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Princípium Somniferum
(Milton Silverman / Trad. Monteiro Lobato)

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Princípium somniferum Em 1799 Frederico Wilhelm Sertuerner começou sua aprendizagem de quatro anos na farmácia real da pequena cidade alemã de Paderborn. Dois penosos e desagradáveis meses se passaram, até que um dia, lá dos fundos, Cramer o chamou. O rapaz foi. - Estou vendo se descubro o meio de medir o teor de acido benzóico da tintura de funcho. Tem alguma idéia a respeito?... - Claro que tenho Herr Cramer. E depois da tintura de funcho veio o estudo do borax, e da noz de galha, e do carvão animal, e do tanino, e da porcentagem de salitre na beterraba. Era o começo da pesquisa de laboratório, coisa que Cramer nunca fizera antes. E foi assim até que certa manhã o próprio Frederico propôs uma pesquisa. - Herr Cramer, disse ele, já ouviu falar da pequena Anna Wollenberg? - A filhinha de Frau Wollenberg? Que aconteceu? - Oh, algo terrível estava brincando perto do fogão e a mãe derramou-lhe uma chaleira de água fervendo em cima. Queimou-se toda, a coitadinha, na cara, nos ombros, nos braços. Passou a noite inteira gritando de dor - e isso é horrível. - Deus do Céu! exclamou Cramer. E não chamaram o médico? - Oh, sim, o Dr. Schmidt esteve lá e deu-lhe ópio, muito ópio, mas de nada adiantou. - Não fez efeito? - O Dr. Schmidt diz que com certeza nós erramos - demos qualquer outra coisa em vez de ópio. - Impossivel! Eu mesmo aviei a receita. Lembro-me de haver descido da prateleira o frasco de ópio. - Frederico o que tem a dizer sobre o ópio? Sertuerner tomou o frasco da prateleira e derramou sobre a mesa um montinho de pó, perguntando: - Que é isto, Herr Cramer? - Ópio, está claro. - Puro? - Certamente que puro. Não quimicamente, contestou o aprendiz. É uma mistura de coisas, continuou. Há neste pó vários óleos e sais, e talvez alguns ácidos e ainda mais coisas. - Acha que todas estas coisas são necessárias ao ópio para que ele revele as suas propriedades dormitivas e aliviadoras da dor? - Ignoro-o, Frederico. Não sei. - Penso, Herr Cramer, que nesta salada de coisas de nome ópio, uma só faz efeito. Logo, se uma cataplasma de ópio não produz efeito, é que não há nela bastante dessa coisa essencial. E se a dose de ópio é forte demais, isso quer dizer que há nela excesso dessa coisa essencial. Cramer aprovou de cabeça, lentamente, e o rapaz prosseguiu: - Muito bem. Se pudermos extrair essa coisa essencial e por fora o resto, ficaremos com o que importa. Poderemos usá-la com a maior precisão e de modo que não prejudique o doente. - Escute, Frederico, talvez eu saiba o que você está querendo dizer. Você falou na existência de qualquer coisa neste ópio. Como sabe que há qualquer coisa? Já a viu? Já a tocou? Já a provou? Não. - E não poderíamos tentá-lo, Herr Cramer? - Não. Eu não vou meter-me nisso. Escute: ainda que haja essa qualquer coisa, não sabemos como descobrí-la. Se existe, levará anos para ser descoberta. É muito perigoso e não sei por que não gosto . Noites e noites o novo farmacêuticorealizava experiências novas, conforme as idéias lhe vinham. Até que uma dessas idéias deu resultado. Ao dissolver certa quantidade de ópio num ácido, processo simples que já usara meses antes, ele ponderou sobre o que sucederia se aquela solução ácida fosse neutralizada pela amônia alcalina. Pegou o frasco de amônia e cuidadosamente despejou-a na solução de ópio, a qual se aqueceu, reação da amônia com o ácido, depois resfriou. Como se um mágico houvesse entrado em campo, a solução transparente se fez opaca: uma vegetação de cristais brotou no fundo do recipiente. - O ópio é pardo e estes cristais são cinzentos, observou Sertuerner. Logo estes cristais não são de ópio... - Não importa, aconselhou Cramer. Escreva uma comunicação científica e mande, ao professor Trommsdorff. Sertuerner sentou-se á mesinha e escreveu uma simples carta ao grande Trommsdorff, da Universidade de Erfurt. Descreveu a substância encontrada. Meses passaram e Sertuerner a estudar aquilo antes que a intuição de verdade lhe viesse. Por fim descobriu uma coisa sem sentido, deveras desnorteante: o que havia nos cristais era um alcali! Nada da amônia alcalina que ele usara em seu processo extrativo. Era alcali que devia existir incorporado ao ópio bruto, embora, de acordo com todos os livros da época, as plantas e os derivados das plantas não contivessem alcalis. E aquele novo composto, aquele alcali, produzia sono, como Sertuerner verificou em ratos, gatos e cães, experiência feita muito escondida. Certa noite depois de todos recolhidos, Sertuerner tomou um pouco daqueles cristais, brancos, brilhantes, sem cheiro, e dissolveu-os em xarope para disfarçar o gosto amargo. A dose escolhida foi de cinco grãos; o cachorro dormiu dois dias e depois morreu. Sertuerner reduziu-a á metade, e um segundo cachorro também morreu em estado de coma. Novas experiências com doses cada vez mais baixas, até que acertou o ponto.. Logo, aquele cristal branco era o que na massa parda de nome "ópio" fazia dormir. Era a qualquer coisa tão procurada! E concluiu: Essa substância é o elemento narcótico específico do ópio... Princípium somniferum". Um jovem farmacêutico de apenas 23 anos havia revelado o mistério do ópio, havia descoberto um método, um processo de extrair os princípios ativos das drogas brutas.



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