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Modernidade e ambivalência
(Zygmund Bauman)

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Segundo o autor Bauman (1999, p. 9), a definição de ambivalência é a “possibilidade de conferir a um objeto uma ou mais categorias”. Desta forma, ela é uma desordem na função nomeadora da linguagem e, ao mesmo tempo, um aspecto normal da prática lingüística. Enquanto, classificar é, de certa forma, o ato de eliminar a casualidade. O homem tem um profundo interesse em manter a ordem no mundo e, para tanto, utiliza-se da linguagem para sustentar a ordem e suprimir o acaso e a contingência. Desta forma, tem como propósito, a prevenção da ambivalência. O ideal seria a formação de um mega arquivo que contivesse todos os itens do mundo, mas é, justamente a sua inviabilidade, que torna a ambivalência inevitável. Todo ato de classificação é uma operação de inclusão / exclusão, um ato de violência contra o mundo, que requer uma certa dose de coerção. Neste sentido, o ato coercitivo de encaixar destrói a ordem e, produz a ambivalência. Assim, esta luta se torna tanto autodestrutiva quanto autopropulsora. O mundo divino da ordem não conhecia a necessidade, nem o acaso, apenas “era um mundo”, que não pensava em como ser e, por isso, tornou-se obsoleto, levando a morte. Surgindo do seu âmago a modernidade, que tinha em seu postulado, a sociedade como uma criação humana desligada do dogmatismo religioso anterior. Uma sociedade que, antes de criar “outro mundo”, recriou “o outro” em seu próprio mundo, possibilitando, assim, a coexistência recíproca da ordem e do caos, da clareza e da confusão. O caos definido como o outro da ordem é a própria negação desta, são pares complementares interdependentes. Assim, a prática moderna esforça-se em exterminar a ambivalência, produzindo, cada vez mais, resíduos ambivalentes. O estado empenha-se em definir, classificar, mas tudo o que lhe escapa a esta classificação ordeira é subversivo, violação da lei, ambivalência. A consciência moderna sempre revela novas camadas de caos, critica, adverte e alerta. Na oposição, a cultura turbulenta e vigilante se opõe ao governo, que é ambivalente e complementar a este. É a própria modernidade que força a oposição cultural e cria a ambivalência, ou seja, complementando-se a essa, são as duas faces da mesma moeda que se constroem mutuamente na e pela história. Nessa última, há a ilusão de um destino no horizonte, enquanto este parece distanciar-se a cada passo tendo como único ponto fixo, a própria partida. Neste universo, a linearidade do tempo estica-se entre passado e futuro desnudando o obsoleto presente, vivendo um futuro antevisto e um passado histórico, sem se dar conta da própria existência. A modernidade tem como objeto a clareza, que significa o final da história. Como a história não terá fim, a ambivalência perpetuará com ela. A modernidade fragmenta o mundo tentando a tão almejada governabilidade, acreditando na grandiosa visão da ordem que emerge, como fênix das cinzas, vendo-a como um prêmio pelos esforços zelosos em fragmentá-la. Nesta luta, porém, o mundo teima em não se fragmentar, enquanto os poderes que o oprimem se fragmentam. Assim, nasce a confusão como fruto da luta pela clareza. A solução de um problema cria outro e reproduz a ambivalência, o caos é gerado na atividade ordenadora, a ambivalência é o outro da ordem. Enquanto a ordem tenta definir um mundo geométrico o “outro” aponta um mundo deselegante, que foge dos padrões geométricos, ou seja, o “outro” é a própria ambivalência, o refugo da modernidade, o caos desordeiro, o anverso do verso. A ambivalência é o último estágio da humanidade, é a coexistência da diversidade, da aceitação do “outro”, do estranho, da alteridade e o próprio palco da peça chamada pós-modernidade. A ambição consumista é “outro” do Estado planejador e responsável pela sua fatal calamidade. O Estado protetor é o responsável pelo infortúnio dos seus súditos e suas políticas são transformadas na causa óbvia do sofrimento. O mercado de consumo, sua principal criação, é também o seu pior veneno. Os produtos do mercado são excludentes, ambivalentes. A tolerância promovida pelo mercado fragmenta, ao invés de unir, e, a solidariedade anunciada por ele se desfaz. A sua mais representativa criação é também a maior fraqueza.



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