Triste Fim de Policarpo Quaresma
(Lima Barreto)
Conhecido como major Quaresma, Policarpo é um funcionário civil do Arsenal da Guerra. Suas atitudes metódicas e corretas, ao longo de toda a vida, fazem com que seja tido, entre os vizinhos, amigos e colegas de trabalho, como uma espécie de padrão de respeitabilidade e confiança.
No entanto, o major começa a agir de modo estranho. Ele é um patriota apaixonado, defensor do povo e das tradições do Brasil. Movido por esse sentimento, ele resolve aprender a tocar modinhas, música das nossas raízes. Adquire um violão e passa a ter aulas do instrumento com Ricardo Coração dos Outros. O professor, músico talentoso e sensível, torna-se seu melhor amigo, mas a vontade de aprender um instrumento tão popular abala sua reputação.
A essa se segue uma sucessão de idiossincrasias, que parecem cada vez mais comprovar a “insanidade” do major aos olhos da população do bairro – São Cristóvão.
O fato é que, depois de trinta anos de meticuloso estudo e de paciente meditação sobre a grandeza e superioridade do Brasil frente aos outros países, o major resolve concretizar em obras as suas idéias.
Por um lado, tal ideal o distancia do conformismo em que se arrastam os burocratas e militares reformados – pessoas mesquinhas, medíocres e incompetentes – que povoam o romance. Por outro, desencadeia a sua perdição. No seu primeiro grande arroubo nacionalista, ele envia ao congresso Nacional um requerimento solicitando a adoção do tupi-guarani como língua oficial do Brasil. Isso o torna alvo de comentários jocosos nas ruas, nos meios burocráticos e na própria repartição onde trabalha.
Mas Quaresma não se deixa intimidar. A firmeza de propósitos constitui um de seus traços peculiares. Passa a receber as visitas chorando e gesticulando (segundo ele, é assim que fazem os índios goitacás). E, por descuido, manda ao comandante-diretor da repartição onde trabalha, um oficio de rotina redigido em língua indígena.
Esses atos confirmam as suposições gerais sobre sua loucura e Quaresma é internado num hospício. Ali permanece por seis meses, mantendo inalteradas as convicções nacionalistas que o movem. Agora restam apenas dois amigos realmente capazes de entendê-lo e respeitá-lo: sua afilhada Olga (filha de seu compadre Coleoni) e o violeiro Ricardo Coração dos Outros.
O ideal de preservar as tradições e costumes do país dá lugar ao de operar uma reforma na agricultura. Esse novo objetivo marca a segunda fase da trajetória do major Quaresma. Acompanhado por um empregado de confiança (o negro Anastácio) e por sua irmã solteirona, Adelaide, ele se muda para o Sítio do Sossego. Ali pretende levantar seu ânimo, que fora duramente abatido na convivência com a alienação mental, e demonstrar como é produtiva e rendosa a terra brasileira.
Engajado neste projeto concreto, Policarpo o planeja e avalia com obstinação, sempre preciso e meticuloso. Lê todos os livros sobre agricultura, compra todos os instrumentos e máquinas do mercado e, finalmente, começa a pô-lo em prática. Ele mesmo pega na enxada e trabalha durante todo o dia.
Mas uma nova decepção o aguarda, apesar de todo o seu empenho. A comercialização dos produtos rende-lhe um lucro irrisório. Formigas formam exércitos para destruir sua produção. E, pior do que tudo isso, ele chega à conclusão de que os trabalhadores rurais brasileiros são apáticos e destituídos de espírito de solidariedade. Sem falar que as politicagens da cidade são iguais ou até piores no interior.
Um fato histórico transposto para a literatura vem interromper a experiência rural de Policarpo, já fadada ao fracasso: explode a Revolta da Armada contra o governo do marechal Floriano Peixoto. Policarpo, defensor árduo do “Marechal de Ferro”, envia-lhe um telegrama de solidariedade. Em seguida, deixa o Sítio do Sossego para participar da luta armada contra os rebeldes.
Aqui já nos aproximamos do desfecho do romance: a visão idealizada que Quaresma cultivara a respeito de Floriano vai sendo abalada, na medida em que testemunha as atrocidades e injustiças cometidas por seus soldados.
Sem qualquer conhecimento a respeito de guerra, o major vai à frente de batalha, mas logo é repreendido, por causa de sua condescendência para com a tropa que chefiava.
Quando o governo consegue a vitória, Quaresma já reconhece que Floriano é um ditador sem nenhum interesse pela pátria. Em vez de se unir ao coro dos bajuladores e oportunistas, escreve uma carta ao governo reclamando das arbitrariedades ocorridas com prisioneiros da Revolta, que são executados sem julgamento. Acaba preso por crime de alta traição e é condenado à morte.
Numa triste ironia, o regime que Policarpo Quaresma defendera de maneira tão entusiasta acaba responsável pelo seu “triste fim”. O único patriota sincero presente no romance é sumariamente sacrificado, como um traidor da pátria.
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