Grupo de Estudos
(Luiz A. G. Cancello)
O psiquiatra Humberto fazia parte de uma Sociedade de Psicologia. Uma vez por semana, se encontrava com outros cinco integrantes da Sociedade para reuniões culturais, onde discutiam os mais diversos assuntos.
Num desses encontros, foi trazido um Filósofo como convidado. Enquanto tomavam café, o Filósofo começou a falar sobre o Pós-Modernismo. Nenhum dos psicólogos estava compreendendo muito bem (afinal, não era a área deles), mas todos fingiam entender tudo, balançando a cabeça em total concordância.
A certa altura, o Filósofo começou a falar do Princípio de Razão Suficiente de Leibniz. Humberto sabia que seus colegas, assim como ele mesmo, nada sabiam do assunto e irritou-o ver todo mundo concordando e tentando dar palpites sobre o assunto.
Saindo da reunião, Humberto ficou obcecado pelo assunto. Durante vários dias, leu tudo o que encontrou publicado sobre Leibniz. Mergulhou não apenas na teoria, mas na própria biografia do filósofo. Soube que ele nunca se casara, soube que livros ele lera na infância, onde estudara, os cargos que ocupara, seus problemas familiares e de saúde, como fora a sua morte, tudo.
No próximo encontro com os membros da Sociedade de Psicologia, Humberto venceu sua timidez e começou a apresentar o resultado de suas descobertas. Todos fizeram, novamente, o mesmo movimento de cabeça que faziam para o Filósofo, além do sorriso compreensivo de quem já sabe de tudo, ouvindo a explicação do outro por mera condescendência.
Aquilo irritou profundamente Humberto. Ele perguntou se aquelas informações já eram todas de domínio público. Tudo o que obteve dos colegas foi uma leve acentuação do esgar no canto dos lábios.
Irado, Humberto disse: “Está bem, acho que sou o único ignorante nesse grupo de sábios.” Então, rasgou suas anotações e comeu os pedaços de papel picado, irremediavelmente louco.
Hoje, Humberto vive num hospício e acredita piamente que é Leibniz em pessoa.
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