A Tortura da Carne
(Leon Tolstoi)
Eugênio era um rapaz responsável, bondoso e trabalhador. Quando faleceu seu pai, ele herdou uma grande propriedade agrícola no interior e um monte de dívidas. Foi com a mãe, Maria, morar na fazenda e pôs-se a trabalhar com afinco para fazer com que ela voltasse a ser lucrativa. Investiu em novos equipamentos, fez parcerias com os proprietários da região e, logo, já tinha a riqueza da família mais uma vez assegurada.
Na fazenda, Eugênio lia bastante, andava à cavalo, ajudava os empregados em algumas de suas tarefas. Mas, como fosse um rapaz jovem e saudável, logo começou a sofrer com a solidão e com a falta de companhia feminina. No início, conseguiu se controlar, mas, em pouco tempo, a abstinência sexual passou a parecer-lhe uma tortura. Cada vez mais, Eugênio reparava na beleza de algumas das camponesas da região e só relutava em se envolver por causa da diferença social. Além disso, queria manter o respeito junto aos empregados.
Um dia, Eugênio chegou ao limite dessa situação. Confessou a um velho e simpático empregado da fazenda, Danilo, o problema estava enfrentando e perguntou se ele não poderia lhe arranjar um encontro secreto com alguma camponesa. Danilo conhecia a mulher perfeita: Stepanida. Ela era bonita e não se negaria a um encontro com o patrão, desde que ganhasse algum presente. Eugênio concordou e, a partir de então, passou a se encontrar com Stepanida em uma cabana no meio do mato.
A camponesa era uma mulher atraente, sensual, mas, para Eugênio aquele era um envolvimento puramente sexual, sem nenhum tipo de compromisso. Ainda mais porque Stepanida já era casada com o pobre Mikhail, um comerciante forte e bonito, mas que estava sempre viajando e deixando Stepanida sozinha.
Durante alguns meses, Eugênio manteve Stepanida como amante. Então, ficou conhecendo Lisa, uma prima em segundo grau que viera visitar a fazenda. Lisa era doce, frágil, amorosa. Logo, Eugênio se apaixonou. Afastou-se totalmente de Stepanida e pediu Lisa em casamento, convite que foi aceito com grande felicidade. O casamento aconteceu e Eugênio passou a viver tranqüilamente ao lado da esposa, da mãe dela, Bárbara, e de sua própria mãe, Maria.
Algum tempo após o casamento com Lisa, Eugênio ficou sabendo que Stepanida estava grávida. Foi um choque para ele que fez tudo para acreditar que o filho era do marido de Lisa, Mikail. No fundo, porém, Eugênio sabia que havia grande possibilidade dele mesmo ser o pai da criança.
As preocupações de Eugênio diminuíram quando ele soube que Lisa também estava grávida. Interessado no filho “legítimo”, por algum tempo Eugênio esqueceu a existência do filho bastardo. Infelizmente, porém, Lisa sofreu um aborto, deixando toda a família infeliz. O filho de Stepanida, por sua vez, nasceu bonito, saudável e, em pouco tempo, a jovem camponesa já tinha recuperado sua antiga e bela forma.
Eugênio, desconfiado de que a esposa era estéril e obcecado por conhecer seu filho com a camponesa, reaproximou-se de Stepanida, voltando a consumar o adultério. Logo, os encontros na cabana da floresta voltaram a acontecer com regularidade. Ele se sentia culpado por trair uma esposa “perfeita” como Lisa, mas o apelo sensual de Stepanida era irresistível.
Meses depois, Lisa ficou grávida de novo. Dessa vez, obedecendo os cuidados indicados pelo médico, nasceu uma menina saudável. Eugênio sofria porque desejava ser fiel unicamente à família legítima. A amante e o filho bastardo, porém, não lhesaiam da cabeça, tornando-se uma obsessão. Progressivamente, Eugênio passou a tratar mal a esposa e a filhinha, a ponto da presença delas se tornar insuportável para ele.
Tolstoi termina o conto de forma trágica. Eugênio considerou que era impossível terminar seu casamento “perfeito” e assumir que amava uma camponesa. Isso significaria magoar Lisa profundamente, enfrentar Mikail, o esposo legítimo de Stepanida, e ir contra todas as normas sociais da época. Veio-lhe à mente a possibilidade de assassinar uma das duas mulheres. Se Lisa ou Stepanida morressem, tudo se tornaria mais fácil. Sabia, entretanto, que não teria coragem para realizar o crime. Por esse motivo, Eugênio pegou um revólver e suicidou-se com um tiro na têmpora. Ninguém pôde compreender porque um homem estável, trabalhador e “feliz”, tinha se matado. Mas o título do conto dá a resposta: ele não tinha suportado a tortura da carne.
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