anedótico? A nosso ver, a extrema maleabilidade do terrorismo islâmico que ultrapassa na sua prática os nossos conceitos de agrupamentos terroristas. Por exemplo, tal facto seria impensável na ETA ou no ex-IRA, cujas lideranças correspondem a humanos com face. O impensável transforma-se, assim, numa realidade que urge perceber. É que a Al-Qaeda, ao contrário de outras organizações terroristas, não precisa já de líderes, pode fabricá-los. O movimento existe de per si, como substância ideológica que não necessita já de rostos, pois que ela mesma já é um rosto na contemporaneidade. A nosso ver, este acontecimento mostra o irrelevante em que se tornou a liderança daquele grupo terrorista. Não sabemos, excepto através de vídeos e notícias na net, se Bin Laden continua ou não a existir, embora qualquer analista político, atento ao que se passa hoje no mundo do terror, perceba que a sua vida ou a sua morte já se tornaram relativamente irrelevantes para as acções da Al-Qaeda no mundo. Bin Laden é hoje cada uma dos milhares de crianças ou adolescentes educados nas madrassas, do Iraque ao Paquistão, a Madrid, Londres ou Nova Iorque. Comentários
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