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Arte VIRTUAL
(Lou Poulit)

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Em menos de duzentos anos a velocidade das transformações da nossa identidade aumentou vertiginosamente, como um cometa, de rumo duvidoso. Na proa dessa nave vai a tecnologia, na propulsão o capital e, no leme, o capitalista. No bojo do processo, a maior mudança pode estar na massificação da informação, que contempla todas as outras mudanças. Mas não seria melhor dizer que está na socialização da informação? Seria sim, se o fosse. Para qualquer obscuro observador, mesmo sem a minha obscura e incontrolável veia crítica de artista plástico, dizer assim não seria lúcido. Socialização, seja lá do que for, sem a priorização do social deve ter outro nome. E o conceito que tem sido posto em prática, não foca prioritariamente a demanda crescente de necessidade pública.Entretanto, independente do conceito e das prioridades “em vigor”, uma mudança interessa particularmente à arte e ao artista, e a sua compreensão deve ser incentivada, estendendo-se o alcance até o bom admirador de arte: a massificação da virtualidade, em especial das suas digitais imagens, a serviço da desinformação lucrativa que nos é oferecida como o que há de melhor, é um dos principais pratos do cardápio tecnológico, que, naturalmente, não é escrito por um artista lúcido.Esclarecendo o termo “virtualidade”, por forma de que todos o entendam do mesmo modo para efeito deste artigo, penso que a melhor analogia vem da física: “Diz-se da imagem que é formada num espelho ou lente, não pelos raios reflectidos!, mas pelo prolongamento destes”, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Então esta é a origem do termo. Para mim é perfeito, até porque permite vislumbrar o cerne da questão. É necessário que se tenha sensibilidade para o processo de sucessivas reflexões, e não apenas para reflexões isoladas. É mais lúcido identificar os sucessivos objetivos que são dissimuladamente agregados e “consumidos” por condicionamento. Porque é assim que mais frequentemente o conceito é degenerado, para favorecimento da meia dúzia que acumula lucros, para prejuízo da sociedade, e por ineficiência do estado e das instituições que se propõem a regular o uso de recursos tecnológicos.Não se deve questionar que seja possível fazer arte virtual, bastando para isso que se flexibilize em algo o conceito “romântico” de arte. Mas será que ela é sempre melhor como arte, apenas por ser virtual e moderna? Ela pode ter expressão artística, transmitir e despertar subjetividade, quer através da discutível criatividade dos “softwares”, quer pelo poder de capturar uma realidade de modo humanamente impossível. Como tecnologia isso é maravilhoso, mas como fica a alma do artista? O superficialismo, o gosto pelo descartável, a preferência por preços pequenos, enfim, o consumismo a que nos deixamos levar, tende a velar os olhos da alma consumidora, de artistas e admiradores, para virtudes outras, menos tecnológicas. Apesar de se ter feito presente desde o berço da intelectualidade, como meio de transmissão de idéias, sentimentos, e de padrões comportamentais, não é presumível que a arte tenha no futuro o seu papel degenerado impunemente. A rigor, o benefício imaterial da arte depende menos dos recursos materiais utilizados para produzí-la, e seria no mínimo coerente, salvo para os que vejam nela uma alternativa de lucros fáceis, uma postura menos consumista, menos imediatista e mais zelosa de nós mesmos. Ainda podemos, apesar do fortíssimo condicionamento que recebemos desde a infância, resguardar as boas coisas tradicionais, cujos resultados são bem conhecidos, inclusive a longuíssimo prazo. Podemos ser mais criteriosos e menos predatórios em relação aos produtos artísticos, à autêntica criatividade da alma (os programas não as têm!), e à arte em que não se usurpe o mérito criativo para favorecer o acaso ou o “randomicismo”. Podemos ser mais lúcidos, a respeito do que fazemos, e entender que, queiramos ou não, fazemos parte de um processo evolutivo de amplitude muito maior que a nossa vidinha humana particular. E que a fórmula mágica do capitalismo moderno e predatório, passando pela substituição de conceitos e pela fabricação de preferências populares, não tem que ser necessariamente aplicada à arte e aos demais produtos da alma.Portanto, caso no próximo fim-de-semana você se decida a admirar pinturas e esculturas produzidas por suores e calos psico emotivos, ou ir a um espetáculo de dança, ou preferir um recanto sossegado para ler poesia, com certeza qualquer dessas alternativas (além de muitas outras não virtuais) lhe fará muito bem. Você estará resistindo, sem que isso lhe faça mal. Mas caso, em vez de admirar a arte de outros, você prefira construir sua própria arte, ao custo dos seus próprios suores e psico emotivos, então você estará perto de transpassar o limite humano médio da criatura, e logo poderá vislumbrar o quanto lhe seria possível partilhar o espírito da arte, na condição de criador! E descobrir depois, mesmo que passem muitos anos, que as suas criaturas artísticas lhe serão sempre fiéis.Talvez a perspectiva pessoal que você tenha para sua alma até seja melhorada, pela simples canalização da energia cósmica da arte, que é a mesma do tempo da criação do universo e que produz a comunhão de incontáveis criaturas por todo ele. Mas, com muita segurança, isso já estará acontecendo, caso você se preocupe em educar mais de pertinho as suas crianças, em termos do uso que elas fazem do computador que você pôs na mão delas. Escreva o seu resumo aqui.



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