Homem Cordial
(Sérgio Buarque de Holanda)
O patrimonialismo é uma forma de poder exercida por uma autoridade com características particulares. Essa autoridade utiliza-se de seu poder pessoal para usufruir e legislar a coisa pública da maneria que melhor lhe convém. No Brasil, o patrimonialismo enraizou-se devido à implementação de uma forma de governoscom características oriundas da formação familiar. A esfera da família em que estão o aconchego e as formas emotivas de tratar ao próximo, foram levadas à esfera do Estado, gerando uma confusão entre aquilo que é privado e o que é público.Segundo Sérgio Buarque de Holanda, o brasileiro criou-se dentro de um núcleo familiar, acentuadamente patriarcal e trouxe para o meio público esses traços que o fizeram indivíduo. Nesse contexto, destaca-se sua dificuldade em desvincular-se dos laços familiares a partir do momento em que se torna um cidadão. Ele leva consigo essa formade tratamento cordial, em que ele precisa criar uma intimidade com aqueles que se relaciona. Tal intimidade entre os homens chega a ser desrepeitosa, o que possibilita chamar qualquer um pelo primeiro nome, usar o sufixo "inho" para as mais diversas situações e até mesmo colocar santos de castigo.A família, nesse caso, é quem fornece parâmetros à formação do Estado. Os homens públicos são moldados no círculo doméstico, em que laços sentimentais e familiares são transportados para o ambiente do Estado, é um homem que tem o coração como intermédio de suas relações.O Estado, porém, não é uma gradação da família e, sim, uma descontinuidade e oposição a ela. O Estado, para formar-se como tal, precisa superar a ordem doméstica e familiar, trocar a relação emocional pela racional em favor de um distanciamento do particular para o geral. O homem público tem a missão de legislar pelo bem comum e não pelo seu próprio ou de quem o cerca.A progressiva urbanização levaria o brasileiro a atingir certa consciência da necessidade de separar as duas esferas, resultando em um melhor envolvimento com as questões da ordem pública. A partir da abolição da escravatura, o desenvolvimentoto nacional não esbarraria com tanta força as questões privadas contra o advento de um novo estado de coisas que se faria inveitável. A superação do homem cordial aconteceria pela própria evolução da história. A passagem de uma sociedade arraigada em uma estrutura ruralista e colonial para um urbanizada, calcada no trabalho industrial, levaria o homem a rever seu papel dentro desse novo contexto e, assim, vencer as características particulares do âmbito coletivo,Com a chegada de um acelerado processo de urbanização, as características patrimonialistas do Estado brasileiro permaneceram. O governo republicano, com o objetivo de manter a estabilidade e a tranquilidade para negociações com o exterior e implementar um novo pacto de poder, procurou tirar poder dos militares e reduzir o níevel de participação popular. O governo cooptou as ligarquias a fim de formar sua sustentação política, governando por cima da população, que era vista como obstáculo à implementação do novo regime.De acordo com José Murilo de Carvalho, esta nova forma de organização das instituições, com nomeações e sem um eleitorado a quem a administração tivesse que prestar contas, abriu espeção para os arranjos particularistas, que implicam corrupççao, além da exclusão da grande massa dos assuntos políticos. A herança patrimonialista permanece embora haja a transição de uma sociedade ruralista e colonial para uma mais urbanizada.O homem cordial ainda é uma tradição que impera nas relões entre cidadão e Estado. A sociedade esbarra na dificuldade de enxergar uma separação entre esses dois entes, o que faz que o clientelismo e a troca de favores ainda sejam relevantes no processo político brasileiro. Tal situação só será superada pela conscientização dos cidadãos e por uma maior participação da sociedade civil.
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